Novos sensores aerotransportados para mapeamento estão aterrissando no mercado. De carona, vem o desenvolvimento de aplicações inéditas da tecnologia digital de ponta.

Para desvendar os inúmeros detalhes técnicos dessas novas máquinas – muitas das quais já em pleno uso – a InfoGEO entrevistou Valther Xavier Aguiar, diretor técnico da Esteio Engenharia e Aerolevantamentos S.A., uma das maiores empresas do setor no País.

A Esteio acaba de comprar dois novos sensores aerotransportados fabricados pela Leica Geosystems: o Sensor a LASER Aerotransportado de 150kHz – ALS50 e o ADS40 – câmara ou sensor digital aerotransportado, capaz, segundo Aguiar, de captar imagens com resolução de até cinco centímetros.

O diretor conversou com Emerson Granemann sobre a tecnologia e os benefícios que os novos equipamentos trazem ao mercado dos aerolevantamentos.

InfoGEO: Por que investir em uma câmara aérea num momento em que muito se fala de imagens de satélite de alta resolução?
Valther Aguiar: As imagens de satélite serão complementares às imagens aéreas por muito tempo ainda. O diferencial atribuído às imagens de satélite foi sempre devido à resolução espectral e não à geométrica. O novo sensor adquirido por nossa empresa tem estas duas características: altíssima resolução geométrica e multiespectral, além de ainda não ter as restrições das imagens de satélite.

IG: Quais foram as opções consideradas para a aquisição da câmara aérea digital?
VA: Os principais sensores comerciais de grande formato foram considerados em nossa escolha. Desde 2001, a Esteio permanece atenta à evolução desses sensores com a participação em eventos e discussões com especialistas do mundo todo. A escolha não foi tão difícil, mais difícil foi saber o momento da aquisição.

IG: Quantas câmaras digitais já existem no mundo e o que este momento tem de especial para que seja iniciado o uso desta tecnologia?
VA: Cerca de cem sensores comerciais digitais já existem em operação no mundo. Estima-se que são 900 as câmaras aéreas baseadas em filme ainda em uso. Ou seja, os sensores digitais de grande formato ocupam 10% do mercado de imageamento aerotransportado. A projeção é que até 2010 este percentual ultrapasse os 25%. Isso prova que a tecnologia já evoluiu o suficiente.

IG: Por que a escolha recaiu sobre um sensor linear e não o “frame”, ou quadro, que seria semelhante às câmaras aéreas analógicas atualmente em uso?
VA: Um dos motivos está na pergunta: precisamos sempre oferecer mais opções aos nossos clientes. Esse é atualmente o único sensor comercial capaz de coletar bandas pancromáticas e multiespectrais com a mesma resolução geométrica. Outro motivo é que acreditamos que é o sensor mais amadurecido tecnologicamente, e ainda porque é o tipo que já vem sendo empregado em grande escala no mundo todo.


-> Aguiar e uma reprodução do ADS40

IG: Pode citar um exemplo?


-> Sensor ALS50


IG: Os preços dos serviços irão diminuir?

VA: Sim, desde que analisado em conjunto com os benefícios e vantagens que os novos produtos trarão aos usuários.

VA: Só nos EUA há treze sensores iguais ao nosso; no mundo, são mais de quarenta. Grande parte da superfície territorial norte-americana – "berço das imagens de satélites" – já foi imageada com esse sensor aerotransportado na resolução de um metro. Vários outros bons exemplos poderiam ser citados.

IG: Os serviços prestados pela Esteio a partir de agora serão apenas com câmara digital?
VA: De forma alguma. Nosso grande investimento não foi para substituir nossas câmaras atuais. Continuaremos também oferecendo o vôo baseado em filme, que é ainda uma ótima opção.

IG: As câmaras aéreas analógicas ainda continuarão sendo fabricadas?
VA: Já ouvi rumores de que não por muito tempo, talvez por mais um ou dois anos. As vendas já são menores que as das digitais. Mas acredito que enquanto houver compradores, as câmaras baseadas em filme serão fabricadas.

IG: Por que a expressão “câmara aérea analógica” é comumente evitada no mercado?
VA: No mercado, a expressão "analógica" via de regra é interpretada como desatualizada. No caso de câmaras aéreas baseadas em filme isto não é verdadeiro, pois elas ainda terão vários anos de utilização garantida. Partes dessas câmaras mais modernas, como as famosas RMK-TOP da ZEISS e RC-30 da LEICA, são utilizadas também nas câmaras aéreas digitais. A expressão "câmaras aéreas baseadas em filme" também é usada pela comunidade internacional.

IG: A que você atribui os rumores de que a ADS40 será a primeira câmara aérea digital comercial a ser utilizada no País?
VA: Alguns sensores digitais não-comerciais, fruto de pesquisas e desenvolvimento, os não-fotogramétricos ou de pequeno formato continuam em fase de testes. Alguns, todavia, estão em uso no País.

IG: Por analogia às câmaras fotográficas digitais, qual seria a resolução em megapixels desse sensor?
VA: Trata-se de um sensor linear, uma concepção bem diferente das câmaras tradicionais. Seria o equivalente a 10 câmaras de 144 megapixels fotografando simultaneamente. Embora ambos tenham lentes e sensores CCD, são muito pouco comparáveis. O ADS40 tem outras tecnologias muito importantes associadas, como sistema inercial, GPS, plataforma giro-estabilizada, lente telecêntrica de altíssima resolução, trichroid, etc..

IG: A precisão final do produto é a mesma entre as câmaras digitais e de filme?
VA: Sim, pode-se obter produtos com a mesma precisão com as duas tecnologias. Com o sensor ADS40 é possível obter também produtos mais rápidos e com outras classes de precisão e preços que até então não eram possíveis. Surgirão com isso novos tipos de produtos e aplicações, principalmente com as bandas infravermelha e RGB verdadeiras.

IG: O sensor laser será também o primeiro no Brasil?
VA: É o primeiro no Brasil e o segundo no mundo com freqüência de 150kHz. Porém, será o quarto sensor a laser em operação no País – o segundo da nossa empresa. Desde 2001 a Esteio realizou levantamentos laser em mais de 15 mil km².

IG: Por que adquirir um segundo sensor laser?
VA: Porque atualização tecnológica é uma questão de sobrevivência. O novo sensor representa o estado-da-arte em laser, opera com maior altura de vôo e maior freqüência de pulso em relação a todos os anteriormente  fabricados. Isto traz grande flexibilidade para os nossos futuros trabalhos e clientes.

IG: Existem outras inovações técnicas no ALS50 em relação aos outros equipamentos similares? VA: A indústria de equipamentos para perfilamento a laser sofre um avanço tecnológico muito semelhante à indústria de informática. Alguns dizem que a Lei de Moore (que afirma que um equipamento sofre um salto tecnológico a cada 18 meses) se aplica a este setor também. O ALS50 traz melhorias significativas na qualidade planimétrica e altimétrica, maior número de retornos de pulso e intensidade, menor consumo de energia na aeronave, maior flexibilidade na operação, menor custo de manutenção e outras vantagens para o provedor e usuário de dados laser.