A gestão ambiental em escala municipal é um dos maiores desafios para os governos atualmente . Com o avanço tecnológico, um aparato de ferramentas computacionais tem auxiliado muito neste processo, especialmente o desenvolvimento de banco de dados e o uso nos sistemas de informações geográficas (SIG).. Este trabalho tem por objetivo mostrar a elaboração de um banco de dados geográfico para o município do Chuí no Rio Grande do Sul utilizando o SIG Idrisi Andes®. O banco de dados foi gerado a partir da digitalização das informações existentes de geologia, geomorfologia, hidrografia, hidrogeologia, solos e capacidade de uso agrícola e unidades de paisagem da área de estudo, utilizando o software de apoio Carta Linx. Adicionalmente, foi realizado o mapeamento da vegetação e uso do solo atual utilizando imagens do sensor Landsat TM5, através do processo de classificação supervisionada do SIG, cujo resultado foi ajustado por conferência da verdade de campo. A disponibilidade do banco de dados permitirá a geração de outras camadas temáticas pela aplicação de rotinas computacionais específicas, permitindo, assim, a sua atualização constante. As facilidades para a tomada de decisão na gestão ambiental municipal são evidentes, permitindo aos técnicos e planejadores agregar novas informações em diferentes escalas, elaborar planos de manejo setoriais, educação ambiental, zoneamento ambiental, entre outros, assim como a tomada de decisão baseada em critérios menos subjetivos
Introdução
Nos últimos anos a degradação ambiental tem sido assunto de muitas discussões da sociedade civil e do poder público, devido a destruição de florestas através de queimadas para obtenção de pasto ou campo para agricultura, crescimento urbano desordenado da população mundial, emissão de poluentes na atmosfera por indústrias, poluição de recursos hídricos por esgotamento urbano e industrial, acúmulo de detritos domésticos e industriais não-biodegradáveis no solo e subsolo, indústrias petroquímicas emitindo grandes quantidades de gás carbônico e produzindo matérias-primas de difícil degradação, etc.
Além das forçantes antrópicas mencionadas, há as forçantes naturais que também contribuem com a modificação do meio, principalmente na zona costeira onde a dinâmica natural é mais acentuada. Tempestades, ventos, marés, erosão por ondas e elevação do nível médio do mar compõem esses agentes que modificam o ambiente e dificultam a atuação do gestor em promover um desenvolvimento sustentável nessas regiões.
Com a intenção de facilitar, de maneira mais efetiva e econômica, o monitoramento e a modelagem destes processos, o sensoriamento remoto e o geoprocessamento tornaram-se ferramentas visadas especialmente em países de grande extensão territorial, tanto no tratamento dos dados como na implementação de mapas temáticos, facilitando assim a compreensão da realidade socioambiental. Países que utilizam estas ferramentas possuem grandes vantagens em termos de agilidade, qualidade e número de informações coletadas, as quais podem ser utilizadas nas mais variadas situações, incluindo: previsões com relação ao planejamento urbano e ambiental, monitoramento de desastres ambientais, estudos sobre correntes oceânicas e movimentação de cardumes, avaliação de impacto de instalação de rodovias, estimativa da área plantada em propriedades rurais, monitoramentos dos efluentes lançados em áreas costeiras, entre outros.
Para realizar uma boa gestão socioambiental, a escala de trabalho mais eficiente seria a municipal, entretanto os municípios nem sempre possuem ferramentas eficientes que possibilitem a apropriação do conhecimento necessário para a real solução de seus problemas. A utilização de geotecnologias, como os sistemas de informações geográficas (SIG), auxilia na gestão territorial, facilitando a tomada de decisão por parte do poder público local. Sendo assim, este trabalho tem como objetivo mostrar os resultados obtidos através de ferramentas de sensoriamento remoto e geoprocessamento na elaboração de um banco de dados geográfico que facilitará a gestão ambiental municipal no município de Chuí/RS, pois estará incluso no Plano Ambiental Municipal deste, que consiste em um documento que contém informações geoambientais e sócio-econômicas. A formulação do Plano partiu de uma exigência da Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental – RS), a qual inferiu que até outubro de 2009 os municípios do estado do Rio Grande do Sul deverão realizar licenciamentos de impacto local, tendo então o Plano Ambiental como “guia” para essas atividades
Área de Estudo
Chuí é um município criado em 28 de dezembro de 1995, através de um processo de emancipação de Santa Vitória do Palmar (Fig. 2/1). Está localizado na Microrregião Sudeste Rio-Grandense e na Mesorregião Santa Vitória do Palmar (IBGE, 2000). Sua área municipal é de 203 Km², entre os paralelos 33°33’32’’ e 33°44’46’’ de latitude Sul e entre os meridianos de 53º17’56’’ e 53°31’28’’ de longitude Oeste. O município faz limite com o município de Santa Vitória do Palmar e fronteira com o Uruguai.
