Diretor de Certificação de Interoperabilidade do OGC

Licenciado com graduação em engenharia industrial pela Universidade los Andes, com mestrado e doutorado em engenharia civil com ênfase em informática ambiental pela Universidade de Drexel. Bermudez conta com 15 anos de experiência no desenvolvimento de software, GIS, web semântica, integração de dados e coordenação de projetos multi-institucionais. Hoje, é diretor de certificação de interoperabilidade do Consórcio Geoespacial Aberto (OGC) e professor no programa de mestrado Geographic Information Systems, na Universidade de Maryland. Foi diretor técnico de pesquisas costeiras na Southeastern University Research Association.

MundoGEO: Como é a estrutura e quais são os objetivos do OGC?

Luis Bermudez: O OGC tem como missão promover o uso de padrões e tecnologias abertas na área dos sistemas e tecnologias da informação geográfica e áreas afins. Os membros do OGC se reúnem em mais de 50 grupos de trabalho onde, voluntariamente, promovem padrões e desenvolvem “melhores práticas” no uso dos padrões.

As atividades do OGC se articulam ao redor de quatro programas: especificação; cumprimento; interoperabilidade; e mercado e comunicações.

MG: Que tipo de empresas e instituições formam parte do OGC, hoje, e quem são os mais ativos?

LB: O OGC conta com mais de 430 membros em todo o mundo. Os membros são empresas, agências governamentais, universidades e indivíduos. Organizações e indivíduos podem unir-se ao OGC como membros associados, técnicos, diretores e estratégicos (saiba mais em http://bit.ly/m2fRTj). A interação dos membros depende, muitas vezes, do nível de associação. Por exemplo, os membros técnicos votam por novos padrões no comitê técnico, mas os membros associados não. Os membros estratégicos assessoram a junta Diretiva e o comitê de planejamento, além de muitas vezes proverem recursos de tempo completos para promover os padrões do OGC. A lista completa de membros e o tipo de associação está disponível no site do OGC: http://bit.ly/eQeOkb.

Luiz BermudezGraças à existência do OGC, o desenvolvimento de tecnologias para compartilhamento de dados geoespaciais em todo o mundo tem sido um êxito. Muitas vezes, o sucesso se deve aos interessados que fazem parte dos grupos de trabalho. Caso se olhe de perto a lista de membros, vê-se que existem muito poucos na América Latina. Isto significa uma oportunidade muito grande para organizações que pensem em unir-se ao OGC em curto prazo e, desta maneira, liderar o uso e a melhora de padrões geoespaciais na região.

MG: Como a computação distribuída está mudando a forma como os usuários utilizam as informações geoespaciais?

LB: A possibilidade de realizar consultas velozes para responder à interminável pergunta “onde?”, usando a internet, é sem dúvida um dos benefícios mais importantes da computação distribuída. O desenvolvimento da internet tem permitido que organizações em todo o mundo possam conectar-se a uma grande rede de comunicação e publicar informação para que outros possam acessar e utilizar. Uma solicitação de um usuário na web inicia uma cadeia de processos que se realizam em sequência rápida pelos computadores em qualquer parte do mundo. Onde está o hospital mais próximo?, Onde está o restaurante que oferece a melhor “Feijoada”? Será que nas próximas duas horas vai chover onde eu estou? Estes são exemplos de consultas que hoje em dia um usuário pode fazer com grande facilidade.

Nós na internet podem prover serviços especializados, como por exemplo encontrar uma entidade pelo nome (“Estádio do Maracanã”). Uma vez conhecida a entidade, outro serviço pode prover a localização. Um outro serviço pode prover a representação vetorial da fronteira exterior do estádio. Outro serviço pode prover mapas internos do estádio. Uma aplicação móvel pode utilizar todos estes serviços e outros mais para processar e entregar esta informação instantaneamente a um usuário em qualquer parte do mundo.

Os dados já não estão encerrados em um sistema GIS como há anos, mas estão à disposição de todos. Desde 1994 tem sido a missão do OGC ajudar para que a informação geoespacial seja uma parte integral da informação do mundo e que esta possa ser acessada na web. Nossa visão se está fazendo realidade.

MG: O que são as codificações OGC? Quais são as principais e quais são suas aplicações?

LB: As codificações do OGC são padrões que especificam como se devem representar as mensagens e os dados geoespaciais. Muitos dos padrões do OGC utilizam como base de codificação o padrão XML, que define um formato de texto controlado por um documento de esquema XSD. Exemplos de padrões de codificação do OGC são: Keyhole Markup Language (KML), Geospatial Markup Language (GML), NetCDF, SensorML, Observations and Measurement (O&M), Open GeoSMS Encoding, Style Layer Description (SLD) e Symbology Encoding (SE).

MG: O que são os OGC Web services?

LB: OGC Web Services definem a interface, ou seja, a linguagem de comunicação (um conjunto de consultas e respostas) que um cliente e um servidor devem seguir para comunicar-se entre si e poder intercambiar ou processar dados geoespaciais. Alguns exemplos destes serviços são: Web Map Service (WMS), Web Feature Service (WFS), Sensor Observation Service, Web Coverage Service (WCS), Open GeoSMS Interface e Web Processing Service (WPS).

MG: Quais são as principais recomendações do OGC para a construção de Infraestruturas de Dados Espaciais (IDE)? Estas recomendações são válidas para os países da América Latina?

LB: David Schell, o fundador do OGC, disse, “A interoperabilidade parece ser a integração da informação. O que na realidade se trata é da coordenação do comportamento organizacional”. Os obstáculos técnicos para o intercâmbio de informação estão desaparecendo rapidamente. A coordenação das organizações envolvidas em uma IDE necessitam de um ponto neutro e de um processo para a criação exitosa da IDE. Isto é válido em todas as partes do mundo, incluída a América Latina. O êxito do OGC se baseia em poder oferecer este espaço e processos para fomentar acordos entre organizações e desenvolver padrões. Um dos modelos que o OGC utiliza, e que as IDE poderiam usar para o desenvolvimento e implementação de tecnologias, é o Modelo de Referência para o Processamento Distribuído Aberto (RM-ODP, na sigla em inglês). O modelo identifica cinco pontos de vista que tratam as diferentes partes do sistema: empresarial, informação, informática, engenharia e tecnologia.

MG: Em sua opinião, quais são as tendências na indústria geoespacial para os próximos anos? O OGC já está pronto para estes desafios?

LB: O escritor de ficção científica William Gibson, disse: “O futuro já está aqui. Só que não está distribuído uniformemente”. A indústria seguirá beneficiando-se de uma melhor infraestrutura. Alguns países mais que outros, mas a cada dia é menor a diferença. Quando falo de infraestrutura, me refiro a mais largura de banda para conectar-se à internet, mais computação distribuída, mais processos na nuvem, computadores que processam informação mais rápido, mais fontes de dados que produzem mais dados, muito mais dispositivos móveis com melhores processadores interconectados entre si. Também vemos tendências que têm a ver com a apresentação da informação. Serviços Rest, a web semântica e a participação das redes sociais na criação e validação de dados geoespaciais. Os grupos de trabalho no OGC são conscientes destas tendências. Estes grupos são formados por experts em suas áreas, e deles nascem muitas ideias que culminam como um padrão do OGC. Por isto, convido novamente as organizações na América Latina que se unam ao OGC para que, entre todos, ajudemos a identificar tendências e oportunidades de padronização em nossa América.