Segundo um estudo recentemente divulgado, o mercado de Observação da Terra vai alcançar valores entre 8 a 15 bilhões de euros dentro de 10 anos. Para você, isso é muito ou pouco? Por outro lado, aqui no Brasil o setor de Geoinformação enfrenta uma das maiores crises de sua história. Será que vamos ‘surfar’ esta onda?
Você viu isso? O primeiro satélite de observação da Terra de Marrocos foi lançado na última quarta-feira (8/11) a partir da Guiana Francesa. O Mohammed VI-A será usado em atividades cartográficas, de ordenamento do território, prevenção e gestão de desastres naturais e acompanhamento de tendências ambientais e de desertificação.
Enquanto isso, aqui no Brasil…
De acordo com a 10ª edição do relatório da Euroconsult sobre o mercado de Observação da Terra baseada em satélites, os dados e serviços desse setor deverão chegar a 8,5 bilhões de euros até 2026, com base na trajetória atual de crescimento, e até mesmo a 15 bilhões em um cenário alternativo.
Esta opção mais otimista considera as implicações de novas soluções que abram mercados futuros e ainda inexplorados. Ou seja, ainda tem muito espaço para este mercado crescer…
Ainda, avanços em inteligência artificial e deep learning deverão beneficiar o setor, possibilitando novas soluções baseadas em detecção e análises de mudanças (change-detection).
Segundo o estudo, os fatores que geram crescimento no setor são diferentes para dados e serviços. A área de Defesa ainda domina o mercado de dados comerciais, sendo responsável por compras que superam 1 bilhão, mais especificamente de imagens de altíssima resolução e alta acurácia no posicionamento. Espera-se que o preço dos dados para apoiar este setor continuem altos pelos próximos anos, com algum avanço nas áreas de governo e em vendas para empresas privadas.
Os mercados para serviços de valor agregado às imagens que continuarão em alta serão os de infraestrutura e monitoramento de recursos naturais, no entanto, muitas vezes são usadas soluções de baixo custo ou até mesmo gratuitas nessas áreas. Ou seja, o estudo leva em conta que os usuários buscam, antes, imagens gratuitas ou de acervo, e até mesmo ferramentas e plataformas livres.
De acordo com Pacome Revillon, CEO da Euroconsult, as empresas – tanto os operadores de satélites como os fornecedores de serviços – estão criando algoritmos para detectar mudanças a partir de dados de múltiplas fontes, com objetivo de encontrar padrões e criar análises preditivas. Ainda, segundo ele, trazer dados coletados com maior frequência para estes modelos de análises – também conhecido como um ambiente de Big Data – vai estimular ainda mais o desenvolvimento do setor, com potencial de criar novos serviços em áreas que geralmente não usam imagens de satélites, tais como inteligência de negócios, por exemplo.
A Euroconsult identificou aproximadamente 20 companhias que anunciaram intenções de desenvolver constelações de satélites de baixo custo para coleta de dados com alta taxa de revisita, baseados em tecnologias smallsat ou cubesat. Em 2017, estes novos operadores atraíram mais de 600 milhões em venture capital para financiar suas iniciativas.
Por outro lado, uma forte competição é esperada entre os fornecedores de dados, já que as companhias devem cada vez mais mostrar diferenciais e oferecer soluções inovadoras ao mercado. A consolidação dos grandes grupos (MDA / DigitalGlobe, OmniEarth / EagleView, Terra Bella / Planet) deverá trazer um refinamento nos modelos de negócios e continuar gerando altos investimentos.
A DigitalGlobe, por exemplo, está planejando o lançamento de uma constelação de satéliets de baixo custo (Legion), enquanto a Airbus está desenvolvendo seu próprio sistema óptico de altíssima resolução (VHR).
Os números deste setor impressionam: de 2007 a 2016 foram lançados 181 veículos de observação da Terra, enquanto na próxima década são esperados 600 lançamentos de aproximadamente 50 países.
E o Brasil?
Por aqui, o mais recente grande projeto de Observação da Terra é o CBERS, que está sofrendo com dificuldades e atrasos. O mercado de foguetes lançadores, que seria uma excelente oportunidade devido à nossa posição geográfica privilegiada, não avançou. E em relação a números do mercado, também não temos muito o que comemorar…
O estudo de mercado mais ‘recente’ é de 2008, feito pela empresa Intare Consultoria em Gestão da Informação. Com um crescimento de 9% entre 2006 e 2007, e de 20% estimado para aquele ano, o dimensionamento do mercado potencial de Geoinformação no Brasil para 2008 era de 619 milhões de reais, considerado o conjunto dos componentes Dados, Softwares e Serviços.
O gráfico a seguir apresenta o dimensionamento do mercado brasileiro para o período 2006-2008, em milhões de reais.
E a figura abaixo ilustra o panorama do mercado, por tipo de solução, conforme os tipos definidos anteriormente.
Quanto desses 8 a 15 bilhões vão “sobrar” para o mercado brasileiro? Seremos eternos consumidores de dados, ou será que um dia vamos entrar de vez no mercado como fornecedores?
Espero voltar aqui em 2026 com boas notícias…