Os Sistemas de Informações Geográficas (SIG) são sistemas que realizam o tratamento computacional de dados geográficos ou georreferenciados. Estes sistemas permitem a representação, armazenamento e manipulação de dados gráficos (cartográficos, com localização na superfície da terra) e não-gráficos (atributos descritivos, alfanuméricos), integram diferentes tecnologias e dados de variadas fontes, fornecem operações e ferramentas para consulta e análise espacial, além de gerência e visualização para estes dados. (CÂMARA, 1995; LISBOA FILHO e IOCHPE, 1996; CASANOVA et al, 20005).

A diversidade de áreas de aplicações onde a tecnologia dos SIG podem ser empregados facilita a análise e a tomada de decisões em diferentes esferas da atividade humana, refletindo a atual importância destes sistemas no processo de gerenciamento, análise e suporte à decisões. Alguns exemplos são: auxílio a planejamento de redes de infra-estrutura (água e esgoto, energia elétrica, telefonia), cadastramento territorial urbano e rural, sistema de informações turísticas, controle de tráfego aéreo, serviços de atendimentos emergenciais, planejamento agropecuário, gerenciamento de bacias hidrográficas, controle do extrativismo vegetal e mineral, gerenciamento costeiro e marítimo, diagnóstico ambiental, controle de queimadas, estudos de modificações climáticas, planejamento de marketing, pesquisas sócio-econômicas, localização de imóveis e muitos outros.

Os dados espaciais, geográficos e outros provenientes das tecnologias de Geoprocessamento, a cada dia que passam, têm cada vez mais necessidade de serem corretamente representados, armazenados, gerenciados e visualizados. O SPRING é uma plataforma de integração e manipulação de dados geográficos, desenvolvido com tecnologia nacional na Divisão de Processamento de Imagens (DPI) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos/SP. Este sistema opera como um banco de dados geográfico, suportando um grande volume de dados (sem limitações de escala, projeção e fuso), mantendo a identidade dos objetos geográficos ao longo de todo banco. (DPI-INPE, 2006a). É a ferramenta SIG que foi utilizada para o desenvolvimento da visualização das rotas e registros dos atendimentos médicos realizados pela Força Aérea Brasileira (FAB), através das Linhas do Correio Aéreo Nacional.

Correio Aéreo Nacional (CAN)

Junto à sua missão-fim e constitucional que é voar em defesa do espaço aéreo brasileiro, a FAB realiza atividades de cunho social fundamentais para milhares de brasileiros, em especial em regiões carentes, através de missões de evacuação aeromédica, ações de saúde preventiva e sócio-educativas, campanhas, manutenção de escolas e projetos educacionais para crianças e adolescentes. Ao longo de várias décadas, o CAN tem executado esse trabalho de integração das regiões mais afastadas e possibilitado a presença da ação governamental em todos os cantos do País. Muitas vezes, são nas asas das aeronaves da FAB que são transportados remédios, médicos e víveres para comunidades indígenas ou ribeirinhas isoladas. O apoio a estas comunidades, em especial às indígenas situadas na Região Amazônica de difícil acesso, vem sendo realizado há décadas pelo Comando da Aeronáutica (OLIVEIRA et al, 2006).

Iniciado em 12 de junho de 1931 com o vôo inaugural que ia do Rio de Janeiro a São Paulo, o Correio Aéreo Militar (CAM), transportou malotes dos correios e telégrafos, e após 10 anos, em 1941, foi transformado em Correio Aéreo Nacional (CAN). Nessa época já expandia suas rotas para a Amazônia e foi de fundamental importância no processo de desenvolvimento social e econômico nacional. As missões do CAM realizadas na Amazônia objetivavam a defesa da região e o treinamento das equipes que lá operavam. Para isso, o Correio Aéreo Militar tinha como estratégia a integração territorial pelo ar, unindo as populações nativas ou civilizadas do Estado Brasileiro (LORCH, 2000). Muito mais do que um serviço postal, médicos e enfermeiros passaram a compor as tripulações, e enquanto o piloto ou o mecânico entregavam os documentos e mercadorias, os médicos atendiam a população, muitas vezes à sombra das asas da aeronave. Nos últimos três anos foram realizados 105 mil atendimentos médico-odontológicos só na Amazônia Ocidental, proporcionando saúde e cidadania àquelas populações, que muitas vezes, só percebiam o Estado com a chegada do CAN (BRASIL, 2007).

