A Embrapa lança nesta terça-feira (29) sistema que reúne e disponibiliza informações sobre uso da terra, potencialidades produtivas e áreas de proteção, sob a perspectiva dos zoneamentos ecológico-econômicos dos nove estados brasileiros que compõem a Amazônia Legal. O Sistema Interativo de Análise Geoespacial da Amazônia Legal ( Siageo) é uma base de informações territoriais integradas que pode ser utilizada para diversas finalidades.

O Siageo está disponível para gestores públicos, instituições de fomento, secretarias de estado e municípios e outros agentes que trabalham com o planejamento regional, além da sociedade em geral. Pode ser acessado na internet e permite um maior conhecimento sobre o território amazônico. O trabalho foi desenvolvido no âmbito do Projeto Uniformização dos Zoneamentos Ecológico-Econômicos da Amazônia Legal (UZEE), executado pela Embrapa e Ministério do Meio Ambiente.

São inúmeros dados sobre os solos, clima, vegetação, aptidões agronômicas, informações socioeconômicas, aspectos legais e institucionais, produzidos nas iniciativas de zoneamentos ecológico-econômicos de nove estados brasileiros: Acre, Amapá, Amazonas, oeste do Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.

Os dados são georreferenciados e correspondem a aproximadamente 650 camadas temáticas, cada uma com informações específicas, como cobertura vegetal, geologia, áreas indígenas, etc, que geram a composição dinâmica de mapas. Esses dados, gerados pelos estados durante a elaboração de seus zoneamentos, alimentam o Siageo, que conta com a parceria de secretarias de meio ambiente, planejamento e desenvolvimento regional em diferentes cidades da Amazônia Legal.

“Recebemos em torno de 2.500 mapas e arquivos dos estados e, após filtragem e tratamento dos dados, estamos disponibilizando em torno de 650”, explica o pesquisador João Vila, da Embrapa Informática Agropecuária (SP), e coordenador do desenvolvimento do sistema. O processo de atualização do Siageo é contínuo, por isso a parceria com os estados é fundamental.

Qualquer pessoa pode se cadastrar no Siageo e realizar consultas espaciais a partir de qualquer uma das camadas temáticas disponíveis no catálogo do sistema. Os resultados são relatórios com as análises espaciais, como áreas em comum, distância, além de mapas, realizados de acordo com a solicitação do usuário.

Um empreendedor pode identificar rapidamente a interseção ou proximidade da sua propriedade ou área de interesse em relação a qualquer tema contido no sistema, por exemplo, em que tipo de solo se encontra ou a que distância se localiza determinada terra indígena ou unidade de conservação. Da mesma forma um agente de crédito rural pode situar a propriedade de seu cliente, elaborar um relatório espacial e saber sobre as condições ambientais dessa fazenda, auxiliando na sua tomada de decisão. “Não temos conhecimento de outra ferramenta com essas características técnicas que já tenha sido customizada e esteja voltada para a Amazônia Legal como o Siageo”, afirma o pesquisador.

Um olhar macro sobre a região

Rodrigo Sabino, diretor de Zoneamento Ecológico-Econômico, da Secretaria de Planejamento do Estado do Tocantins, diz que a parceria com a Embrapa vem desde a década de 1990, quando foi elaborado o zoneamento da região do Bico do Papagaio, localizada ao norte do estado. “Na época nossa proposta era fazer o ordenamento territorial do recém-criado estado do Tocantins, a partir da definição de áreas para expansão produtiva, proteção e conservação”, relembra o diretor.

Os dados do ZEE da região norte do Tocantins (Bico do Papagaio) foram compatibilizados e disponibilizados no Siageo, assim como dados de outros dez zoneamentos estaduais produzidos na região. O sistema, ao mesmo tempo em que valoriza as particularidades dos estados e dos municípios, possibilita uma visão macrorregional da Amazônia Legal. “Saber o que está sendo planejado no território vizinho ajuda a implementar as estratégias de uso e ocupação do seu território. Nós sabemos que os agentes privados nacionais e internacionais já atuam sob essa lógica territorial e não pontual”, afirma Rodrigo Sabino.

O Macrozoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia Legal também está disponibilizado no Siageo. Ele foi elaborado a partir de uma ampla discussão entre o poder público, segmento produtivo, movimentos sociais, povos tradicionais e a sociedade civil em geral, sob a liderança do Ministério do Meio Ambiente, e contém todas as informações dos nove estados sobre as áreas protegidas, áreas de assentamentos, terras indígenas e quilombolas, informações sobre a economia e organização política dos estados, biomas e ecorregiões, vegetação, bacias hidrográficas, além de tipos de uso da terra, como uso agrícola, pecuária, extrativismo, reflorestamento e outros.

