Para que possamos abordar com a devida propriedade o tema Base de Dados 3D é interessante explorarmos o histórico de desenvolvimento dos dados geográficos e também a evolução do mercado de GIS no Brasil.

Estudos e índices publicados sobre o mercado de GIS apontam uma tendência consolidada de crescimento para os próximos anos, variando de 8% a 25%, dependendo do setor analisado (fonte: Intare – Pesquisa de Mercado 2007).

Analistas e profissionais atuantes no mercado acreditam que este crescimento não se dá apenas como um reflexo do atual ciclo de desenvolvimento econômico-social que o país atingiu, gerando a ativação da economia local e fazendo com que todo o ambiente empresarial (fornecedores, terceiros e colaboradores) tenha maior rentabilidade em seus investimentos, mas também acreditam que o crescimento do mercado se dá pela popularização de itens tecnológicos que valem-se da tecnologia GIS (GPS, sites de guia, Google Earth, entre outros) em sua interface ou operação.

Tal cenário de crescimento econômico e desenvolvimento social influencia positivamente no planejamento estratégico das grandes corporações, fazendo com que suas áreas técnicas estejam preparadas para uma boa prestação de serviço e disponham de dados úteis que municiem seus gestores durante o processo de tomada de decisão.

Neste mesmo sentido encontram-se os desenvolvedores e fornecedores de soluções GIS, que precisam entender as demandas específicas de seus clientes e desenvolver soluções cada vez mais inteligentes e acessíveis funcionalmente, agregando valor não só ao operacional das empresas, mas suportando cada vez mais a gestão estratégica das mesmas.

Para que tais soluções GIS possam atingir esses objetivos corporativos, as áreas técnicas necessitam de precisão e qualidade nos dados utilizados em seus estudos e projetos. Essa demanda crescente por dados de qualidade tem também impulsionado a melhoria e o desenvolvimento das bases de dados geográficos 3D.

Apresentadas como uma evolução dos dados geográficos, as bases de dados 3D utilizam-se de novas técnicas para sua concepção, necessitando tratamento diferenciado na sua manipulação. Tais dados têm, não somente agregado melhor qualidade técnica aos estudos e projetos, como também tornado-os mais acessíveis e vendáveis aos que não dominam a tecnologia GIS, pois sua interface gráfica que simula a realidade é mais comum aos que não são especialistas em tal tecnologia.

Hoje, representados por produtos como Modelo Numérico do Terreno (DEM ou MDT), Building Heights (altimetria de edificações), entre outros, os dados 3D tiveram evolução de forma acelerada, parte pela necessidade em melhorar-se os dados utilizados em projetos, parte pela disseminação da cultura GIS nas empresas. Esta evolução pode ser facilmente identificada em dados 3D gerados por perfilamento a laser, como o Building Heights, e produtos cartográficos elaborados a partir de imageadores radar.

O Building Heights é uma base de dados que contém o mapeamento das altimetrias de todas as vegetações e edificações, consideradas como qualquer estrutura feita pelo homem, tais como prédios, torres, monumentos, etc.. Devido à utilização do laser em seu desenvolvimento, apresenta precisão centimétrica para o dado altimétrico em relação ao solo, variando conforme especificação do vôo.

Classificação das edificações do Rio de Janeiro extraida do Building Heights
Classificação das edificações do Rio de Janeiro extraida do Building Heights – Perfilamento a Laser

Esse dado mais apurado é utilizado em estudos que demandem grande precisão altimétrica, como na gestão de plantações e reflorestamento, no mapeamento altimétrico e de declividade, planejamento de colheita, contagem e manejo de corte, controle de qualidade das edificações, entre outros.

Varredura de pontos de copas de árvores
Varredura dos pontos da copa de árvores

Outras utilizações significativas para os dados 3D se dão no setor de Utilities, com empresas atuantes na cadeia de geração, transmissão e fornecimento de energia elétrica, utilizando os dados principalmente nas etapas de pré-projeto, análise e viabilidade, ora simulando a construção do reservatório de uma usina hidrelétrica e a inundação possível aos terrenos vizinhos, ora interpretando os melhores trajetos para instalação de torres de transmissão, na análise de acesso para manutenção de ativos e também no processo de distribuição de energia, auxiliando o processo de instalação de postes e estudos de tensão mecânica dos mesmos.

Usado também por mineradoras e empresas de óleo e gás, o Building Heights facilita a gestão de ativos com o mapeamento de gasodutos e oleodutos existentes, além de facilitar o desenvolvimento de pré-projetos e projetos para instalação dos mesmos, já que mapeia precisamente o modelo do terreno no trajeto estudado.

Conhecendo esses projetos desenvolvidos pelas empresas fornecedoras de energia elétrica, companhias especializadas em projetos e engenharia civil, responsáveis pelo desenvolvimento e execução de grandes obras, rodovias, pontes, entre outros, começam a valer-se dessas bases de dados 3D associadas a mapas de uso e ocupação do solo para suas análises de viabilidade, pré-projeto, execução e pré-levantamentos sobre impactos ambientais.

É possível analisar que as bases de dados 3D, valendo-se da evolução do cenário GIS, têm acompanhado de perto a evolução tecnológica, porém pouco ainda tem sido feito para viabilizar a utilização dessas informações tridimensionais em estudos GIS do dia-a-dia, faltando não só redução de custos no processo de concepção dos mesmos, mas também uma visão mais consolidada sobre as reais formas de utilização desses dados em estudos.

Tendencialmente, é esperado que alguns dos segmentos de mercado em evolução passem também a utilizar-se dessas bases de dados 3D para seus estudos, ou até mesmo como componente de seus produtos, tais como a evolução dos navegadores, processos de precificação de serviços logísticos, análises de utilização de suporte de seguros veicular, entre outras inovações.

Paulo SimãoPaulo Simão,
Líder de Produtos da Surface
paulo.simao@surfacerwm.com