A partir da década de 50, quando o CAN começou a operar na região amazônica, suas linhas seguiam os principais rios da região, atingindo 93 localidades com freqüência semanal, quinzenal e mensal, através das suas 14 rotas. Na década de 90, o CAN deixou de operar, e foi reativado em 06 de Abril de 2004, durante as comemorações dos 73 anos do Correio Aéreo Nacional. Nesta nova fase do CAN, uma equipe com especialistas na área de saúde percorre, mensalmente, várias cidades do interior da Amazônia (BRASIL, 2004). Atualmente, o Centro do Correio Aéreo Nacional (CECAN) gerencia 24 postos CAN, espalhados pelo território brasileiro (BRASIL, 2006). O novo modelo de operações do CAN, além de seguir os moldes do original, ou seja, levar atendimento médico e remédios, também previu o transporte de enfermos para hospitais com mais recursos e a ocupação de assentos vagos nos aviões para os cidadãos que precisarem viajar nas asas da FAB.

Missões do CAN-AM

Com a reativação das atividades do CAN, inicialmente apenas os Estados do Acre e Amazonas foram beneficiados com as novas rotas. Em janeiro de 2004 foi feita uma missão de reconhecimento pelo interior destes Estados, que serviu para avaliar as condições de cada uma das pistas de pouso e as áreas de manobra das aeronaves (SILVA, 2004 apud OLIVEIRA et al, 2006). Em 05 de abril de 2004 foi feita a primeira missão, saindo da cidade de Manaus, no Amazonas, em direção a cidade de Rio Branco, no Acre, e percorreu a rota entre Rio Branco, Manoel Urbano, Feijó, Tarauacá, Marechal Thaumaturgo e Cruzeiro do Sul, com duração de sete dias. Atualmente, a Amazônia conta cinco Linhas CAN (Juruá-Madeira, Alto Solimões, Expresso, Rondônia e Roraima).

a) Linha CAN Juruá-Madeira

Criadas no ano de 2004, as Linhas Amazonas/Juruá (que atendeu as cidades de Juruá, Carauari, Itamarati, Eirunepé, Envira, Ipixuna) e Acre (Manoel Urbano, Feijó, Tarauacá, Marechal Thaumaturgo, Cruzeiro do Sul/Santa Luzia/61 Bis), juntas, atenderam nos anos de 2004, 2005 e até o mês de abril de 2006, 10.209, 18.054 e 4.687 pessoas respectivamente (SERSA 7, 2007a). A partir de maio de 2006, passaram a se chamar Juruá-Madeira e Alto Solimões. Atende os municípios de Urucurituba, Novo Aripuanã, Apuí, Pauiní, Envira e Itamarati, no Estado do Amazonas e Manoel Urbano, Santa Rosa do Purus, Marechal Thaumaturgo e Cruzeiro do Sul, no Estado do Acre. Ate até dezembro de 2006 atendeu mais 9.449 pessoas, e nos meses de janeiro e fevereiro de 2007, 1.557 pessoas (SERSA 7, 2007a).

b) Linha CAN Alto Solimões

A Linha CAN Alto Solimões atende os municípios de Alvarães, Santa Isabel do Rio Negro, Japurá, Santo Antônio do Içá, São Paulo de Olivença, Juruá e Anori, todos no Estado do Amazonas. Nos meses de maio a dezembro de 2006, foram efetuados 5.473 atendimentos e 537 no mês de janeiro de 2007 (SERSA 7, 2007a).

c) Linha CAN Expresso

Criada em 2005, com a denominação de Linha CAN Purus, atendeu as cidades de Tapauá, Canutama, Lábrea, Pauiní e Boca do Acre, no Estado do Amazonas e a cidade Rio Branco no Estado do Acre. No ano de 2005 e até o mês de abril de 2006, levou atendimento à 9.805 pessoas (SERSA 7, 2007a). A partir de maio de 2006, a Linha CAN Purus passou a se chamar Linha CAN Expresso, percorrendo mensalmente os municípios de Tapauá, Canutama, Lábrea e Boca do Acre, nas margens do Rio Purus e Guajará, Ipixuna, Eirunepé e Carauari, todos no Estado do Amazonas, além de Feijó e Tarauacá, no Estado do Acre. Foram registrados apenas 33 atendimentos a partir do mês de maio de 2006, e nenhum nos meses de janeiro e fevereiro de 2007.

