Transformação Digital e Geoprocessamento: Um caso de sinergia natural? Primeira Parte do Artigo

Por Jorge Castro*

A crescente onda de transformação digital que as corporações estão experimentando remete a uma reflexão sobre o papel das geotecnologias neste contexto e, como a dimensão espacial se integra aos recentes esforços em andamento sobre o tema.

De certo, ainda não existe um consenso, ou melhor, um caminho, uma estrada que garanta às corporações trilhar uma jornada de sucesso à sua experiência de transformação digital, mas duas visões parecem pacificadas: a necessidade de compreensão coletiva de um “Digital Mindset” e que o real impacto na corporação está relacionado com cultura e não com tecnologia.

Apesar disto, qualidade de dados e maturidade digital ainda parecem ser pouco aprofundados.

A primeira trata do conhecido problema da relação entre qualidade de dados e do resultado de seu uso; e a segunda trata de identificar o real estágio que as corporações estão, ou seja, em transformação digital ou na fase de digitalização.

Em parte, a falta de um caminho seguro está relacionada com a visão equivocada de que uma plena aplicação de inteligência computacional – via técnicas de aprendizado de máquina, reconhecimento de padrões, modelos computacionais de auto desempenho -vai pôr si só levar as empresas a um patamar elevado de resultados sem antes resolver seus problemas de qualidade de dados e maturidade digital.

Nesse contexto, cabem algumas reflexões sobre como as geotecnologias podem contribuir para as corporações alçarem voos mais altos em sua experiência digital. De certo, a tentação que experts têm em comunicar as potencialidades do uso final de geotecnologias é muito grande.

É imperativo vender a capacidade que um mapa temático tem de, em um ambiente único, apresentar uma análise multivariada com itens que, aparentemente não se relacionam; ou ainda, a modelagem de complexos problemas de otimização de rotas, distribuição, alocação de pessoal; quiçá explorar a mudança de um negócio quando por exemplo, introduz-se um drone como elemento de produção, na entrega de produtos, na realização de uma inspeção visual de um local de difícil acesso.

Entretanto, em um ambiente de construção de conceitos, vou provocar a discussão sobre o assunto na dialética de como a experiência do geoprocessamento pode contribuir para as iniciativas de jornadas digitais das empresas.

Para tal, serão abordados de forma individualizada, em três partes deste artigo, os seguintes pontos para reflexão e convergência sobre o tema: o motor digital, a ruptura nas formas de trabalhar e colaborar e a cultura organizacional repensada.

O “motor” digital

O primeiro ponto de reflexão é sobre a forma de atuar em geoprocessamento, e o que é possível extrair dessa experiência para as jornadas digitais; para tal, peço a licença poética de fazer uma analogia para abordar essa parte do assunto.

Ao pensar como percorrer um caminho de sucesso, pode-se analogamente pensar em um engenho, um motor, que transforma energia potencial em cinética, permitindo alcançar resultados. Esse elemento, figurado em um motor, permitirá transformar a visão digital em uma realização. A robustez desse motor dá o passo, acelerando ou reduzindo a velocidade, a apetite, de transformar visões em realizações.

Pode-se pensar essa engenhoca composta de quatro subconjuntos: Visão digital ou ambição, Experimentação, Escalabilidade e Difusão. A transformação de energia, no campo do espaço solução, começa com a Visão e toda sua potencialidade. Na experimentação, em escala reduzida (smart) e de forma rápida (fast) seleciona-se o que agrega valor ou o que pode dar errado de forma rápida (failfast). Uma vez experimentado e aprovado, em escala reduzida, avança-se em escala empresarial e por último tem-se a difusão operacional. Na figura a seguir, tem-se um esboço do “motor” digital parafraseando os conceitos de Design Thinking.

“Motor” digital adaptado a partir dos conceitos de Design Thinking Process
“Motor” digital adaptado a partir dos conceitos de Design Thinking Process

Com base nessa analogia, o geoprocessamento tem sinergias claras com o assunto em epígrafe, quando entendemos que este é uma solução baseada em modelos com características de Sistema de Apoio a Decisão, nesse caso Espacial (SADE).

De forma prática, a constituição de uma solução para um problema, no qual as particularidades demandam um SADE, necessariamente envolvem prototipação e experimentação de um modelo, comumente em escala local.

Ou seja, tem-se uma visão de solução para um problema específico, no qual prototipa-se entre outros: dados, relacionamentos, modelos matemáticos e estatísticos, camadas de visualização; seus resultados são testados em escala reduzida, ou local, para depois serem encapsulados em um sistema de informações de uso específico.

Esta forma de atuar permeia os eventos mais simples no geoprocessamento. A forma mais difundida para gerar resultados, baseados em geoprocessamento, empregam a prototipação como caminho natural. Seja à confecção de um mapa de cartografia temática, para disponibilizar em meio físico, ou digital na forma de imagem ou WEB Service, seja o desenvolvimento de um sistema que encapsula regras de decisão complexas.

Ainda sobre o tópico da experimentação, um último ponto a destacar é o conceito fundamental do lúdico. No aspecto da aprendizagem, os conteúdos lúdicos são muito importantes, pois potencializam a criatividade e contribuem para o desenvolvimento intelectual.

Nesse contexto, observando o geoprocessamento, pode-se intuir como a capacidade de materializar diferentes visões do dado e de seus relacionamentos para o entendimento de um problema. Pode-se, inclusive, aceitar isso como uma particularidade cultural, na medida em que os profissionais que trabalham com informações espaciais agregam essa forma diferente de enxergar a solução dos problemas como um modelo mental particular.

No próximo tópico deste artigo será abordado no que o geoprocessamento pode colaborar com a experiência em diferentes formas de trabalhar e compartilhar.

Jorge Castro* – DSc. em Eng. Elétrica pelo COPPE/UFRJ, MSc. Eng. de Computação pela UERJ e com MBA em Gestão Empresarial UFRJ é Consultor de Negócios na Diretoria de Refino e Gás Natural da Petrobras SA, com atuação focada em: Transformação Digital, Gestão de informações e Geoprocessamento.

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