Verificar dinamicamente em mapas e gráficos interativos os números absolutos e relativos sobre como se distribuem distintos grupos populacionais na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), se tornou possível para qualquer um a partir do projeto ReSolution.

Trata-se de uma inovação produzida pelos pesquisadores do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Cepid-Fapesp) em parceria com pesquisadores internacionais. A plataforma acaba de ser lançada, junto com o novo site da instituição, e pode ser consultada em http://200.144.244.157:8000/resolution/.

O portal ReSolution apresenta 97 variáveis absolutas e relativas. Um exemplo é a concentração da população branca, amarela, parda e negra na RMSP, por meio do indicador cor-etnia.

Na região central de São Paulo, por exemplo, nota-se que pretos e pardos se localizam predominantemente no entorno dos bairros São Joaquim, Baixada do Glicério, Praça da Sé, Parque D. Pedro, São Bento e Luz, enquanto a população branca se concentra no chamado ‘centro expandido’, como Consolação, Pacaembu, Higienópolis e Jardim Paulista.

A plataforma proporciona a visualização simultânea no mapa e gráfico correspondente, assim como permite selecionar dinamicamente locais no mapa ou no gráfico. Permite ainda a consulta específica clicando-se na região de interesse ou ponto do gráfico para maiores detalhes.

“Com o ReSolution, pela primeira vez conseguimos um sistema que disponibiliza, de forma amigável para o usuário, indicadores de demografia, raça e imigração, religião, educação, renda e trabalho, em uma só plataforma, e que agrega novos indicadores, os de acessibilidade e segregação, permitindo comparar padrões sociais com segregação e acesso”

destaca Eduardo Marques, vice-coordenador do CEM, coordenador do projeto ReSolution e professor do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (DPC/FFLCH – USP)

Adicionalmente, o projeto envolveu o desenvolvimento de estudos sobre segregação e acessibilidade, assim como um modelo baseado em agentes que simula, em ambiente computacional, dinâmicas de localização residencial de distintos grupos populacionais e seus reflexos nos padrões de segregação e diferenciais de acessibilidade ao trabalho. Todas as atividades de pesquisa foram realizadas para Londres e para São Paulo, de forma comparativa.

Os indicadores se baseiam no Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Pesquisa Origem e Destino 2007 do Metrô de São Paulo foi utilizada pela equipe de Mariana Giannotti, coordenadora de Transferência do CEM e professora da Escola Politécnica da USP, para levantamento dos tempos de viagem e cálculos para os índices de acessibilidade.

A equipe da pesquisadora Flávia Feitosa, professora da Universidade Federal do ABC (UFABC) desenvolveu os índices de segregação, aplicados à realidade da RMSP. Ambas as frentes, de acessibilidade e segregação, contaram com a equipe da professora Joana Barros do departamento de geografia do Birkbeck, Universidade de Londres.

O modelo baseado em agentes foi desenvolvido em parceria com o Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE). O projeto também contou com a parceria de pesquisadores Mike Batty, Duncan Smith, Chen Zhong e Yao Shen do Centre for Advanced Spatial Analysis (CASA), University College London.

Plataforma ReSolution

Acessibilidade e segregação: as grandes inovações

Com o ReSolution (Resilient Systems for Land Use Transportation), é possível identificar e quantificar no espaço urbano, de forma clara, a acessibilidade – conceito que demonstra as oportunidades de acesso a postos de trabalho, com base no local onde se mora e no meio de transporte disponível.

“O portal ReSolution mostra nos mapas de acessibilidade quantas oportunidades de emprego se consegue alcançar a partir do seu local de origem (moradia), considerando o tempo de viagem”

explica Mariana Giannotti

Uma pessoa que more no entorno do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, por exemplo, tem a seu alcance mais de 1,3 milhão de postos de trabalho, em um raio de distância que pode ser percorrido em 30 minutos utilizando transporte público.

Nos mesmos tempo e distância, um morador do entorno do Conjunto Habitacional Inácio Monteiro, em Cidade Tiradentes, bairro da Zona Leste da Capital, tem acesso potencial a 100 vezes menos empregos – pouco mais de 13 mil postos de trabalho ao seu alcance.

É claro que o acesso a esses postos não restringe-se à questão do deslocamento físico, envolvendo atributos educacionais, ocupacionais entre outros,

“mas a medida ajuda a colocar uma lupa para observar o quanto o transporte pode dificultar este acesso para algumas populações em comparação a outras, acrescentando por vezes mais uma barreira que reforça as desigualdades”

Essa é, na verdade, uma dimensão central das desigualdades sociais em metrópoles como São Paulo.

O portal ReSolution também mostra e quantifica, de forma inédita, o processo de segregação espacial.