d) Linha CAN Rondônia

A Linha CAN Rondônia teve sua inauguração entre os dias 16 e 20 de junho do ano de 2006, beneficiando as regiões do Estado através de atendimento especializado aos municípios de Buritis, Guajará-Mirim, Costa Marques, Vilhena, Rolim de Moura e Machadinho do Oeste, com origem e término das missões no aeródromo de Porto Velho (OLIVEIRA et al, 2006). Foram atendidas nessa primeira missão 773 pessoas (SERSA 7, 2007a).
Segundo Nogueira (2006) apud Oliveira et al (2006), o secretário de saúde do Estado de Rondônia, Milton Moreira, informou que o projeto seria realizado mensalmente, priorizando um município por dia, com expectativa de que o número de cidades atendidas e o tempo de permanência em cada uma fosse ampliado até o fim do ano de 2006. Informou ainda que o Estado disponibilizaria os equipamentos, medicamentos, materiais odontológicos, uma assistente social e uma terapeuta ocupacional durante a realização dos serviços, enquanto a FAB participaria com a equipe formada por médicos e especialistas, além do transporte aéreo. Porém, nos relatórios de missões realizadas e arquivos de estatísticas recebidos do Serviço Regional de Saúde do Sétimo Comando Aéreo Regional, de Manaus, em Março de 2007, constavam como Canceladas as missões de julho a dezembro de 2006. E apesar de no documento de Previsão de missões CAN 2007 a Linha CAN Rondônia fazer parte deste, não havia informações quanto aos meses de janeiro e fevereiro de 2007.

e) Linha CAN Roraima

Foi realizada em 28 e 29 de setembro de 2006, uma Missão Precursora para a Linha CAN Roraima, que gerou um relatório com as condições das pistas de pouso disponíveis nos municípios de Vila Tepequém, Vila Surumú, Maloca Serra do Sol (área indígena), Uiramutã, São Luiz do Anauá, São João da Baliza, Caroebe e Santa Maria do Boiaçú, todos no Estado de Roraima (XAVIER, 2006).

Duas missões da Linha CAN Roraima foram realizadas no mês de novembro de 2006, uma no período de 08 a 10 e outra no período de 10 a 15. Na primeira, foram atendidas as cidades de Caroebe, São João da Baliza e São Luiz do Anauá, num total de 481 atendimentos efetuados. Na segunda, os atendimentos foram feitos às populações das Malocas Serra do Sol, Caramambatai e Manalai, havendo um total de 478 atendimentos. Não há qualquer estrada de acesso a estas aldeias acessíveis apenas por helicópteros ou aviões. Nesta missão, a FAB transportou engenheiros para recuperar uma antiga pista de pouso c com apenas 500 metros de comprimento, viabilizando esta nova Linha CAN. Foram registrados ainda 185 atendimentos no mês de dezembro de 2006 (SERSA 7, 2007a).

Assim como a Linha CAN Rondônia, a Linha CAN Roraima também faz parte documento de Previsão de Missões CAN 2007, porém não havia informações de atendimentos realizados nos meses de janeiro e fevereiro de 2007.
A Figura 1 apresenta quatro das cinco Linhas CAN que realizam missões na Amazônia.

Rotas das Linhas CAN-AM
Figura 1: Rotas das Linhas CAN-AM
Fonte: SERSA 7, 2007b

Dados do CAN

Os dados utilizados para desenvolver a visualização no SPRING foram fornecidos pelo Serviço Regional de Saúde (SERSA) do Sétimo Comando Aéreo Regional (VII COMAR), em Manaus/AM, através do Major-Brigadeiro do Ar José Eduardo Xavier, no mês de março do corrente ano. Estão disponíveis em meio digital distribuídos em planilhas, arquivos de texto e algumas figuras.

