Os Sistemas de Informações Geográficas têm despertado cada vez mais o interesse das grandes empresas e dos órgãos do governo. Um dos principais motivos é que esses sistemas apóiam a tomada de decisão e a gestão de recursos que envolvem aspectos geográficos. Um dos grandes desafios desse tipo de Sistema de Informação é o armazenamento dos dados geográficos, pois alguns aspectos devem ser levados em consideração como: Qual a melhor forma de representar os dados geográficos? Quais estruturas de dados geométricas e alfanuméricas se relacionam com os dados do mundo real? Que alternativas de representação computacional existem para dados geográficos?

Nesse contexto, os Sistemas de Gerenciamento de Banco de Dados (SGBDs) evoluíram, dando suporte ao armazenamento, consulta e atualização de dados geográficos. Alguns SGBDs proprietários já têm funcionalidades para a manipulação desses tipos de dados, entretanto, essas soluções possuem ainda custos elevados para a maioria das empresas. Por outro lado, existem algumas opções gratuitas que também suportam a manipulação desses dados.

O objetivo desse artigo é apresentar um estudo sobre dois SGBDs livres que possuem uma extensão espacial: o MySQL e o PostgreSQL. Esse estudo apresenta uma análise dos recursos disponíveis para manipulação de dados geoespaciais, bem como uma comparação entre eles.

O MySQL é um SGBD com uma grande popularização mundial. Ele foi desenvolvido por volta de 1996 pela equipe de desenvolvimento da empresa TCX, objetivando criar um banco de dados com acesso rápido em um ambiente com hardware de baixo poder de processamento. Uma biblioteca e algumas ferramentas desenvolvidas ficavam disponíveis em um diretório comum chamado de My, provavelmente fato que deu origem ao nome do SGBD. Este SGBD está sob a licença General Public License (GPL) podendo ser, portanto, distribuído sem quaisquer custos com licença.

A extensão espacial é uma ferramenta disponível no MySQL, composta por um conjunto de componentes diversificados disponíveis em uma biblioteca com recursos que oferecem análise, criação e armazenamento de dados geográficos. O padrão utilizado para armazenar os dados espaciais é baseado no OpenGIS, que segue as especificações Open Geospatial Consortium (OGC), consórcio que conduz a padronização e integração de dados geográficos.

O PostgreSQL surgiu em um projeto liderado pelo professor Michael Stonebraker e foi desenvolvido na Universidade de Berkeley, na Califórnia, por volta dos anos 80. Esse banco tem uma extensão espacial denominada PostGIS, que dá suporte à manipulação de objetos geográficos. Sua utilização é vinculada ao PostgreSQL e é também licenciada como código aberto. A distribuição do PostGIS pode ser adquirida separadamente do PostgreSQL ou também como componente interno desse SGBD. A principal diferença nesse processo de aquisição é que, na distribuição separada, atualizações dos recursos e correções de erros encontrados podem ser feitas também separadamente.

O PostGIS foi desenvolvido pela companhia Refractions Research Inc, como parte de solução do projeto de pesquisa voltado para armazenamento de objetos espaciais. Ele segue as especificações do OpenGIS, tais como: Simple Features Interface Standard (SFS), utilizado para armazenamento e recuperação de dados, Web Map Services (WMS) e Web Feature Services (WFS), para serviços aplicados à web, e Geography Markup Language (GML), linguagem para intercâmbio de dados (Tabela 1).

Tabela 1
Tabela 1 – Padrões para armazenamento de dados espaciais

Os tipos de dados aceitos nos dois SGBDs utilizados neste estudo fazem parte do padrão OpenGis. Geometry, Point e LineString são exemplos de tipos de dados. O PostGIS dá suporte ainda ao padrão SQL/MM (MultiMedia), que são extensões para o tratamento de texto, dados espaciais e imagens estáticas ou em movimento. Para a manipulação do padrão OpenGis, a diferença está na forma como cada SGBD trata os dados: o MySQL define mais detalhadamente cada tipo de dado espacial, enquanto o PostGIS centraliza alguns modelos para atender a vários tipos com as mesmas características como, por exemplo, o tipo MultiString que representa as  linha e curvas.

O PostGIS e o MySQL possuem também operadores espaciais, que permitem a construção de consultas espaciais mais avançadas. Alguns exemplos de operadores estão listados a seguir:

Operador de construção de mapas de distância:
–  buffer(geometry, double, [integer])

Operadores Métricos:
– distance(geometry,geometry)
– area(geometry)

A tabela 2 mostra um quadro geral com o custo de implantação, quais os fabricantes, grupos de desenvolvedores e as versões atuais de cada SGBD. Uma característica importante que os dois SGBDS têm é a compatibilidade com as ferramentas SIGs disponíveis (Tabela 3).

Tabela 2
Tabela 2 – Comparação geral

Tabela 3
Tabela 3 – Compatibilidade com ferramentas SIG

Observa-se através des-sas análises que o PostGIS oferece alguns recursos adi-cionais não suportados pela extensão espacial do MySQL. Além disso, o PostGIS é com-patível com mais ferramentas SIGs, aproximando-o mais dos SGBDs proprietários. Entretanto, para projetos SIG de menor porte, o MySQL pode ser uma alternativa para o armazenamento de dados geográficos. Algumas características de cada ban-co de dados geográfico estão destacadas a seguir:

O PostGIS foi um projeto criado separadamente do SGBD PostgreSQL e por essa razão possui mais recursos para tratamento de dados geográficos, estando sempre em processo de atualização;

O MySQL oferece uma funcionalidade interna como uma forma de suporte aos dados geográficos, portanto, não são oferecidas atualizações e correções separadas como no PostGIS;

O PostGIS atende não só ao padrão das especificações do OpenGIS, mas também ao padrão do SQL/MM. Funcionalidades importantes como a interação com WMS e WFS estão disponíveis.

Leandro BritoLeandro Brito Santos
Bacharel em sistemas de informação
Analista de suporte da Print Laser Service Ltda
lsbrito@gmail.com

Helder AragãoHelder Guimarães Aragão
Cientista da computação
Especialista em sistemas distribuídos e web
Supervisor do Geoprocessamento da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa)
Professor da FIB – Centro Universitário da Bahia
helderaragao@yahoo.com.br