“Para entender os diferentes aspectos da segregação, trabalhamos a chamada cartografia do invisível, ‘transformando’ conceitos em equações, usando dados populacionais”

aponta Joana Barros, pesquisadora do Birkbeck

“Como existem várias maneiras de entender a segregação, temos várias medidas. Para cada conceito, temos uma maneira de medir”

A plataforma traz indicadores de segregação residencial e ocupacional.

“Tradicionalmente se mede a segregação residencial, mas faz sentido medir a dos espaços de trabalho, dado o tempo que ficamos ou gastamos com ele. Como estávamos observando a questão do transporte, era interessante ter uma narrativa que juntasse essas duas coisas”

O ReSolution mostra como os grupos estão distribuídos na cidade, considerando espaços de residência e de trabalho, por meio de indicadores como o de dissimilaridade e índice H (da Teoria da Informação).

Esses indicadores olham o local e comparam a composição populacional daquele local com o de toda a metrópole. Se o local é muito segregado, não vai ter a composição semelhante ao do todo.

“Se temos, por exemplo, três grupos, e eles estão por toda a cidade, estão espalhados de forma homogênea, temos uma situação integrada”

Por exemplo, ao se observar o mapa de segregação “isolamento residencial do grupo de ocupações superiores”, é possível observar e quantificar a concentração desse grupo populacional nas regiões mais próximas do centro de São Paulo.

“As classes mais ricas estão mais concentradas e isoladas, espacialmente, mas isso não significa que esses grupos sofram com a segregação, que se torna um problema quando o lugar onde o grupo se encontra limita seu acesso a itens que vão lhe dar qualidade de vida”

Outro indicador são os Índices de Exposição, que mostra a chance de grupos diferentes compartilharem o mesmo espaço Assim, no mapa que mostra a segregação como a “exposição dos locais de trabalho do grupo ocupacional 1 (superiores) ao ocupacional 7 (de rotina)”, é possível ver que os índices mais elevados são registrados também no centro e centro expandido da capital, onde há um número maior de estabelecimentos comerciais e empregos e pessoas de diferentes classes sociais convivem.

Parceria com o exterior

A ideia do ReSolution nasceu de um pós-doutorado de Eduardo Marques financiado pela Fapesp na Inglaterra em 2004. Lá ele conheceu o trabalho do Centre for Advanced Spatial Analysis (CASA), centro de pesquisa interdisciplinar da University College London (UCL) focado no desenvolvimento científico aplicado a métodos, ideias de modelagem e visualização baseados em computação aplicados às cidades.

Eles desenvolveram o DataShine, um sistema que produz mapas online no nível da menor desagregação do censo inglês, gerando com muita velocidade um grande volume de dados sobre toda a Inglaterra.

“Os procurei para negociar uma transferência de tecnologia, pois os webmaps brasileiros eram muito lentos, pouco amigáveis e de design ultrapassado, mas eles propuseram uma pesquisa em conjunto”

conta Marques

Nessa colaboração financiada pela Fapesp e Economic and social Research Council (ESRC-UK), os pesquisadores puderam comparar a questão da segregação socioespacial e acessibilidade em São Paulo e Londres. Da parte inglesa, a coordenação ficou com Michael Batty, pesquisador do CASA-UCL, e Joana Barros, da Birkbeck, Universidade de Londres.

“A acessibilidade é muito melhor em Londres e seus padrões de segregação muito diferentes”

Na capital da Inglaterra, os padrões de segregação são mais complexos, associados à microssegregação, processo de segregação caracterizado pela existência de pequenos territórios de grupos específicos, que podem ser de classe, étnicos ou religiosos, e que se localizam tanto no interior quanto fora da metrópole. Já São Paulo é mais macrossegregada.

Transferência para sociedade e ganhos de capacitação

A diretora do CEM, Marta Arretche, cientista política e professora do DPC/FFLCH-USP, afirma:

“Uma das missões do CEM é transferir o conhecimento que produzimos na academia. Desenvolver aplicativos construídos com base em temas sociais, de forma interdisciplinar por colocar engenheiros e profissionais da tecnologia da informação para conversar e trabalhar junto com cientistas sociais, não é uma tarefa trivial, mas encontramos uma maneira de fazer isso”.

Marques ressalta ainda os ganhos na capacitação do próprio CEM:

“O projeto permitiu que inovássemos também em nossa área técnica, aprimorando nossas bases de dados, possibilitou a integração dos bolsistas de tecnologia da informação e comunicação às nossas pesquisas, viabilizou a vinda da professora Mariana Giannotti para nossa equipe e nos atualizou em termos de transferência”

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