O projeto Wikimapa abre mais uma porta ao conhecimento geográfico no Morro do Alemão

O último dia 10 foi de correria e festa para os colaboradores do Programa Rede Jovem, que se instalaram por uma tarde no Morro do Alemão, para lançar uma nova etapa do projeto Wikimapa. Trata-se do início das ações de mapeamento colaborativo naquela comunidade.

Wikirepórteres com coordenadoras e financiadores do projeto. Crédito: Ronaldo Pereira

Mas esse trabalho irá mais adiante das coordenadas geográficas, sem deixá-las de lado, é claro. Um dos objetivos dessa expansão é elevar os potenciais sociais e econômicos que existem na comunidade, através do mapeamento de grupos, ações e locais que oferecem produtos, serviços, cultura, educação para o desenvolvimento local, como explica Patrícia Azevedo, coordenadora estratégica da Rede Jovem.

“O Complexo do Alemão foi a região escolhida devido ao processo de ocupação das forças militares em novembro de 2010 e o surgimento de um novo espaço, então destinado ao desenvolvimento social dessa região”, conta Patrícia.

As ações de mapeamento colaborativo, como as do Wikimapa, permitem que as pessoas da comunidade se identifiquem mais com o local onde moram, transformando-as em protagonistas das mudanças sociais. Patrícia ressalta que “ao propiciar a elevação da autoestima a partir do empoderamento social desses atores, o Wikimapa incita uma postura ativista em contraposição ao comportamento passivo herdado de sistemas assistencialistas implantados ao longo dos anos em regiões de baixa renda”.

O trabalho do Wikimapa será realizado com a participação da comunidade, através dos trabalhos desempenhados por jovens de diferentes comunidades do Complexo do Alemão. Segundo Patrícia, a evolução do projeto pode ser observada pelo caso do Morro Santa Marta, que hoje conta com 42 ruas registradas, no Wikimapa.

Wikimapa é base para outros projetos

Além de subir o morro, o Wikimapa mergulhou no projeto “Pelos Caminhos das Águas”, do Comitê de Bacias Hidrográficas dos rios Aguapeí e Peixe (CBH-AP), e percorreu as comunidades para mostrar os recursos hídricos que compõe as bacias hidrográficas, os municípios envolvidos, além da caracterização socioeconômica e ambiental. A professora Arlete Meneguette, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), conta que o grupo do CBH-AP, o qual ela também auxilia, está usando o Wikimapa para esse trabalho, já que o programa é mais intuitivo e de fácil utilização pelos estudantes.

“Desta vez a proposta é que os próprios professores e estudantes participem da elaboração dos mapas a partir do conhecimento local da realidade. Assim sendo, o foco das nossas oficinas será o mapeamento colaborativo, no qual pretendemos capacitar os educadores para que eles possam envolver seus estudantes na iniciativa usando as novas tecnologias da informação e comunicação, as geotecnologias, as redes sociais etc”, explica Arlete.

De acordo com informações do CBH-AP, essa iniciativa demonstra as possibilidades de democratização do acesso às novas tecnologias, como forma de conferir mais poder a parte social, capacitando os diversos públicos para distribuição de conhecimento.

“Eu acredito que os habitantes de um lugar são as melhores fontes de informações, as mais confiáveis e atualizadas”, completa Arlete.

O projeto Wikimapa

O Wikimapa foi desenvolvido em 2009 para dar visibilidade aos potenciais da favela, através do conhecimento local, contribuindo para o aumento de investimentos nessas regiões, até então estigmatizadas pela opinião pública, além de ser uma ferramenta poderosa para impulsionar políticas públicas, explica Patrícia Azevedo.

Segundo os dados do projeto, o mapa virtual conta hoje com cerca de 1.100 colaboradores, pessoas que criaram seu perfil para realizar mapeamentos em qualquer que seja a sua vizinhança. Já são mais de 1.500 locais mapeados e 92 ruas registradas no mapa.

Além disso, qualquer pessoa pode se cadastrar na ferramenta e se tornar um colaborador do projeto. “Não queremos criar o mapa da favela, mas colocar a favela nos mapas das cidades”, diz Patrícia.

Apesar do Wikimapas não contar com uma equipe técnica especializada em geoprocessamento, o projeto utiliza ferramentas como APL do Google Maps e com um aplicativo móvel integrado, criado pelo Programa Rede Jovem para o mapeamento de pontos de interesse e ruas até então não registradas nos mapas virtuais disponíveis na web. “Estamos criando, com o Wikimapa, uma camada cartográfica sobreposta ao Google Maps que indica a existência dessas ruas, becos e vielas, no entanto, a localização exata destas não pode ser garantida pelo uso do aplicativo” finaliza.

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