As planilhas compõem-se de estatísticas e quantidade total de atendimentos efetuados em cada missão das Linhas CAN nos anos de 2004 até fevereiro de 2007; quantidade de missões ACISO3 e Missões de Misericórdia – MMI4 realizadas nos anos de 2004 até 2006; da relação da tripulação e dos profissionais de saúde que compunham a equipe de cada missão realizada nos anos 2005 e 2006; e dos quadros de Previsão de Missões nos anos de 2006 e 2007. Os arquivos de texto contêm os relatórios das missões precursoras do Estado de Rondônia e de Roraima, no ano de 2006; os relatórios de algumas missões ACISO realizadas no ano de 2006 e os relatórios finais de algumas das missões das Linhas CAN realizadas no ano de 2006, que contém um detalhamento maior acerca das atividades, contendo período da missão, localidades atendidas, equipe participante, as parcerias com os governos locais, relato cronológico dos atendimentos, algumas fotos feitas por membros da equipe, quantitativo de atendimentos por especialidade médica e as MMI efetuadas durante a missão CAN. As figuras contêm a visualização das rotas e das cidades atendidas sobre uma imagem com a divisão territorial dos estados do Amazonas, Acre e Rondônia. Serão utilizados na visualização apenas os dados das missões CAN realizadas nos anos de 2006 e 2007.

Modelagem do Banco de Dados Missões do CAN-AM usando UML-GeoFrame

UML-GeoFrame

O GeoFrame é um framework5 conceitual desenvolvido na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que serve de base para a modelagem de aplicações de SIG, fornecendo um diagrama de classes a partir das quais as classes do domínio da aplicação são modeladas (especializadas), auxiliando o projetista nas primeiras etapas da modelagem conceitual dos dados e também na especificação de padrões de análise em de bancos de dados geográficos. O GeoFrame oferece um conjunto de estereótipos (mecanismos de extensão dos construtores da linguagem UML, que permite ao projetista definir novos construtores e a utilização dos mesmos na elaboração de diagramas UML) específicos, para possibilitar a obtenção de esquemas de dados de fácil entendimento por parte dos usuários, ou seja, o GeoFrame estende os construtores da linguagem UML. Os mecanismos de abstração da UML que são utilizados na abordagem UML-GeoFrame são Classificação, Instanciação, Generalização, Especialização, Associação, Multiplicidade, Agregação, Composição, Pacote e Estereótipos. A Figura 2 mostra o Diagrama de Classes do GeoFrame para um modelo de dados geográficos.

Diagrama de Classes
Figura 2: Diagrama de Classes do GeoFrame
Fonte: Lisboa Filho, 2001

Classes do Diagrama de Classes do GeoFrame

Segundo Lisboa Filho (2001) as classes TEMA e REGIÃOGEOGRÁFICA são a base das aplicações geográficas, pois objetivam o gerenciamento e a manipulação de dados sobre uma determinada região de interesse, especificando-se assim, para cada região uma coleção de temas. Essas classes funcionam como um mecanismo de redução da complexidade quando se trabalha em grandes esquemas, permitindo ao projetista dividir o esquema em subesquemas coerentes, agrupando as classes fortemente relacionadas e formando uma hierarquia de temas. Os temas são representados através do construtor Pacote da linguagem UML.

A classe OBJETONÃOGEOGRÁFICO engloba os objetos que não possuem referência com relação a uma localização geográfica e também os dados referentes àqueles fenômenos georreferenciados, com ou sem representação geoespacial. São tratados como instancias de subclasses desta Classe. Na classe FENÔMENOGEOGRÁFICO estão generalizados quaisquer fenômenos que considerem sua localização em relação à superfície terrestre. Os objetos desta classe podem se relacionar com os objetos da classe OBJETONÃOGEOGRÁFICO.

Nas classes CAMPOGEOGRÁFICO e OBJETOGEOGRÁFICO, o projetista especifica os fenômenos que se enquadram na visão de campos e de objetos geográficos, respectivamente. Estas classes são especializações da classe FENÔMENOGEOGRÁFICO, e são generalizações de todas as classes do domínio que abrangem a visão de objetos (que possuem identidade própria e podem ser individualizáveis) e de campos (que são modelados como funções sobre uma variável). A Classe OBJETOESPACIAL possui as subclasses PONTO, LINHA, POLÍGONO e OBJESPACIALCOMPLEXO, que formam o conjunto mínimo de construtores para a especificação do componente espacial dos fenômenos geográficos na visão de objetos.

