Por Eduardo Freitas

O termo “qualidade” é algo relativo, que deve sempre estar associado a outro fator. No seminário Qualidade de Dados Geoespaciais, que aconteceu no último dia 8 de julho em São Paulo, uma das melhores definições foi esta: qualidade é superar a expectativa do cliente.

Com o tema “Saiba como obter rapidamente uma base geográfia precisa”, mais de 160 pessoas estiveram reunidas no Bourbon Convention Ibirapuera, na capital paulista, para debater exclusivamente este assunto: a qualidade dos dados geoespaciais.

Inserida no contexto legal, social e econômico, a qualidade dos dados geoespaciais deve levar em consideração, entre outros fatores, os direitos autorais e a legislação que rege a produção e a disponibilização de mapas digitais. Além disso, é importante estar atento para as propriedades dos objetos, as formas das entidades, a realidade física, a imprecisão nos dados socioeconômicos e outras variáveis que influenciam na qualidade da informação.

Voltado para profissionais dos setores de transportes, gestão pública, infraestrutura, meio ambiente e geomarketing, entre outros, o seminário proporcionou aos participantes o acesso ao que há de mais importante sobre bases de dados geoespaciais, com a presença de especialistas do setor que apresentaram as tecnologias disponíveis para garantir a qualidade nas fases de coleta, integração, análise, disponibilização e atualização de mapas digitais.

Com o título “Qualidade de bases de dados geoespaciais: conceitos e tendências”, a primeira palestra do dia mostrou os diversos aspectos relativos aos mapas digitais, dando início ao aprofundamento no tema. O palestrante foi Wilson Holler, da área de gestão territorial estratégica da Embrapa Monitoramento por Satélite, e os debatedores foram Flávio de Almeida Pires, diretor presidente da Assesso; e Marco Fidos, diretor da Inovação, que fizeram suas considerações sobre o assunto.

Coleta

Através de uma enquete realizada recentemente no Portal MundoGEO, foi possível descobrir que fase mais influencia na qualidade dos dados geoespaciais. Para a grande maioria (73%) dos votantes, a coleta é considerada a fase mais crucial, ficando em segundo a integração de dados, com 12%, seguida da padronização (8%) e da modelagem (6%).

Para debater as diferentes formas de coleta de dados com altíssima precisão, foram convidados os especialistas Renato Asinelli Filho, diretor de aerolevantamentos da Engefoto; Roberto Ruy, coordenador de pesquisa e desenvolvimento da Engemap; Dieter Luebeck, gerente de sensoriamento remoto da OrbiSat; e Fernando Villasol, diretor de produtos para América Central e do Sul da Navteq. Este debate teve como objetivo discutir as vantagens e desvantagens das diferentes formas de coleta de dados usando aerolevantamentos, imagens de satélite e dados laser e radar, para aplicações que requerem alta precisão e acurácia.

Porém, existem casos nos quais a precisão pode ser deixada de lado em favor de uma aquisição e disponibilização mais ágil dos mapas. A resposta a desastres naturais é um exemplo de aplicação na qual um dia pode fazer toda a diferença. Para debater as formas de aquisição utilizadas quando o mais rápido é mais importante que o mais preciso, estiveram presentes Wagner Pacífico, diretor da Multispectral; Felipe Seabra, gerente da Digibase; e Cássio Fernando Rosseto, diretor da Geologística.

Interoperabilidade

Já a parte da tarde teve início com a palestra “Interoperabilidade: os desafios da validação e padronização de dados”, com a presença de Iara Musse Felix, diretora da Santiago & Cintra Consultoria; e Omar Antonio Lunardi, chefe da 3ª Divisão de Levantamento da Diretoria de Serviço Geográfico do Exército. Este debate, entre representantes da iniciativa privada e do setor público, mostrou como diferentes tecnologias podem contribuir para a validação e padronização de informações, visando a interoperabilidade de dados e serviços geoespaciais. Além disso, o coronel Omar apresentou com detalhes os aspectos sobre qualidade dentro da Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais (INDE).

Em seguida, Allan Brandt, diretor técnico da TerraVision; Adriano Junqueira, diretor da ProMaps; Marcelo Martino, líder em soluções de geoprocessamento da Logica; e Adriano Huguet, diretor da HGT, debateram sobre modelagem e integração, abordando a importância de manter a qualidade durante o agrupamento de diferentes informações em uma só base. Logo após aconteceu um debate sobre o compartilhamento de bases, entre Rafael de Melo Cuba, gerente de arquitetura do CPqD; Manoel Ortiz, diretor da Surface; e Antonio Machado, diretor da AMS Kepler, mostrando as diferentes formas de disponibilização de dados, desde a venda de arquivos digitais até a assinatura de serviços de mapas online.

Mapas colaborativos

Existem, hoje, várias iniciativas de mapeamento que utilizam, como fonte principal de dados, a colaboração do usuário. Um exemplo é o OpenStreetMap, um projeto colaborativo no qual entusiastas de todo o mundo estão literalmente mapeando o globo.

Para debater se o futuro dos mapas está nas mãos do usuário, foram convidados especialistas envolvidos em projetos de mapeamento colaborativo. Patrícia Azevedo, coordenadora do Programa Rede Jovem, mostrou sua experiência com o projeto Wikimapa, no qual comunidades carentes do Rio de Janeiro estão sendo cartografadas com o uso de telefones celulares. Já Rafael Siqueira, CTO da LBS Local, apresentou as vantagens de se contar com o apoio dos “neogeógrafos” na produção, validação e atualização de dados. Por fim, Renato da Silva Lima, pesquisador da Universidade Federal de Itajubá, mostrou como o mapeamento colaborativo pode auxiliar na obtenção de bases para Sistemas de Informações Geográficas (GIS), geralmente um reduto de especialistas.

Segundo Emerson Zanon Granemann, o evento teve vários pontos importantes. “Um destaque foi a fala de Renato Asinelli, que definiu bem a qualidade como a superação das expectativas dos clientes”. A partir disso, ficou claro que precisão e rapidez passam a ser definidas pelas necessidades do usuário. “Por outro lado, Rafael Cuba também nos deu um alerta importante, de que as relações dos usuários com os mapas estão mudando. As empresas que produzem os dados geográficos têm que estar atentas a essas transformações”, complementa.

Este seminário foi uma realização do Portal MundoGEO e da Revista InfoGEO, com apoio do Portal e Revista InfoGPS, UOL, Apontador|MapLink, Gristec, Abec-SP e Instituto GeoDireito, além do patrocínio das empresas Digibase, Santiago & Cintra Consultoria, HGT e AMS Kepler. O seminário contou ainda com o apoio de divulgação dos blogs GeoinformaçãoOnline, WebMapIt, TecGeoWeb, Fernando Quadro, Rascunho-Geo, GeoLuisLopes e GEOeasy.

+Informações
Baixe os arquivos pdf das palestras e o áudio em mp3:
www.mundogeo.com/seminarios/qualidade