Diante do sucesso de capacitar povos indígenas e moradores de comunidades tradicionais na Amazônia, como quilombolas, pescadores, ribeirinhos e quebradeiras de coco babaçu, começa a ser desenhada uma nova fase para o Projeto Nova Cartografia Social na Amazônia (PNCSA) – criado em 2005 pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) – com o apoio financeiro de R$ 4,6 milhões do Fundo Amazônia do BNDES.

Pelo projeto, coordenado pelo antropólogo Alfredo Wagner Berno de Almeida, esse público, nos últimos anos, adquiriu conhecimentos sobre o uso de tecnologias modernas, como softwares e técnicas de GPS, e sobre linguagem cartográfica formal, pelos quais começaram a produzir mapas e monitorar em tempo real suas próprias terras. Agora, os beneficiados podem contribuir no acompanhamento dos efeitos da devastação ambiental e dos desmatamentos provocados pela expansão dos agronegócios. Esse regulamento pode também ter efeitos no avanço da pecuária, das madeireiras e da exploração mineral. Na prática, com o apoio do BNDES, esse pode ser o próximo passo do projeto que beneficia também seringueiros, castanheiros, piaçabeiros, peconheiros, além de povos indígenas e outras comunidades tradicionais na Amazônia.

“Em virtude disso, têm-se condições de possibilidade para se pensar, sob outro prisma, os efeitos da expansão dos agronegócios, principalmente do cultivo da soja, do dendê e do eucalipto, bem como da expansão pecuária, madeireira e da exploração mineral (com a elevação dos preços das commodities minerais e do ouro)”, disse o antropólogo, também professor da UEA.

Os resultados dessas atividades, segundo acrescenta Almeida, permitem informações mais precisas e cartograficamente localizadas sobre desmatamento, devastação ambiental e contaminação de recursos hídricos. “Esses resultados podem ser combinados com outras iniciativas de pesquisa que têm sido levadas a cabo notadamente pela Embrapa”, complementa o antropólogo.

Projetos de pesquisa do governo

Hoje os projetos de pesquisa do governo são realizados pela Embrapa Monitoramento por Satélite. Segundo informações desse órgão, o número de projetos de pesquisas em execução cresceu mais de 150% de 2009 a 2011. Se considerar projetos financiados por fontes externas e pela Embrapa (nacional), o total passou de oito projetos, em 2009, para 23 em 2011, com destaque para temas como georrastreabilidade, monitoramento de pastagens degradadas, balanços ambientais, sistemas de monitoramento do uso e cobertura das terras, dentre outros. Conforme as informações, tal crescimento foi acompanhado pela ampliação da rede de parceiros e colaboradores, incluindo instituições nacionais e internacionais de pesquisa, entidades governamentais e do setor privado, além de Unidades da Embrapa.

O chefe-geral da Embrapa Monitoramento por Satélite, Mateus Batistella, que este ano foi reconduzido ao cargo por mais três anos, diz ser fundamental o conhecimento sobre as relações espaciais entre fatores biofísicos e humanos, como base para um desenvolvimento sustentável, diante dos desafios globais de elevar a produção de alimentos e minimizar os impactos ambientais.

Apoio financeiro

Apoiado inicialmente pela Fundação Ford, o Projeto Nova Cartografia Social foi contemplado em junho do ano passado pelo Fundo Amazônia, do BNDES, com recursos de R$ 4,6 milhões para serem executados no decorrer do quadriênio 2011-2014. O antropólogo possui também bolsa de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“Trata-se de uma nova fase com respeito aos financiamentos de pesquisas científicas, com uma ação de apoio do BNDES a núcleos de pesquisa de universidades públicas”, destaca o antropólogo, também conselheiro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), referindo-se ao apoio do Fundo Amazônia.

Com os recursos do Fundo Amazônia, que foram liberados no final de 2011, começaram a ser instalados oito “laboratórios cartográficos” em universidades públicas do Acre, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Maranhão, Mato Grosso e Amapá. Essa montagem ocorre por intermédio da sede (do projeto) localizada na Universidade do Estado do Amazonas, em Manaus.

Segundo o mencionado professor, já foram publicados cerca de 130 fascículos, com os respectivos mapas desenvolvidos por moradores de comunidades tradicionais da Amazônia, cujas informações estão disponíveis no site do projeto Nova Cartografia Social. Foram publicados também 29 livros no âmbito do PNCSA, sendo que alguns refletem relações de pesquisa com cientistas da Argentina, Colômbia, Venezuela e Bolívia.

Prêmios recebidos

Refletindo o reconhecimento ao desempenho social do PNCSA, o coordenador do Projeto Nova Cartografia Social recebeu o prêmio “Visonaries Award” de US$ 100 mil da própria fundação em maio de 2011 e o doou às instituições públicas que abrigam o projeto.

Fonte: Jornal da Ciência