Mais um recado à presidente Dilma e sua equipe
Gostaria de complementar meu artigo da edição passada, no qual enfatizei a necessidade do atual governo priorizar investimentos na área de cartografia e cadastro rural, destacando a importância destas informações como base para aplicar melhor os recursos, bem como avaliar de forma mais eficiente os investimentos públicos. Acabei não citando o cadastro multifinalitário, que tem a ousada – mas necessária – missão de dotar os municípios de uma base única de informações.
O Programa Nacional de Capacitação de Cidades, do Ministério das Cidades, recentemente lançou as Diretrizes para a criação, instituição e atualização do Cadastro Territorial Multifinalitário nos municípios brasileiros. A ideia é simples, mas de uma enorme importância: orientar as prefeituras a elaborar projetos de cadastramento, que não se limitem apenas à área urbana e às informações tributárias. A iniciativa tem o objetivo de sensibilizar o poder executivo dos municípios a seguir esta orientação quando da contratação dos serviços.
Estes procedimentos não são obrigatórios, por enquanto, mas deveriam ser. Para isso, em paralelo, o poder legislativo deve se sensibilizar para propor legislação específica que determine uma melhor destinação dos recursos de mapeamento e cadastramento do território nacional. Com isso, a gestão pública terá informações mais completas para orientar as tomadas de decisão, sepultando de vez decisões meramente políticas que, muitas vezes, desperdiçam verbas importantes. Capacitar as prefeituras passa a ser essencial para modernizar a gestão pública, meta principal do Ministério das Cidades.
O fator geo nas transformações no Oriente Médio
Nos recentes acontecimentos de transformações sociais e políticas no Oriente Médio, o Facebook e o Twitter levaram a fama por serem as ferramentas chaves para as sociedades acompanharem as mudanças do mundo e para organizarem as mobilizações. Mas não podemos nos esquecer do Google Earth, que há tempos vem mostrando à população local os reais contrastes do país onde vivem.
Vejamos um exemplo, mostrando uma questão no Bahrein, relacionada à população xiita que desejam se casar e construir casas, mas para isso têm que enfrentar a desigualdade da distribuição de terras. Em 27 de novembro de 2006, antes das eleições no país, o jornal The Washington Post publicou uma reportagem sobre um morador de uma casa minúscula, vivendo com mais 16 parentes. Ele relatou que ficou muito indignado quando viu, através de imagens de satélite na web, as grandes áreas de terra não ocupadas, contrastando com as dezenas de milhares de pessoas, em sua maioria xiitas pobres, se espremendo em áreas pequenas e densamente populadas. O morador afirmou que “a gente vê no Google quantos palácios existem aqui e como os al-Khalifa (a família sunita que é dona do poder) pegaram o resto do país para si”. Desde então, ativistas vêm encorajando as pessoas a ver de cima, pelo Google Earth, as imagens das dezenas de palácios reais.
Emerson Zanon Granemann
Engenheiro cartógrafo, diretor e publisher da Editora MundoGEO
emerson@mundogeo.com