Do ponto de vista do planejamento ambiental e desenvolvimento da região, as informações disponibilizadas no sistema e a emissão de relatórios de análises espaciais são subsídios que orientam estados, municípios e o governo federal sobre a formulação de políticas públicas para a região. “As pessoas podem lançar mão de informações confiáveis de qualquer um dos nove estados da Amazônia Legal e efetuar análises sobre suas demandas”, garante João Vila, pesquisador da Embrapa.

Tecnologia livre e de fácil acesso

O desenvolvimento do Siageo foi baseado em plataforma de softwares livres. O pesquisador João Vila explica que inicialmente foi gerado um banco de informações geográficas utilizando o software Quantum GIS e o conteúdo desse banco foi disponibilizado via web através da customização do software livre i3Geo, Versão 5.0. Além disso, foram utilizadas ferramentas livres de Tecnologia da Informação, entre elas o Sistema Operacional Linux.

Além do conhecimento técnico da Embrapa e do Ministério do Meio Ambiente na manipulação e uso dessas plataformas, o custo zero na aquisição, manutenção e atualização desses sistemas operacionais e banco de dados foi um fator determinante na escolha deles. “Isso sempre será uma vantagem em relação aos softwares proprietários”, ressalta o pesquisador.

Outra vantagem tecnológica é que não há necessidade de o usuário instalar ou manter qualquer software em seus computadores, sendo necessário apenas um microcomputador com navegador e internet para acessar, se cadastrar e utilizar as funcionalidades do sistema. “As aplicações são amigáveis e um usuário com pouco conhecimento em tecnologia opera o sistema, permitindo diferentes tipos de acesso de dados”, completa Vila.

O sistema está sendo lançado após dois anos e meio de trabalho na versão 2.5. Mas é dinâmico e tem atualizações constantes para melhoria das suas funcionalidades. O objetivo é que ele se estabeleça como um local de convergência dos dados geoespaciais sobre a Amazônia Legal, permitindo disseminar o conhecimento técnico sobre a região e subsidiar a formulação e a espacialização de planos, programas e políticas públicas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Uniformização dos Zoneamentos da Amazônia Legal

O Siageo foi desenvolvido no âmbito do Projeto Uniformização do Zoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia Legal (UZEE), coordenado pela Embrapa Amazônia Oriental e Ministério do Meio Ambiente (MMA). O projeto aponta quais as áreas aptas para o plantio de espécies produtoras de energia em todos os estados da Amazônia Legal e implementa o sistema integrado de informações sobre a região.

O zoneamento ecológico-econômico (ZEE) é uma ferramenta de gestão que, por meio da análise de mapas de aptidão agrícola, solos, clima, potencial socioeconômico e outros, indica os potenciais produtivos de regiões, estados e municípios, valorizando as caraterísticas de cada área, suas vocações, suas fragilidades e a população local. Nem todos os estados da Amazônia Legal possuem zoneamentos aprovados no MMA ainda e o trabalho do grupo foi uniformizar legendas, mapas, classes de uso e cobertura da terra, entre outros atributos, nessas ferramentas, e organizá-las em torno de um sistema interativo.

Como a produção de energia renovável e sustentável é um desafio global, o UZEE Amazônia Legal está indicando as espécies agroenergéticas mais adaptadas à região e as áreas aptas para o cultivo. Entre as espécies florestais identificadas está o tachi-branco, cujo sistema de produção já foi desenvolvido pela instituição de pesquisa. A intenção não é restringir as potencialidades da região, nem impor outras atividades produtivas, mas sim racionalizar o uso do território e organizá-lo em torno de premissas ambientais, econômicas e sociais que respeitem e valorizem a vocação da região.

“Com o Projeto UZEE Amazônia Legal, foi possível articular todos os zoneamentos feitos para os estados da região e potencializar o uso de áreas antropizadas – já modificadas pelo homem – para a agricultura, pecuária e floresta, numa perspectiva macrorregional”, explica Adriano Venturieri, coordenador do projeto e chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental (Belém, PA).

Território – Dos 5.217.423 km² que integram a Amazônia Legal, um total de 1.740.608,4 km² foi observado pelo projeto UZEE-AML. Essa área é um recorte das áreas alteradas pela ocupação humana na região e entorno, em um raio de 5 km. Ela é constituída por áreas desflorestadas e áreas com cobertura florestal que têm um maior grau de vulnerabilidade.

Um dos resultados do projeto é a proposta de criação de alguns corredores ecológicos dentro da área observada, visando a conexão de florestas remanescentes e áreas de vegetação secundária para a conservação da biodiversidade nesses locais. “A ideia é diminuir a pressão sobre as florestas primárias e em regeneração e aproveitar melhor as áreas já antropizadas utilizando sistemas de produção mais intensivos, com elevada produtividade”, finaliza Venturieri.

Fonte: Embrapa