Compartilhar é o caminho

Muito já se falou sobre a importância da Base Digital no que se refere à confiabilidade do Sistema de Informações. Inúmeros autores têm dissertado a respeito da necessária Estruturação Topológica dessa Base quando elaborada para pano de fundo do Sistema.

Mesmo assim, cabe ainda falar de algumas atividades municipais peculiares, como as de serviços públicos (gás, eletricidade, água, esgotos) enfocando aspectos de articulação entre a informação espacial e seus atributos. Nesses casos há particularidades a encarar de ordem estratégica e técnica.

Quanto à estratégia, tem se mostrado fundamental a integração entre a Prefeitura (como órgão articulador) e os prestadores de serviços essenciais de infra-estrutura (tanto usuários do Sistema quanto investidores). As Prefeituras que têm conseguido viabilizar com maior facilidade a implantação de sua estrutura Geo são as que se reuniram com prestadoras de serviços públicos, dividindo investimentos e procurando ratear custos na busca de objetivos comuns. Algumas dessas empresas não pertencem à Prefeitura e até mesmo fazem parte do Estado, que eventualmente pode ter outro alinhamento político. Mesmo assim, percebeu-se que a união de esforços proporciona um fim satisfatório para todos.

O uso de uma central de GIS compartilhada por várias instituições é possibilitado por um criterioso estudo de organização e gestão da base de dados, onde alguns são usuários da base espacial com pleno direito a intervenções de todos os tipos em sua cópia – sem, contudo, poder modificar o original.

Projetos que possam vir a alterar o conteúdo básico são tratados de forma especial quanto à necessidade e responsabilidade de atualização pelo órgão gestor. Alguns municípios têm dado início ao processo, com cobertura aerofotogramétrica e restituição digital, bancados por empresas públicas de saneamento ou eletricidade, por exemplo. Nessa situação, a Prefeitura já está desde o início conveniada com esses órgãos.

Existem municípios que cederam o mapeamento digital a instituições prestadoras de serviços básicos em troca do mapa de suas redes. Há até o caso de uma empresa de água e esgoto que usou suas equipes de cadastro de redes na atualização do cadastramento de logradouros e imóveis da Prefeitura, obtendo vantagens e benefícios para si própria.

O uso compartilhado de sistemas de informações já é um princípio fundamental no geo. É um comportamento rotineiro quando se trata das Secretarias de uma prefeitura no nível corporativo. Entretanto, estamos enfocando um passo à frente. Consideramos que essa união pode ser feita também com organizações externas que prestem serviços à municipalidade.

Quanto aos aspectos de ordem técnica, o assunto assume outras facetas. Uma delas é a compatibilização da base cartográfica para suportar as informações de cada usuário. Para o emprego do mapa digital em captura de redes, convém levar em conta uma razoável quantidade de operações que precisam ser executadas.

Muitas informações cartográficas precisam ser preparadas, estruturadas e algumas até mesmo desconsideradas. Conversores precisam ser criados, já que nem todas as organizações usuárias possuem sistemas de informações similares, embora compartilhem da mesma base cartográfica digital. Já tivemos oportunidade de construir um conversor de mapeamento digital para Coverages e outro para DGN, considerando-se dois usuários de uma mesma cartografia: um usuário ESRI e outro de um GIS montado em ambiente Smallworld.

Os processos de montagem de aplicativos computacionais para conversões de dados, com georreferenciamento simultâneo à captura, precisam ser criteriosamente desenvolvidos. As redes, originalmente em diversas escalas, cadernetas e croquis, precisam passar a fazer parte do mapeamento de forma confiável.

Na edição passada, esta coluna tratava do preparo para geo. Agora, podemos enfatizar mais ainda a necessidade de que esse preparo seja planejado e feito por empresa que tenha se certificado das especificidades de cada usuário. No caso de secretarias de uma mesma prefeitura existe uma etapa denominada Análise de Necessidades do Usuário. Neste momento são detectadas as aplicações a desenvolver para cada uma delas. Aqui, a modelagem de dados é obrigatória.

O que pretendemos enfatizar é que o compartilhamento de um empreendimento GIS pode acontecer desde suas origens. Isto é, desde o investimento na contratação da base espacial por organizações de diversas áreas. Na prática, isso tem possibilitado o início de processos de implantação de geo em alguns municípios. Isso só demonstra mais uma vez que a integração entre organizações deve superar dissidências políticas que, em muitas ocasiões, nada trazem de benefício aos munícipes e acabam nos obrigando a repisar o óbvio – como fazemos neste momento.

Paulo Tavares é Engenheiro Civil/Geodésia formado pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) e diretor técnico da Geomática – Tecnologias da Informação Ltda. email:geomatica@alternex.com.br