Os modelos geográficos usados para abstrair fenômenos na visão de campos geográficos são representados pelas subclasses GRADECÉLULAS, POLADJACENTES, ISOLINHAS, GRADEPONTOS, TIN e PONTOSIRREGULARES, que correspondem à Classe REPRESENTAÇÃOCAMPO. Na ocorrência de um mesmo campo ou objeto geográfico que possa ser abstraído de formas diferentes, a representação múltipla é sinalizada pela associação (1:n) chamada “representa”.

Estereótipos do GeoFrame

Os estereótipos definidos por Lisboa Filho (2000) para o Geoframe, são divididos em quatro conjuntos ou grupos, de forma a facilitar a construção do esquema conceitual e representarem as especializações das classes Geoframe. Eles podem ser visualizados na Figura 3.

Esterótipos do GeoFrame
Figura 3: Esterótipos do GeoFrame
Fonte: Lisboa Filho, 2000

No primeiro conjunto, à esquerda, temos os estereótipos que representam as generalizações de Fenômeno Geográfico e Objetos Convencionais, ou seja, os dois principais tipos de dados geográficos.

No segundo conjunto, ao centro, estão os estereótipos para modelagem da componente espacial de objetos geográficos. Caso existam múltiplas representações para um objeto, pode ser feita uma combinação de dois ou mais estereótipos de uma mesma classe.

No terceiro conjunto, à direita, estão os estereótipos para modelagem da componente espacial de campos geográficos.

No quarto conjunto, temos o estereótipo <>, que caracteriza um tipo especial de associação que ocorre quando são modelados campos categóricos. Nessa modelagem, o espaço é classificado em categorias que são mutuamente exclusivas, ou seja, uma variável possui um valor do tipo categoria em todos os pontos dentro de uma região (ex.: tipos de solos).

A Figura 4 apresenta o diagrama de classes para o modelo conceitual do Banco de Dados Geográfico Missões do CAN-AM.

Diagrama de Classes do Banco de Dados
Figura 4: Diagrama de Classes do Banco de Dados Missões do CAN-AM

Visualização das Rotas das Missões do CAN-AM usando o Spring – Versão 4.3.2

Esta seção resume os procedimentos executados na Ferramenta SPRING – Versão 4.3.2, para a criação de um banco de dados geográficos contendo os alguns dados relativos às atividades executadas pela FAB no interior da Amazônia.

Segundo DPI-INPE, 2006a, um banco de dados no SPRING refere-se fisicamente ao diretório onde as informações serão salvas, um projeto contém a região geográfica ou o retângulo envolvente da área de estudo (onde é definido o nome e são informadas a projeção cartográfica e as coordenadas geográficas ou planas). Vários projetos podem estar contidos em um único Banco de Dados Geográfico. Um Plano de Informação (PI) é o agrupamento de um conjunto de objetos que tem características comuns.

a) Criação do Banco de Dados CAN_AM e Projeto Missões_CAN_AM

Inicialmente, o banco de dados foi criado com o nome de CAN_AM, utilizando-se como gerenciador o Access. Foi dado o nome de Missões_CAN_AM para o Projeto, com Projeção Sistema UTM, Modelo da Terra SAD69, e Zona 20, Hemisfério Sul e o retângulo envolvente foi definido entre as seguintes coordenadas geográficas: Long1: o 74º0”0’ e Lat1: s 14º0”0’; Long2: o 56º0”0’; Lat2: n 5º0”0’.

b) Criação de Categorias do Modelo Cadastral

Foram criadas três categorias inicialmente. Uma do modelo Cadastral, chamada MapaDivisaoPolitica, e duas do Modelo Objeto, chamadas EstadosRN e MunicipiosRN. A primeira recebeu os vetores que representam a divisão política dos Estados do Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima. São nesses estados que estão as cidades atendidas pelo CAN na Amazônia. A segunda e a terceira categorias receberam os identificadores e atributos dos vetores da categoria MapaDivisaoPolitica.

No Banco de Dados Geográfico Atlas_BR (DPI-INPE, 2006b), há um projeto chamado Regiao_N, formado por Categorias do Modelo Cadastral. Nestas categorias, estão disponíveis as linhas que formam os municípios e estados da região norte, identificadores de cada município, e os nomes dos municípios, que foram exportados através do menu Arquivo, opção Exportar para um arquivo no formato ASCII-SPRING. O Projeto Regiao_N foi criado com o Sistema de Projeção POLYCONIC (Policônica), porém, quando o arquivo de linhas e identificadores foi importado no Projeto Missões_CAN_AM, a ferramenta SPRING efetuou a conversão para a Projeção UTM. O arquivo ASCII-SPRING de linhas pode ser visto parcialmente na Figura 5.

