Confira a entrevista com Marleidy Araújo de Oliveira, gerente de Geoprocessamento da Secretaria de Gestão de Maringá (PR), sobre o portal GeoMaringá e os painéis situacionais geográficos usados pelo município
Muitos municípios, hoje, precisam dos dados do cadastro técnico para a realização de procedimentos administrativos determinados por lei ou para melhorar a prestação de serviços públicos, porém na maioria das vezes as informações estão fragmentadas ou concentradas em um sistema que não contempla dados 3D e gráficos situacionais.
Pensando nisso, a Administração Municipal de Maringá (PR), através da Secretaria de Planejamento e contando com recursos do BID, contratou em 2016 uma solução voltada a atualizar a base cadastral de toda a área municipal.
A atualização foi feita através de processos fotogramétricos e perfilamento laser, com obtenção de ortofotos, restituição estereofotogramétrica em 3D, obtenção e volumetria de todas edificações, imageamento móvel terrestre 360 graus e implantação de uma robusta rede de vértices.
No mesmo processo foram implementados também painéis situacionais geográficos, um novo produto no mercado que a empresa Engefoto, sendo Partner ESRI, foi responsável pelo desenvolvimento em SIG, participando de todo o processo, desde a construção da base até a elaboração dos painéis.
Confira a entrevista do MundoGEO com Marleidy Araújo de Oliveira:
MundoGEO: O que é o portal GeoMaringá e quais as principais funcionalidades?
Marleidy Araújo de Oliveira: O Portal GeoMaringá é um ambiente que foi elaborado com o intuito de levar transparência a população, reduzir o fluxo de pessoas na prefeitura e agilizar os processos internos.
As principais funcionalidades do nosso portal, o qual nos torna um diferencial de outros municípios, são ferramentas de geração de relatórios, onde o usuário, identificando o imóvel, sabe exatamente as características de uso e ocupação do solo, sabe se pode abrir determinada empresa no local, sabe todos os projetos aprovados desde 2003 e o que está lançado no sistema tributário. Em uma visão geral, o usuário pode saber onde fica localizado um lote rural, em qual zoneamento e eixo de comércio pode abrir determinada empresa, qual linha de transporte público passa perto de um equipamento comunitário (escola, CMEI, UBS, etc), se determinado logradouro é eixo de comércio, entre outras.
A integração de dados de diferentes fontes e setores para criar o portal foi um desafio? Caso positivo, como foi superado?
Realmente foi um grande desafio, e ainda posso dizer que continua sendo, pois o fato de termos vários sistemas terceirizados, nunca se pensou em espacialização da informação. Sendo assim, torna-se difícil publicar um serviço de mapa, uma vez que, muitos dados não apresentam um campo em comum para realizar a união com a base vetorial.
Conforme o sistema de geoprocessamento está sendo utilizado em aplicações, os gestores estão identificando o quanto é útil ter uma visão espacial da informação. Portanto, vários setores estão procurando produzir dados que possam ser disponibilizados espacialmente, e desta forma, contribuindo com os gestores na tomada de decisão.
Como foi o processo de atualização cartográfica através de processos fotogramétricos e perfilamento laser? Quais os benefícios da alta qualidade dos dados no produto final?
Em meados de 2000, quando iniciamos a construção de uma base de dados para o geoprocessamento, realizamos a digitalização da base cartográfica, que era em papel vegetal, através de mesa digitalizadora. Em seguida, georreferenciamos em uma base de dados obtida através de aerofotogrametria de 1995.
Atualmente todas as intervenções que surgem em um local são feitas diretamente na base com a utilização do ArcMap (até 2010 utilizava-mos o ArcView 3.1). Em se tratando de loteamentos, após aprovados, a topografia vai a campo e o coloca na coordenada. Desse modo, trabalhamos toda a base em AutoCAD e após cadastrado inserimos na base de dados do geo.
Em 2017 adquirimos o perfilamento laser, e obtivemos um grande ganho, uma vez que realizamos a correção de todas as distorções que existiam na nossa base. Vale ressaltar que, através da restituição das edificações, pudemos verificar as distorções no nosso sistema tributário.
Que tipo de análise complexa é possível no sistema?
Com a utilização do sistema de geoprocessamento, além do portal, que possui vários tipos de buscas, utilizamos em várias aplicações como: liberação de passe do estudante (a análise da distância da moradia do aluno até a escola é feita imediatamente no ato da solicitação do passe); alvará on-line (é possível realizar a abertura da empresa diretamente pelo site e em um tempo bem reduzido); Certidão de Numeração predial obtida diretamente pelo site da prefeitura; o sistema de vistoria fiscal utiliza o geo para localizar o imóvel e desta forma ter acesso aos projetos aprovados e ao sistema tributário; o licenciamento ambiental utiliza o geo para todas as análises do entorno; o cadastro de usuário do SUS utiliza o geo para determinar qual UBS o munícipe utilizará; entre outros.
No que consiste, basicamente, o sistema de painéis situacionais geográficos como ferramenta para planejamento e gestão?
