Por Ágatha Branco
Os russos estão de olho no Brasil, e vice-versa. A Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Agência Espacial da Federação da Rússia (Roscosmos) realizaram um encontro empresarial para apresentar o status atual do Glonass, sistema russo de posicionamento global equivalente ao americano GPS, ao europeu Galileo e ao chinês Compass. O projeto do Glonass prevê 24 satélites divididos em três órbitas e o objetivo é que o sistema esteja completo até o final de 2012.
Em caso de falhas na transmissão de dados do GPS, o Glonass é uma opção de uso que contará com uma precisão diferenciada para uso civil. Além disso, empresas que utilizam a tecnologia de localização via GPS poderão ter uma segurança maior, caso a “chave” deste um dia seja desligada.
O evento aconteceu no dia 6 de abril, com o apoio da MundoGEO, na sede do Instituto de Engenharia, em São Paulo. O encontro teve como objetivo apresentar aos empresários brasileiros possibilidades de cooperação na produção e comercialização de receptores GNSS e em serviços de monitoramento e rastreamento de veículos.
Segundo o coordenador técnico-científico da AEB, Raimundo Mussi, o encontro é parte do Programa de Cooperação no Campo da Utilização e Desenvolvimento do Sistema Russo de Navegação Global por Satélite, entre a AEB e a Roscosmos, assinado em 26 de novembro de 2008. “Um dos itens do acordo consiste em promover contatos entre instituições e indústrias do setor espacial”, explica.
“O Glonass representa uma tecnologia adicional ao GPS americano. A similaridade de necessidade de geoposicionamento é grande entre o Brasil e a Rússia, o que torna as possibilidades de cooperação ainda maiores”, afirma Cilineu Nunes, da empresa Zatix.
A cooperação com a Roscosmos traz ao Brasil aprimoramento tecnológico no conhecimento e gerenciamento de sistemas GNSS, a realização de projetos de pesquisa nos temas de interesse e a possibilidade de empreendimentos em parceira.
O chefe de Divisão do Glonass, Sergei Kalinin, fez a primeira apresentação. Segundo ele, a Rússia conta com cinco estações de recepção de dados do sistema, porém será necessário implantar novas estações em solo. Segundo Kalinin, uma delas deverá ser construída no Brasil.
O governo russo apoia o desenvolvimento do sistema e garante que, até o final de 2012, deverá ficar completo. No entanto, estará em desenvolvimento até 2020. De acordo com Kalinin, há possibilidade de cooperação entre as agências espaciais dos dois países, entre as indústrias e também de pesquisas científicas.
Para Raimundo Mussi, a informação mais importante divulgada na apresentação de Kalinin foi quando ele divulgou os planos de oferecer sinal de alta qualidade (L2) aberto e gratuito. “O GPS já oferece esse tipo de serviço, mas apenas para uso militar. Será uma grande revolução para usuários de serviços de localização ”, explica. Mussi acredita que os russos apresentaram propostas concretas de parceria e que o Glonass será mais uma opção para serviços baseados em localização.
As outras apresentações foram feitas pelo chefe executivo da Auto Tracker, Boris Satovsky; pelo vice-diretor do Institute of Space Device Engineering, Mikhail Golovin; e pelo chefe do departamento internacional da Nis-Glonass, Alexey Tyrtov.
O programa de cooperação entre Brasil e Rússia tem, entre outras, as seguintes linhas de atuação: operacional, compreendendo, inclusive, a possibilidade de instalação de uma estação de monitoramento do Glonass em território nacional; científica, com a realização de projetos conjuntos de pesquisa; e empresarial, por meio da produção e comercialização de receptores GNSS e na utilização desses sistemas no monitoramento e rastreamento de veículos.