É com muito alegria que aceito o convite do Emerson para ocupar este espaço.

Para aqueles que não me conhecem, sou Antonio Machado e Silva e trabalho há 38 anos no setor espacial. Iniciei, em 1982, no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, passando depois pelo Centro Científico da IBM Brasil e, finalmente, sou sócio-fundador da AMS Kepler, atuando em desenvolvimento de sistemas de software para o segmento solo dos sistemas espaciais e em soluções de inteligência em geo-informação.

Considerando a Lei de Moore, e voltando a 1973 (entrada do Brasil no programa Landsat), o poder computacional da época seria 2,7 bilhões de vezes menor que o atual.

No INPE, trabalhávamos com 2 computadores (mainframes), ambos da Digital Equipment Corporation (DEC): PDP 11/34 para o desenvolvimento de software e PDP 11/15 para a operação (geração de imagens). Eram computadores 16 bits com unidade de disco flexível de 10 polegadas, memória RAM de 80 KBytes (não é erro de digitação) e unidade de HD externo (semelhante a um frigobar) de 8 0MBytes (novamente, não é erro).

Era realmente difícil trabalhar com Processamento Digital de Imagens (PDI). Aliás, pode-se dizer que era impossível. As imagens fornecidas pelo INPE naquela época eram todas analógicas. Os computadores comandavam um gravador de filme para gerar imagens com correções geométrica e radiométrica. Havia uma unidade de fita para alimentação do dado bruto de toda a passagem que vinha da estação de recepção (High Density Digital Tape – HDDT) e uma outra (ver figura) para geração de cenas digitais: Computer Compatible Table – CCT. Ah, inicializávamos o PDP 11/15 por meio da leitura de fita de papel.

Na imagem a seguir pode-se ver parcialmente (do lado esquerdo, em bege) a unidade externa de gravação de disco. No corpo do computador, vê-se a unidade de gravação de fita CCT.

(Esquerda) PDP 11/34 (fonte hschumacher.de); (Direita) Sistema I-100 (Fonte http://www.dpi.inpe.br/DPI/institucional/pessoal/historico)

Em 1974, o INPE comprou, por US$ 1 milhão, um sistema de processamento de imagens da General Eletric (GE), chamado “IMAGE-100”, ou I-100 (imagem acima à direita). Tecnologia no estado-da-arte da época, era controlado por um computador PDP/11-45 (com 128 KBytes de memória), possuía memória de vídeo de 512 x 512 pixels, e lia as imagens na unidade de fita CCT.

Por muito tempo, foi o único sistema de processamento digital de imagens de satélite em operação no País, porém sem capacidade de modificação na geometria das imagens. Ele atendia a todos os funcionários do INPE e a todos os alunos de pós-graduação. O uso dele era contínuo (24×7).

Voltando ainda mais no tempo, os computadores que suportaram a aventura do cosmonauta Yuri Gagarin pelo espaço (abril de 1961) tinham poder computacional 700 bilhões de vezes menor que os atuais. O trio de astronautas que teve o privilégio de pousar na Lua pela primeira vez (Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins, em julho de 1969) tinha por trás computadores com capacidade 17 bilhões de vezes menor que os atuais. Estes são verdadeiros heróis da corrida espacial.

Bom, ao longo do tempo, a ocupação do espaço tem experimentado grandes avanços. Satélites que no passado eram de uso restrito (espiões), hoje disponibilizam imagens a quem quiser (e puder pagar por elas) com resolução espacial de 30cm.

A indústria espacial está se transformando. Nunca foi tão fácil enviar um satélite ao espaço. Diversas startups surgem ao redor do mundo. Estima-se que hoje tenhamos cerca de 3.200 New Space startups, dentro e fora das universidades, com diferentes propósitos, atraindo capitais de risco (venture capital) (fonte: NewSpaceHub.co).

Grandes e tradicionais empresas acompanham atentas esta nova onda. Não querem repetir o que a IBM fez no passado. Por não acreditar na massiva popularização do computador pessoal, vendeu patentes de hardware e software desenvolvidas pelos seus centros de pesquisas para empresas que hoje dominam esse mercado. Steve Jobs (Apple) e Bill Gates (Microsoft) serão eternamente gratos à IBM.

Como as organizações públicas e privadas brasileiras reagem a essas mudanças? Como este mercado se desenvolve no Brasil? Quais são os impactos desta nova era espacial no mercado de geotecnologias? Temos cérebros em quantidade e qualidade para participarmos deste jogo?

É o que veremos nos próximos artigos. Até breve.