Com a utilização dos painéis o gestor tem uma visão das informações através de parâmetros e índices juntamente com mapas dinâmicos, tendo sempre uma visão do dado em tempo real. Por meio da visão espacial o gestor tem como saber como está a situação na região desejada, bem como traçar prioridades nas decisões.
Quais são as vantagens do uso de painéis geográficos situacionais para a administração municipal e/ou contribuintes?
Para a administração, a principal vantagem é poder definir prioridades em atendimento e investimento. Desse modo, tendo visão tanto do dado espacializado como de indicadores, o gestor pode determinar qual tipo de investimento deve ser feito em determinada região da cidade. Podemos exemplificar da seguinte forma: digamos que o gestor tem uma visão espacial da necessidade de vagas em um CMEI, com isso, ele pode determinar em qual local deve construir e/ou ampliar. Portanto, os painéis podem ser utilizados para todas as inimagináveis finalidades.
Para o contribuinte, uma das principais vantagens é que, se o gestor conhece as necessidades dos bairros (regiões), ele programará melhor os investimentos, tornando-se um ganho para o munícipe.
O uso de bases de dados 3D ainda esbarra em alguma resistência cultural de quem está acostumado com 2D, ou isso já foi superado?
Não ocorreu nenhum problema quanto aos dados em 3D; posso até dizer que a aceitação foi muito boa, pois agora podemos ter uma visão de como está o adensamento de uma região através da volumetria, bem como podemos ter uma visão de como é o perfil do terreno sem a necessidade inicial de ir até o local ou fazer um levantamento topográfico.
Já é possível avaliar os resultados (quantitativos e qualitativos) em relação a assertividade na tomada de decisão e/ou rapidez no tempo de resposta?
Referente à utilização da base de dados do geoprocessamento, em várias aplicações e através do portal, podemos dizer que os resultados são muito promissores. Sendo assim, muitas ações só estão sendo possíveis devido ao geo trazer maior praticidade e comodidade para o munícipe. Um exemplo seria: fazer uma reclamação através da ouvidoria diretamente do local, obter uma numeração predial apenas acessando o Portal GeoMaringá, bem como abrir uma empresa.
Quanto aos painéis e o 3D, sua utilização colaborará com os gestores para tomar decisões de forma mais objetiva e transparente; entretanto, como o uso destes aplicativos está muito recente, no momento, ainda não é possível avaliar os resultados.
A população já está usando o sistema de forma colaborativa? Caso positivo, como tem sido o feedback dos cidadãos?
Referente ao Portal GeoMaringá, está sendo muito utilizado pela população, principalmente imobiliárias, escritórios de contabilidade, técnicos da área de engenharia e arquitetura, entretanto, pode-se dizer que a prefeitura está disponibilizando um produto para consumo com o intuito de facilitar a vida das pessoas, e o usuário o utilizará conforme suas necessidades. Infelizmente, não ocorre um feedback dos cidadãos, pois quando acontece é para informar que alguma funcionalidade está com problema.
Quanto aos painéis e o 3D, ainda não foi disponibilizado para o uso da população.
Maringá está se preparando, com tudo isso, para atender os requisitos do Georreferenciamento de Imóveis Urbanos e o Sinter – Sistema Nacional de Gestão de Informações Territoriais?
Na realidade, os objetivos iniciais em meados de 2000 eram: levar ao cidadão os benefícios que ele merece, ou seja, levar visibilidade de toda a infraestrutura existente no município e agilidade nas ações oferecidas pela prefeitura; um outro objetivo era a racionalização nos trabalhos reduzindo custos em determinadas ações e, finalmente, oferecer aos gestores através de análises espaciais uma visão da realidade colaborando com a elaboração de diagnósticos que atendam as necessidades da população.
Maringá ainda não iniciou os requisitos de Geoprocessamento de Imóveis Urbanos e o Sinter isto não havia sido pensado até o momento. Porém estaremos estudando as possibilidades para sua devida utilização.
Quais os próximos passos em relação ao GeoMaringá e os portais situacionais geográficos?
Tendo em vista o encerramento do suporte flex pela ESRI, os desenvolvedores da prefeitura, que se dedicam em tempo integral ao geoprocessamento, estão atualizando o portal utilizando javaScript, com publicação de serviços de mapas no Portal for ArcGis. Ainda, após o término do novo portal iniciaremos o desenvolvimento de novas funcionalidades para levar cada vez mais facilidade ao usuário.
Quanto aos painéis situacionais, como foram desenvolvidos para utilização através da instalação do Operations Dashboard, no CPU, o próximo passo é adaptá-los para utilização via web, bem como construção de mais painéis direcionados a área da saúde, obras públicas, despesas com manutenção de equipamento comunitários, entre outros. Ainda referente aos painéis, temos a intenção de realizar a publicação de alguns tipos para a população, entretanto ainda está em projeto.
Confira também o Artigo: Painéis situacionais geográficos como ferramentas para planejamento e gestão.