As Reservas Naturais Rio Cachoeira e Serra do Itaqui, localizadas no litoral norte do Estado do Paraná, são de propriedade da organização não-governamental Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), e têm como finalidade a conservação da biodiversidade e mitigação do efeito estufa a partir da captura de dióxido de carbono em processos de restauração florestal.

Para alcançar os objetivos dessas reservas naturais e do trabalho nelas desenvolvido é necessário planejamento, execução e monitoramento de uma série de atividades. O documento técnico que norteia este trabalho é o Plano de Manejo das Reservas, que foi construído no período entre 2002 e 2005. Para sua construção, uma das principais ferramentas utilizadas é o Sistema de Informações Geográficas (SIG), que espacializa, organiza, planeja e monitora as informações geradas como forma de tornar o grande volume de dados legível aos diversos participantes do processo.

mapa de trilhas e vegetação da reserva natural Rio CachoeiraComo base para o desenvolvimento do Plano de Manejo, foram gerados dados das áreas das Reservas (16.000 ha, se somadas) e de seu entorno. A geração desses dados, em escala 1:10.000, foi composta por ortofotos coloridas, mapeamentos de vegetação, de solos, de geologia e geoambiental, hidrografia e relevo, além de outras análises resultantes desses dados. Para fazer a gestão de todo este conjunto de informações, a SPVS contou com seu próprio laboratório de SIG, o Labsig.

Com o início das atividades do Plano de Manejo, diversos técnicos especialistas em várias áreas de conhecimento passaram a fazer uso dessa base de dados para suas pesquisas, incrementando e gerando novos dados. A primeira fase do Plano, a de diagnóstico, fez enorme uso dessa base e gerou todos os novos dados em linguagem compatível com o SIG existente, como por exemplo, os dados de fauna, flora, uso da terra, arqueologia, trilhas e ameaças à conservação das regiões naturais (Figura 1).

Figura 1: <-
Mapa de trilhas e vegetação da reserva natural Rio Cachoeira

Todas estas informações necessitavam ser espacializadas e correlacionadas, sendo realizadas diversas oficinas de trabalho com o envolvimento de técnicos, pesquisadores, funcionários de campo e consultores, em que as informações geradas pelo SIG eram projetadas em uma tela, discutidas e interpretadas pelos participantes.

Um dos produtos de destaque, gerado ao longo das oficinas, foi o conjunto de dados de “Pressões”, em que pontos eram inseridos no SIG, cada um acompanhado de informações tabulares como tipo de ocorrência, monitoramento, características, intensidade (numérica, entre 0 e 3) e data. Foram gerados conjuntos sobre vários temas, como assoreamento, caça, espécies invasoras, extração vegetal, pesca e poluição.

Ainda, ao longo das oficinas, foi realizado um estudo para a definição da importância de cada ambiente em relação à conservação da biodiversidade. Neste processo, a partir de um quadro relacionando tipo de cobertura vegetal e relevo predominante, adicionaram-se pontuações para cada combinação segundo o olhar de cada especialista. Ao final, criou-se uma média simples dos valores (Figura 2).

Mapa de importância de ambientes com parte da tabela de valores
-> Figura 2: Mapa de importância de ambientes com parte da tabela de valores

Com as discussões realizadas e os dados associados ao mapeamento digital em SIG, foram gerados novos mapas e produtos que seriam úteis para o planejamento do manejo das reservas.

Na fase seguinte, a de planejamento, foram cruzadas todas as informações existentes na base e as coletadas no diagnóstico, criando relacionamentos entre os dados de forma que cada pesquisa realizada influenciasse na análise do conjunto. Como resultado principal, foi produzido o Zoneamento das Reservas: um mapa, ou dado temático espacial, com informações alfanuméricas atreladas, que apontavam, dentro das reservas, quais regiões deveriam ser destinadas à cada atividade ou norma, seguindo as características do meio específicas para cada zona (Figura 3).

Classes

Zoneamento da reserva natural Rio Cachoeira
-> Figura 3: Zoneamento da reserva natural Rio Cachoeira

Com a implantação do Plano de Manejo, a partir de 2006, a SPVS seguirá as orientações do documento gerado, efetuando as ações previstas e criando um programa de monitoramento desta implantação, novamente com base em um SIG, visando alcançar os objetivos planejados.

A SPVS

A Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) é uma instituição do terceiro setor, que tem como missão “trabalhar pela conservação da natureza, através da proteção de áreas nativas, de ações de educação ambiental e do desenvolvimento de modelos para o uso racional dos recursos naturais”.

Fundada em 1984, em Curitiba (PR), a SPVS já desenvolveu mais de uma centena de projetos em vários estados do Brasil. Hoje, sua atuação é dirigida às áreas de florestas com araucária e campos naturais e na região de Guaraqueçaba, litoral norte do estado do Paraná – área que está inserida no remanescente mais conservado da floresta Atlântica brasileira. Entre suas iniciativas estão ações de educação ambiental, conservação do papagaio-de-cara-roxa (espécie ameaçada de extinção) e esforços de recuperação e proteção de áreas naturais remanescentes.

A APA de Guaraqueçaba

A Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba, mesmo protegida por lei, historicamente vem assistindo à degradação de suas áreas. Atividades econômicas incompatíveis com a conservação da natureza e falta de políticas públicas adequadas e de fiscalização são algumas das razões para que isto ocorra. A APA de Guaraqueçaba acolhe pelo menos 10 espécies de aves ameaçadas de extinção, assim como uma espécie de primata, o micoleão-de-cara-preta. Cerca de 130 espécies de mamíferos e 535 de aves habitam a região, inclusive espécies migratórias, como o gavião tesoura. Os 313 mil hectares da APA de Guaraqueçaba consistem em floresta ombrófila densa (montana, submontana, aluvial e de terras baixas), estuários, baías, ilhas, mangues e planícies litorâneas. Ou seja, uma alta diversidade de ambientes.

Ricardo Wodzynski
Técnico geoprocessamento e desenho industrial
Coordenador de Labsig

rick.lela@ig.com.br.

Ricardo Miranda de Britez
Biólogo
Coordenador do projeto de restauração da floresta Atlântica
Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS)
cachoeira@spvs.org.br