O município localiza-se na Planície Costeira do Rio Grande do Sul, sobre sedimentos recentes formados ao longo do Quaternário. Inserido na região hidrográfica litorânea, na bacia hidrográfica Mirim-São Gonçalo, apresenta como principal curso hídrico o Arroio Chuí, ponto mais meridional do Brasil, cuja nascente está localizada nos banhados localizados em Santa Vitória do Palmar.
A composição da cobertura vegetal do município, segundo o Projeto RADAMBRASIL (IBGE, 1986), é característica das áreas das Formações Pioneiras, sendo estas formadas nas primeiras fases de ocupação de novos solos constantemente rejuvenescidos. Estas formações independem do clima, razão pela qual são encontradas esparsamente distribuídas pela Planície Costeira. Nestas áreas encontram-se espécies desde herbáceas até arbóreas, com ocorrência de variadas formas biológica, adaptada às diferentes condições edáficas aí reinantes. Por estarem basicamente sob influência marinha ou fluvial, estas áreas estão subdivididas em duas formações: Áreas de Influência Marinha – “Restinga”; e Áreas de Influência Fluvial.
Figura 2/1. Mapa de localização da área de estudo
Materiais e Métodos
Na estruturação do banco de dados foi utilizado o SIGs IDRISI Andes® e o software de apoio CartaLinx. Através de dados já existentes e disponibilizados por diversos órgãos públicos foi possível elaborar os seguintes mapas temáticos:
• Mapa base – carta imagem: esse mapa foi gerado por digitalização de informações relevantes das cartas topográficas do exército (1:50.000) e posterior superposição sobre a base georreferenciada de uma imagem de satélite Landsat 5 de 2007, o que facilitou na atualização de algumas informações;
• Geologia e Geomorfologia: digitalização do mapa geológico Fonte: Centro de Estudos Costeiros e Oceânicos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ano, escala
• Solos e capacidade de uso das terras: digitalização do mapa de solos da EMBRAPA Clima Temperado, Pelotas, RS (Fonte: autor, ano, escala)
• Hidrografia: digitalização de cartas topográficas na escala de 1:50000 com posterior atualização através da imagem Landsat;
• Hidrogeologia: digitalização das informações do Mapa Hidrogeológico do Rio Grande do Sul . Fonte: Serviço Geológico do Brasil, CPRM, 2006, escala: .
• Unidades de Paisagem Natural: digitalização das informações do Mapa de Unidades de Paisagem Natural do Rio Grande do Sul disponibilizado pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul;Fonte: (autor, data, escala)
• Vegetação e uso atual do solo: mapeamento digital por classificação supervisionada de imagens de satélite Landsat TM5, 2007, órbita-ponto 222_083.
Resultados e Discussões
A utilização do sensoriamento remoto e geoprocessamento neste trabalho, assim como em outros trabalhos com mesma temática, ainda necessitam de melhor aperfeiçoamento a fim de proporcionar melhor desenvolvimento conceitual e prático. Porém, os resultados que atualmente observamos, apresentam benefícios amplos na análise do ambiente físico. A exemplo disso, o trabalho realizado no município do Chuí implementou um banco de dados completo, contendo mapas digitalizados e georreferenciados. A obtenção das informações para a formulação do banco de dados foi facilitada pela razão de haver grande quantidade de informações disponíveis. Dentre os mapas, foram elaborados o mapa base, mapas de geologia e geomorfologia (Figura 4/1), solos (Figura 4/2), capacidade do uso das terras, hidrografia, hidrogeologia, unidades de paisagem natural, vegetação e uso atual do solo (Figura 4/3).
Como já abordado, esses mapas compõem uma base importante para as futuras tomadas de decisões do poder público, pois estará disponível juntamente com o Plano Ambiental Municipal, instrumento facilitador das ações de gestão do município. Com este banco de dados a tomada de decisão para o licenciamento local será facilitada.
