Durante anos nos acostumamos com a noção de que o posicionamento absoluto por GNSS nos proporciona resultados pouco acurados e precisos para as aplicações geodésicas e topográficas, com tolerância a erros em posição da ordem de decímetros ou centímetros. Entretanto, o desenvolvimento científico ocorrido no período de uma década, aproximadamente, alterou essa perspectiva.
Conforme é de conhecimento geral na comunidade de geodésia, o posicionamento absoluto é realizado a partir de um conjunto de observações de sinais de satélites (GNSS), obtidas por um único receptor. Na literatura de língua inglesa, esse método é denominado de point positioning. Desta terminologia deriva o nome precise point positioning, ou posicionamento absoluto preciso (PPP), onde o termo “preciso” é empregado para deixar clara a diferença entre os dois métodos.
Diferente do primeiro, que normalmente emprega observações dos códigos ou então códigos suavizados pelas portadoras e efemérides transmitidas, o PPP faz uso de observações dos códigos ou das portadoras, registrando os sinais por um período maior. Porém, somente isso não é o suficiente. É necessário agregar o conhecimento da posição dos satélites (efemérides precisas), comportamento do relógio dos mesmos em relação ao tempo GPS e redução ou remoção de efeitos, tais como deslocamentos provocados por maré terrestre e comportamento dos sinais na atmosfera, de forma que seja possível determinar um posicionamento geodésico com menor margem de erro.
Vários organismos públicos no mundo, como o International GNSS Service (IGS), o Natural Resouces Canada (NRCan) e o Jet Propulsion Laboratory (JPL) disponibilizam produtos com dados de órbitas precisas e correções para os relógios dos satélites. Para melhor compreensão, a tabela demonstra os erros das efemérides e dos relógios dos produtos do IGS.
As soluções PPP atingem desvios da ordem do decímetro, no posicionamento cinemático, e de centímetros, ou menos, no posicionamento estático. Semelhante aos métodos relativos, no PPP por fase da portadora é necessária a solução das ambigüidades (N), que convergem para níveis centimétricos em um período, tipicamente entre 20 minutos (L1&L2) a duas horas. Portanto há necessidade de maior tempo de observação do que no método absoluto trivial, e o mesmo acontece se fizermos uma comparação direta com os métodos relativos.
Naturalmente, no posicionamento cinemático, cuja posição é obtida época a época, encontramos o problema adicional das obstruções durante o trajeto do receptor, com o agravante da necessidade de maior tempo para iniciação das ambigüidades do que o requerido para o método relativo. Caso não seja possível obter a solução de N, o posicionamento fica restrito à solução por código, o que pode resultar em desvios da ordem de alguns decímetros, dependendo da qualidade dos dados.
A solução por PPP pode ser obtida através do uso de programas científicos, como o Bernese, havendo já ao menos um programa comercial com essa solução.
Sem dúvida, são soluções que podem ser consideradas adequadas a problemas encontrados no dia-a-dia, embora seu uso ainda esteja mais próximo da comunidade acadêmica.
Régis Bueno
Engenheiro agrimensor, doutor em engenharia pela Epusp
Diretor da Geovector Engenharia Geomática
Atua na área de posicionamento por satélites desde 1989
regisbueno@uol.com.br