Arquivo ASCII-SPRING de Linhas
Figura 5: Arquivo ASCII-SPRING de Linhas, para importação

c) Importação de Arquivos ASCII-SPRING

Os arquivos de linhas e identificadores e o de textos com os nomes dos municípios, foram importados através do menu Arquivo, opção Importar…, onde foi feita a localização do diretório onde estavam armazenados os arquivos, em seguida, a escolha do formato ASCII-SPRING, a seleção do arquivo e do tipo de entidade a ser importada (no caso, Linha sem ajuste) e selecionada a categoria já criada MapaDivisaoPolitica. O PI que recebeu os vetores dos municípios foi chamado de Municipios_RN e em seguida, clicou-se em Executar. O mesmo procedimento foi feito para a importação dos identificadores das linhas e em seguida para o arquivo de texto com os nomes dos municípios, com a mudança apenas para o tipo de entidade, no caso Identificadores e Texto, respectivamente.

Após a importação, os dados puderam ser visualizados através do Painel de Controle. As linhas importadas necessitaram de edição, tendo em vista que apresentaram falhas na primeira visualização. Esse procedimento foi feito através do menu Cadastral e Edição Vetorial, onde foram excluídos os pontos que estavam distorcendo algumas linhas no limite norte dos Estados do Amazonas e de Roraima. Os nomes dos municípios foram gerados através do menu Cadastral, opção Geração de Textos, onde foram selecionadas as características visuais para a apresentação do nome dos municípios no mapa de municípios. Após as edições vetoriais e a geração de textos, o resultado foi o seguinte, conforme Figura 6, que mostra parcialmente a tela com os municípios importados.

Os mesmos procedimentos foram executados para a exportação das linhas, identificadores de linhas e textos do Banco Atlas_BR e posterior importação no Banco CAN_AM, para a criação de outro PI na MapaDivisaoPolitica, chamado Estados_RN. Neste PI não há divisão política dos municípios e sim apenas dos Estados.

Visualização Parcial do PI
Figura 6: Visualização Parcial do PI Municipios_RN

d) Criação das Categorias Mapa_Localidades_Atend e Localidades

Foi organizado e criado um arquivo contendo as coordenadas das sedes de 48 localidades já atendidas pelo CAN na Amazônia, além das sedes das capitais dos Estados do Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima, num total de 52 coordenadas. Esse arquivo, que é do tipo POINT2D, que possui pontos (formado por coordenadas) e identificadores para os pontos (aqui foi usado como identificar o nome de cada localidade). Foi criado ainda um arquivo do tipo TABLE, uma tabela que contém os atributos (NOME e UF) de cada ponto do arquivo POINT2D. A Figura 7 visualiza parte dos arquivos ASCII-SPRING de pontos e identificadores e da tabela de atributos de objetos.

Arquivo ASCII-SPRING de Pontos e Identificadores e Tabela de Atributos
Figura 7: Arquivo ASCII-SPRING de Pontos e Identificadores e Tabela de Atributos

O primeiro arquivo foi importado para a Categoria Mapa_Localidades_Atend, do modelo Cadastral e seguiu-se os mesmos procedimentos para importação utilizados para os arquivos do item anterior, criando-se então a Categoria LocalidadesAtendCAN. A tabela foi importada para a Categoria Localidades, do modelo Objeto, através do menu Arquivo e Importar Tabela…, onde foram selecionados: o diretório onde estava armazenado o arquivo TABLE, o formato ASCII-SPRING, a operação Atualizar Cat.Objetos/Tab.Atributos e em seguida clicou-se em Executar. Na Figura 8, pode ser visto o PI LocalidadesAtendCAN, com os pontos sede das localidades atendidas pelo CAN, bem como o texto que identifica cada uma delas no quadro em destaque.

