A Inteligência Geoespacial (GEOINT) abrange todos os tipos de informações sobre pessoas, lugares e coisas na superfície da Terra. Possui uma variedade de usos, desde mapeamento e exploração mineral até logística comercial, mas é especialmente valiosa para os militares, que buscam compreender as atividades de potenciais adversários. A falta de GEOINT nas Forças Armadas de uma nação pode gerar riscos reais à segurança nacional.

Faço uma referência ao Sistema de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON), implementado pelo Exército Brasileiro já há alguns anos e que, ainda hoje, não contempla a Geointeligência. O monitoramento existente é apenas de emissões eletromagnéticas terrestres, previsto para a primeira fase do projeto. E, mesmo para as demais fases previstas, a GEOINT não é uma prioridade. Ou seja: não monitoramos nossa faixa de fronteira com imagens, nem geramos relatórios e/ ou conhecimentos a partir de imagens. São quase 17.000 quilômetros em que, se não fossem os Pelotões Especiais de Fronteira do Exército, ou os poucos postos da Polícia Federal e da Receita Federal, estaríamos cegos na nossa fronteira terrestre.

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O setor de Geointeligência é fortemente dependente do governo federal – e vice-versa. Em um mundo ideal, a indústria prospera sob o patrocínio e proteção do governo, enquanto o governo se beneficia das informações confidenciais da indústria e da inovação. O governo deveria, então, exercer seu poderoso poder de compra para, sempre que possível, favorecer fontes nativas de Inteligência Geoespacial. E satélites imageadores próprios, de alta resolução espacial, já seria um primeiro passo.

Por mais que a empresa fornecedora de imagens e/ ou dados de GEOINT possa ser confiável, que haja cláusulas de confidencialidade em contratos, ou assinatura de Acordos de Não-Divulgação (NDA), fontes estrangeiras tendem a oferecer um produto menos confiável. Para a Comunidade de Inteligência de um país, confiar em uma infraestrutura de Inteligência que é projetada, construída, operada, mantida ou hospedada em outros países, ou por empresas de influência estrangeira, é temeroso. Outros países cultivam intencionalmente a indústria doméstica para evitar essas preocupações com a segurança nacional e beneficiar suas economias locais.

A política industrial nacional deveria promover a tecnologia e as empresas do Brasil, em detrimento dos fornecedores estrangeiros, para preservar a confiança no fornecimento dos dados no ciclo de Inteligência. Lembrando que a GEOINT tem relevância direta para a segurança nacional. Por isso, poderia (e deveria) ser incentivada (texto adaptado da matéria “Geospatial intelligence could offer blueprint for protecting national security through technological leadership”, publicado na revista eletrônica C4ISRnet em 22 FEV 2021 – www.c4isrnet.com).

*Ivan Carlos Soares de Oliveira , consultor sênior na BTI Technology & Intelligence, é Doutor em Ciências Militares, área de concentração Sensoriamento Remoto, pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME); Mestre em Geologia, área de concentração Análise Ambiental, pela Universidade de Brasília (UnB); especialista em Geoprocessamento, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); especialista em Inteligência, pela Escola de Inteligência Militar do Exército (EsIMEx); e especialista em Fotoinformação, pela Escola de Instrução Especializada do Exército (EsIE). Atualmente é professor convidado da EsIMEx, e professor e coordenador do curso de Inteligência de Imagens para a Segurança, na LOGOS Inteligência e Planejamento Estratégico.

O artigo não expressa, necessariamente, a opinião da MundoGEO