A julgar pela fachada impecável e silenciosa do Shopping Frei Caneca, em rua homônima da capital paulista, ninguém seria capaz de adivinhar que no quarto andar daquele edifício se acomodavam dezenas de aeronaves. Havia até uma gaiola para essas aeronaves, apenas aeronaves não tripuladas – e, que fique claro, apenas aeronaves tripuladas remotamente pilotadas (RPAs).

Mas aquele dia 28 de outubro foi uma data importante. Foi o dia de estreia da primeira feira específica no Brasil para o setor dos veículos aéreos não tripulados, os Vants, popularmente conhecidos como drones. O dia 29 deu continuidade àquele dia histórico, com mais demonstrações ao vivo de voo dos multirrotores, mais palestras, debates, cursos, contratos, e, inevitavelmente, troca de cartões. Dois dias. Um sem número de novidades.

Ao redor dessa gaiola central, estavam cerca de 20 expositores dos mais variados setores, entre fabricantes nacionais (inclusive as que já possuem destaque no mercado internacional), montadoras, importadoras e prestadoras de serviço. O interessante foi observar, em apenas dois dias, tantas pessoas com interesses diversos, caminhando e perguntando pelos diferenciais de cada um dos modelos e as particularidades de cada uma das empresas, cujas sedes estão espalhadas pelo Brasil todo, do interior de São Paulo ao Rio de Janeiro e ao Rio Grande do Sul.

Até o presidente da Associación Uruguaya de Drones, Miguel Remuñán, esteve presente na feira para viabilizar potenciais parcerias com empresas brasileiras e também com a Associação Brasileira de Multirrotores (ABM). Aliás, esta esteve muito bem representada pelo presidente Flávio Fachel e o vice-presidente Ricardo Cohen, que deu palestras e realizou a primeira assembleia anual da ABM, com a presença de grande parte dos afiliados.

Outros grandes destaques da feira foram as palestras de representantes da Anac e do Decea sobre a nova legislação específica para as RPAs, e o lançamento do primeiro livro sobre o assunto no país, “Vant e Drones – A Aeronáutica Ao Alcance De Todos”, escrito pelo Coronel Luiz Munaretto, ex-piloto de caça, ex-piloto de provas e instrutor de voo.

A DroneShow 2015 foi um sucesso. O dia foi histórico não pela gaiola, que estava ali por segurança aos visitantes e demais participantes nos momentos em que expositores colocaram para voar seus modelos, mas pela importância que ela significava. Quando um drone está no ar, todas as atenções se voltam para ele. As cerca de 2500 pessoas que pelo quarto andar circularam tinham o propósito de ver com os próprios olhos o que havia de mais novo em um setor cujo uso comercial é ainda recente no país: o lançamento de novos equipamentos fabricados em território nacional; outros novos equipamentos importados da China, Suíça, Alemanha e outros países; vídeos que demonstravam o potencial gigantesco para o uso do equipamento como recurso de agricultura de precisão e mapeamento; a apresentação de startups que tiveram a visão de lançar plataformas virtuais de serviço para atender a esse mercado. Um mercado comercial vasto no mundo e que é relativamente recente, se considerarmos as décadas anteriores de uso de tal categoria de aeronaves nos setores militar e de defesa, tanto no Brasil como em outros países.

Na última década, a miniaturização, o barateamento e o aprimoramento de vários componentes dessas aeronaves ajudaram a alavancar esse fenômeno de maneira gradual e hoje eles estão cada vez mais próximos de cidadãos comuns. Ao passo que a tecnologia dos drones avança e os seus preços ficam mais acessíveis, o uso dessas máquinas deflui nos mais variados mercados. E isso não se trata apenas de uma questão geográfica – eles alcançam muito, muito longe. Se estão revolucionando o conceito de guerra que tínhamos até anos atrás, eles também estão transformando nosso espaço civil.

Em algumas situações, eles se mantêm simultaneamente nos dois lados da moeda – uma boa e outra ruim. Por isso é preciso cautela e experiência. O interessante é abrir a discussão para isso, tomando como partida a ideia de que assim é com qualquer outra tecnologia já criada pelo homem, e procurar agir sempre com o bom senso.

Como se diz por aí, os drones não apenas dão poder aos humanos, mas também nos tentam a usá-los.

Giovanna Rossin
Jornalista formada pela ECA-USP. Trabalhou como repórter para Folha de São Paulo, Info, Galileu, VIP e Brasil Post. Atua como jornalista freelancer.
giovannarossin@gmail.com