Visualização do PI Localidades
Figura 8: Visualização do PI LocalidadesAtendCAN

e) Criação das Categorias RotasCAN e RotasMunic

Foi criada a Categoria RotasCAN, também do Modelo Cadastral para receber a representação das Linhas CAN (Juruá-Madeira, Alto Solimões, Expresso e Rondônia). Para isso, foram editados e criados os arquivos de linhas, onde o início de cada linha é formado pelas coordenadas geográficas da localidade de origem e o fim das mesmas é formado pelas coordenadas geográficas da localidade destino, seguindo-se a seqüência dos atendimentos efetuados pela equipe do CAN. Um exemplo desse arquivo está na Figura 9, que mostra o Arquivo de linhas para as Rotas do CAN da Linha CAN Rondônia, utilizado para a criação do PI Rondonia.

Visualização Parcial do Arquivo de linhas do PI
Figura 9: Visualização Parcial do Arquivo de linhas do PI Rondonia

Foi criada a Categoria RotasMunic do Modelo Objeto, para receber os identificadores de cada rota das Linhas CAN. Esta categoria possui os atributos ORIGEM, DESTINO, LINHA CAN, além do GEOID, que é criado automaticamente pelo sistema. Cada rota foi associada manualmente no SPRING, através do Menu Editar e Objetos, onde foi aberta a janela Editar Objetos. Foi então selecionada a Categoria de Objetos RotasMunic e procedeu-se a criação de cada objeto (rótulo e nome), em seguida a associação dos objetos criados com as representações gráficas (linhas) em cada PI das Linhas CAN (Juruá-Madeira, Alto Solimões, Expresso e Rondônia), além da digitação dos valores dos atributos dos Objetos. A Figura abaixo mostra esses passos, dando destaque com a cor verde água ao objeto selecionado, cujos atributos estão sendo editados e a Figura 10 visualiza quatro das Linhas CAN.

Procedimentos para associação de objetos
Figura: Procedimentos para associação de objetos a representações gráficas

Visualização das Rotas das Linhas CAN na Amazônia
Figura 10: Visualização das Rotas das Linhas CAN na Amazônia

f) Criação da Categoria Dados_CAN

O passo seguinte foi a criação de uma Categoria Não-Espacial para receber os dados referentes a quantidade de atendimentos realizados pelas Missões CAN na Amazônia, chamada Dados_CAN. Os atributos desta categoria são os seguintes: localidade atendida, Linha CAN da qual a localidade faz parte, data do atendimento e quantitativo dos atendimentos em cada especialidade médica e quantitativo dos transportes de pacientes (MMI).

Dos arquivos de texto dos relatórios finais das Missões recebidas do SERSA/MN, foi criada uma tabela com os quantitativos dos atendimentos, que totalizaram 18.003 pessoas atendidas, no período de maio/2006 a fevereiro/2007. Vale ressaltar que nem todos os relatórios continham o quantitativo dos atendimentos e também não havia todos os relatórios de todas as missões realizadas nesse período.

A importação dos dados para esta categoria foi de difícil execução. O SPRING não efetuou a importação através de arquivos ASCII-SPRING. Foram criados, então, manualmente todos os atributos desta tabela não-espacial. Tentou-se, então fazer a atualização desta tabela com um arquivo ASCII-SPRING, com os dados e quantitativos dos atendimentos, porém, também não foi possível. Foi então criada essa tabela em um editor de planilhas, e a mesma foi salva com a extensão *.dbf, que foi aceita pelo SPRING para importação, com o nome de CAN. Na opção Tabela… do menu Editar foi verificado que os dados foram importados corretamente.

Procedeu-se então a ligação desta tabela não-espacial com a tabela de objetos da Categoria Localidades, também através do menu Editar, na opção Ligação de Tabelas…. Nesta opção, são apresentadas todas as tabelas existentes no Projeto, ou seja, as tabelas das Categorias Objeto” e as tabelas da Categoria Não-Espacial, mostrando os atributos de cada uma delas, onde pelo menos um deles deverá ser comum às duas tabelas, para que sirva de link (conector) entre as mesmas.

A tabela de objetos Localidades e a tabela não-espacial CAN (da Categoria Dados_CAN) foram conectadas através dos atributos NOME e LOCALID, da 1ª e 2ª tabelas respectivamente. Ao se efetuar a consulta desses dados, no Painel de Controle, a tabela apresentada pelo SPRING não mostrava os dados importados corretamente. Apresentava, para cada localidade atendida, o número de registros de cada cidade várias vezes, com os mesmos valores. Por exemplo, de maio de 2006 até fevereiro de 2007, a população da localidade de Alvarães recebeu os atendimentos do CAN seis vezes, ou seja, uma vez durante seis meses, não subseqüentes, que resultaram em um quantitativo de atendimentos diferentes em cada missão executada. No SPRING, após executada a consulta, foi visualizada para a localidade de Alvarães a quantidade de seis registros, todos na mesma data e com o mesmo quantitativo de atendimentos realidades, ao invés de apresentar os seis registros, com datas e quantitativos diferentes, que seria o correto. Os atendimentos do CAN no período citado acima, que constam nos relatórios enviados pelo SERSA, resultaram em 214 registros, divididos entre as 48 cidades. Verificou-se que o SPRING apenas diferenciava as cidades e apresentava os atendimentos realizados no mês mais recente.

Várias tentativas de importação dos dados foram feitas, inclusive após serem retirados os acentos, cedilhas e ’ dos nomes das localidades (como Machadinho d’Oeste). Foram alteradas também as datas, após ser observado que o campo DATA deve ser digitado no formato ano, mês e dia, por exemplo: 20060505, e não 05052006. A alternativa aceita pelo SPRING para visualizar corretamente os dados importados, foi excluir a quantidade de registros dos atendimentos. Foram importados apenas 69, ao invés de 214. Após essa importação e depois da ligação das tabelas, a visualização dos atributos ficou como mostra a Figura 11.

Visualização Parcial da Tabela Não Espacial dos Atendimentos
Figura 11: Visualização Parcial da Tabela Não Espacial dos Atendimentos do CAN

g) Criação da Categoria Imagem_CBERS

Por fim, foi criada uma categoria do Modelo Imagem, chamada Imagem_CBERS, com o objetivo de visualizar uma imagem do satélite CBERS2, Sensor CCD, datada de 09-09-2006, cujas cenas compreendem uma das localidades atendidas pelo CAN, a Cidade de Eirunepé/AM. A imagem foi obtida no site do INPE, que já disponibiliza suas imagens georreferenciadas, bastando apenas proceder a importação da cena de cada banda através do menu Arquivo e Importar TIFF/GeoTIFF. Foram criados 3 PIs, um para cada uma das 3 bandas da Imagem, que foram então selecionadas no Painel de Controle e a visualização desta imagem está na Figura 12, que mostra a cidade de Eirunepé. Na imagem é possível observar que Eirunepé é uma cidade pequena, uma das características das localidades atendidas pelas equipes do CAN.

Visualização Parcial da Cena
Figura 12: Visualização Parcial da Cena 182-107
Imagem do Satélite CBERS2-CCD, Município de Eirunepé/AM
Fonte: DPI-INPE, 2006c

Conclusões

As aplicações geográficas têm como objetivo a gerência e a manipulação de um conjunto de dados para um fim específico ou uma necessidade especial, sejam na área ambiental, econômica ou social, e apresentam um papel importante para o planejamento estratégico e investimentos públicos e privados.

Devido às características peculiares dos dados geográficos e espaciais, as informações extraídas a partir de um banco de dados geográficos devem ser confiáveis e bem representadas. Para isso, um SIG deve ser compreendido como conjunto de ferramentas de solução de problemas relacionadas à geoinformação, devendo disponibilizar para o usuário, recursos de entrada e conversão de dados, armazenamento e gerenciamento de dados, recuperação de informações, manipulação e análise, além de exibição de saídas, permitindo que se apresente uma visão simplificada do mundo real.

Pelos números expressivos de atendimentos realizados, pelas características econômicas, sociais, de acesso às cidades, bem como pelas distâncias regionais percorridas pelas equipes do CAN, pode-se concluir que a visualização geográfica destas atividades da Força Aérea Brasileira possibilitou compreender e demonstrar a relevância que estas ações têm para milhares de pessoas que já receberam “um pouco de cidadania e esperança”. O atendimento prestado pela FAB faz a diferença entre estar isolado quase que totalmente e participar da vida coletiva na nação, mesmo que de forma precária.

Darlene Figueiredo Borges Coelho
Neli da Conceição de Araujo Mendes
Fundação Universidade Federal de Rondônia
Núcleo de Ciência e Tecnologia
Departamento de Informática
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Referências

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