Para fazer o levantamento, são disparadas ondas acústicas na direção do leito oceânico, por meio de pistolas de ar embarcadas em navio. Uma série de hidrofones boiando na água captura o sinal de resposta, gerando uma enorme quantidade de dados

Um grupo de 65 pesquisadores e desenvolvedores vai investir os próximos anos na resolução de um problema conhecido na indústria de óleo e gás: a obtenção mais rápida de um perfil do leito marinho onde possam ser localizados possíveis reservatórios e áreas mais propícias à perfuração.

O novo projeto do Research Center for Gas Innovation (RCGI) – um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) financiado pela FAPESP e pela Shell, com sede na Escola Politécnica da USP – consiste em criar um software aberto que diminuirá o tempo entre a captação de dados no campo e a transformação deles em informações que geólogos e geofísicos possam utilizar na exploração offshore de petróleo e gás. Atualmente, esse intervalo é de até dois anos.

O projeto, o 46º iniciado desde que o RCGI entrou em operação há dois anos e meio, foi anunciado na abertura do evento 3º Sustainable Gas Research and Innovation – Transforming gas to transform the future, ocorrido nos dias 26 e 27 de setembro no Centro de Difusão Internacional da USP.

“Em qualquer levantamento de reservatórios de óleo, gás ou mesmo de sítios para fazer armazenamento de carbono, é preciso esse tipo de análise”, disse Bruno Souza Carmo, professor da Escola Politécnica da USP e coordenador do projeto, uma parceria com a Shell e o Imperial College, de Londres.

Para fazer o levantamento, são disparadas ondas acústicas na direção do leito oceânico, por meio de pistolas de ar embarcadas em navio. Uma série de hidrofones boiando na água captura o sinal de resposta, gerando uma enorme quantidade de dados.

Após processados, esses dados se convertem em imagens utilizadas por geofísicos e geólogos, que apontam onde é mais provável que haja reservatórios de óleo e gás e conseguem ter boa ideia da dificuldade de perfurar uma determinada região.

“O processamento desses dados é muito custoso em termos de computação. Nossa ideia é criar softwares totalmente abertos, que possam ser usados por qualquer interessado e que se adaptem aos avanços da computação”, disse Carmo

“Os computadores ficam mais rápidos a cada dia. O hardware está sempre aumentando em performance, mas reescrever os códigos para fazer uso desses novos computadores leva tempo. Por isso, um elemento do projeto é tornar os softwares mais portáteis, de forma que não seja preciso reescrever os algoritmos toda vez que os computadores são atualizados”, disse Aly Brandenburg, gerente-geral de tecnologia de subsolo da Shell, que coordena o projeto do lado da empresa.

Nova fase

Júlio Meneghini, coordenador do RCGI, explicou que o novo projeto vai utilizar tanto as tecnologias de hardware e software existentes como ferramentas de programação que vierem a surgir.

“Usaremos inclusive inteligência artificial e aprendizado de máquina (machine learning), porque a quantidade de dados que é gerada nessas prospecções sísmicas é gigantesca e os algoritmos que existem agora não são capazes de processá-los. Por isso, serão desenvolvidas ferramentas com novas arquiteturas de supercomputação em mente, que estão sendo consolidadas nesse momento”, disse Meneghini.

Além do novo projeto, o evento apresentou uma série de trabalhos desenvolvidos no âmbito do RCGI. Uma novidade do encontro deste ano são os primeiros resultados do programa de abatimento de emissões de CO2, iniciado em novembro do ano passado. Este é o quarto programa em operação no centro, além dos de engenharia, físico-química e política energética e economia.

Só no novo programa, são 16 projetos focados no abatimento de gás carbônico, que incluem captura do CO2 da atmosfera, utilização para produção de combustíveis sintéticos, produção de eletricidade, monitoramento de vazamentos de metano em poços onde foi injetado gás carbônico, entre outros.

“Temos mais de 300 pessoas trabalhando no RCGI atualmente e teremos cerca de outros 50 pesquisadores no novo projeto. O número está crescendo e a produção científica vai aumentar exponencialmente. A FAPESP, mas também a Shell, cobra resultados na fronteira do conhecimento nas áreas dos 46 projetos. E nós estamos cumprindo”, disse Meneghini.

Os projetos de captura e utilização de CO2 respondem não somente à demanda climática global de redução de emissões, mas também à criação de novas fontes energéticas.

“Pode demorar muitas décadas para concluir essa transição energética [de combustíveis fósseis para fontes renováveis]. Se analisarmos a história, veremos que sempre estivemos em transição energética. São sempre processos muito lentos”, disse David Torres, vice-presidente de tecnologia de abatimento integrado de CO2 e gás da Shell.

Torres lembra que a indústria de óleo e gás não se resume à queima de combustíveis. Ela inclui a fabricação de produtos químicos, fertilizantes, plásticos e outros produtos que ainda não têm substitutos. Por isso, mesmo com o pico da produção previsto para 2030, a Shell tem um horizonte para seus negócios até pelo menos 2070.

“A produção vai começar a decair a partir daí [2030], mas vai continuar presente. O petróleo vai continuar sendo parte do mix [de fontes energéticas]. Então, acho que temos que pensar em horizontes bem longos”, disse Torres.

Mais informações em www.rcgi.poli.usp.br e www.fapesp.br/cpe.

Com informações da Agência FAPESP / Imagem: Pixabay

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