Na ESALQ, Grupo de Estudos em Tecnologias LidAR desenvolve de forma pioneira estudos com dados gerados por instrumentos aeroembarcados laser e óticos para fins florestais
Em 2009, um dos alunos do programa de pós-graduação em Recursos Florestais da ESALQ, orientado pelo professor Luiz Carlos Estraviz Rodriguez, concluiu seu mestrado mostrando que tecnologias laser tinham enorme potencial na área florestal. A pesquisa de Matheus Felipe Zonete foi, portanto, o marco zero de uma ideia que se transformaria em um novo grupo de pesquisa na ESALQ.
Ao ingressar em 2011, o doutorando Eric Gorgens recebeu do professor Estraviz o convite de ajudá-lo a criar esse grupo. “Ele me pediu para ajudá-lo a estruturar, com os demais alunos sob sua orientação, um grupo de estudos: o GET-LiDAR. O foco seria a quantificação e a qualificação de florestas utilizando tecnologias LiDAR”. Eric tornou-se especialista em LiDAR na área florestal e, depois de um curto período no INPE em São José dos Campos, é hoje professor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, em Diamantina (MG).
LiDAR é a sigla para Light Detection And Ranging, tecnologia que utiliza dados gerados por instrumentos aeroembarcados laser e óticos para fins florestais. “A quantificação e qualificação da biomassa é rotina essencial para a gestão de florestas. Assim podemos acompanhar o desenvolvimento desse recurso natural, e detectar se o crescimento é saudável ou se há degradação”, explica o professor Estraviz.
O GET-LiDAR (Grupo de Estudos em Tecnologias LiDAR) desenvolve de forma pioneira no Brasil o uso de dados gerados por esses instrumentos. “Os trabalhos iniciais, e vários outros que continuamos desenvolvendo, comprovam a alta correlação existente entre a realidade de campo e as métricas extraídas das nuvens de pontos produzidas pelos equipamentos de escaneamento aeroembarcado a laser, técnica mais conhecida pela sigla em inglês, ALS (Airborne Laser Scanning). E isso acontece porque as nuvens de pontos que geram essas métricas são representações 3D bastante precisas da superfície escaneada pelo ALS”, completa o professor. Técnicas terrestres de escaneamento, ou TLS (Terrestrial Laser Scanning), são também exploradas pelo grupo.
O grupo formou cinco mestres e dois doutores, e já publicou em seis anos mais de quinze artigos em periódicos nacionais e internacionais. Destacam-se no GET-LiDAR dois objetivos que moldam a sua personalidade. “O primeiro, é a vontade de substituir métodos de mensuração florestal que se tornaram obsoletos. O segundo, é contribuir para que esse processo de modernização vá além da pesquisa e transfira efetivamente para o setor produtivo os resultados encontrados”.
Na prática isso se materializa a partir de um programa de transferência tecnológica coordenado pelo professor Estraviz no âmbito do IPEF (Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais). Com o apoio de cinco grandes empresas brasileiras (Cenibra, Duratex, Eldorado, Suzano e Veracel), do setor de chapas e celulose, associadas ao IPEF, a transferência acontece via Programa Cooperativo de Pesquisa em Gestão Florestal (PCGF). “No momento, a nossa equipe está envolvida na fase de capacitação dos técnicos das empresas que integram a cooperativa de pesquisa. A capacitação antecede o início dos projetos pilotos dentro da empresa que aplicarão os princípios ALS, TLS, estereoscópicos e de visão computacional em atividades de monitoramento das florestas industriais, de restauração e naturais geridas por esses empreendimentos”, detalha Estraviz Rodriguez.
Outra frente de transferência dos trabalhos do GET-LiDAR é desenvolvida pelo engenheiro florestal Daniel Papa, analista de transferência de tecnologias da Embrapa Acre, em Rio Branco que veio fazer o mestrado na ESALQ. “Escolhi a ESALQ pelo elevado nível de pesquisa da USP, pela inovação em pesquisas com LiDAR na área florestal e pela proximidade entre pesquisadores da Embrapa Acre com o professor Luiz Carlos Estraviz”. Papa foi liberado de suas funções no Acre e chegou em Piracicaba em fevereiro de 2016. “Meu projeto de pesquisa usa o LiDAR para mapear a floresta amazônica com objetivo de aperfeiçoar os planos de manejo florestal. O LiDAR é uma tecnologia que permite, por exemplo, o mapeamento dos cursos d’água abaixo da copa das árvores, coisa que uma imagem de satélite não consegue. Com um mapeamento preciso dos cursos d’água dentro de uma área de manejo florestal, é possível delimitar com exatidão a Área de Preservação Permanente (APP) e assim assegurar a não extração de árvores nessas áreas”.
O trabalho do GET-LiDAR já se viu reconhecido nacionalmente, e foi um dos destaques de empreendedorismo em 2015, quando o professor Estraviz, e o seu orientado Esthevan Gasparoto, mestrando do programa de pós-graduação em Recursos Florestais da ESALQ, receberam o Prêmio Santander de Empreendedorismo. “O nosso maior desafio é manter a pesquisa e a transferência tecnológica equilibradas, sem perder a qualidade científica das nossas publicações e o nosso propósito constante de inovar a cada trabalho”, finaliza o professor coordenador do GET-LIDAR.
Texto: Caio Albuquerque (31/10/2016)
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