Figura 4/1. Mapa Geológico do município do Chuí
Figura 4/2. Mapa de Solos do município do Chuí
Além disso, por ser um município de fronteira internacional (faz divisa com o município do Chuy, no Uruguai) a estruturação do banco de dados realizado para o município contribuirá para execução de ações compartilhadas entre os dois países, visando a conservação dos recursos naturais no processo de desenvolvimento social e econômico da região. A utilização de imagens do sistema Landsat 5 de 2007 para o mapeamento da vegetação e uso atual do solo permitiu localizar com detalhe as classes de uso no âmbito do município. Isso foi facilitado pela pequena extensão territorial do Chuí, o que permitiu conferir em campo todas as classes mapeadas. Esse mapa é valioso para a determinação das áreas de proteção legal e também como base para um zoneamento ambiental municipal futuro.
Todas as informações temáticas do banco de dados contruído poderão servir de base para elaboração de mapas de vulnerabilidade ambiental relativa (como desenvolvido por Tagliani, 2002) assim como propostas de zoneamento ambiental como as realizadas por Manzolli (2007) e Fredo (2008) utilizando essa metodologia para os municípios de Turuçu e Arroio Grande, respectivamente.
Os mapas do município do Chuí contém toda a informação mais atualizada disponível, permitindo uma gestão local com conhecimento das características do meio físico municipal, colaborando também para que haja interesse em implementação de novos empreendimentos. Entretanto, um inventário físico-espacial de uma determinada área deveria contemplar também um diagnóstico das potencialidades, possibilidades, condições favoráveis, restrições, conflitos e problemas ambientais (Costa et al.,2002).
Figura 4/3. Mapa de Vegetação e Uso Atual dos Solos
Conclusões
A utilização de ferramentas de geoprocessamento do software Idrisi Andes® mostrou-se de importância fundamental para a elaboração do banco de dados geográfico do Chuí, como já comprovado em outros trabalhos. A capacidade de agrupar e cruzar dados é uma das vantagens que os SIG’s proporcionam, tornando mais fácil o manuseio de uma grande quantidade de dados.
A técnica de classificação utilizada para a elaboração do mapeamento da vegetação e uso do solo foi satisfatória para o objetivo do trabalho, uma vez que permitiu ao grupo de trabalho verificar e assegurar que as informações que estavam sendo geradas faziam parte da realidade do espaço municipal.
Espera-se que com a iniciativa de elaboração deste banco de dados outras informações que o próprio município possa gerar, além de centros de pesquisa estadual e federal, sejam incorporadas o que tornará ainda mais eficiente a gestão ambiental municipal através deste importante instrumento de tomada de decisão. .
Agradecimentos
Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Associação dos Municípios da Zona Sul do Rio Grande do Sul (AZONASUL), a Prefeitura Municipal do Chuí e a Votorantin Celulose a Papel.
Carlos Alberto Seifert Junior
junior.furg@gmail.com
Eduardo Farina
eduardopawlak@yahoo.com.br
Luis Felipe Ferreira de
Mendonça
lfelipem@msn.com
Bruno Lainetti Gianasi
lainettibr@hotmail.com
Allan de Oliveira de Oliveira
allandeoliveira2@yahoo.com.br
Carlos
Roney Armanini Tagliani
ctagliani@log.furg.br
Universidade Federal do Rio Grande
Instituto de Oceanografia – IO/FURG
Referências Bibliográficas
Costa, A.M.; Uberti, A..A.A.; Santanna, W.C. Sensoriamento remoto aplicado gestão ambiental: uma ferramenta para a análise multidisciplinar. In: COBRAC 2002, 4o. Congresso Brasileiro de Cadastro Técnico Multifinalitário. UFSC, Florianópolis, 06-10 de outubro de 2002.
Fredo, G. C., 2008. Subsídios técnicos para o Planejamento Ambiental do município de Arroio Grande – RS. Monografia. Curso de Oceanologia, Universidade Federal do Rio Grande. 88p.
Manzolli, R. P., 2007. Subsídios técnicos para o Planejamento Ambiental do município de Turuçu – RS. Monografia. Curso de Oceanologia, Universidade Federal do Rio Grande. 76p.
Tagliani, C.R.A. 2002. A mineração na porção média da Planície Costeira do Rio Grande do Sul: estratégia para a gestão sob um enfoque de Gerenciamento Costeiro Integrado. 252f. Porto Alegre, RS. Tese de Doutorado – Instituto de Geociências, Programa de Pós-Graduação em Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS.