O setor espacial passa por um momento de transição do chamado Old Space para o New Space. Isso significa que ideias disruptivas chegaram com força para desenvolver novas atividades e transformar as infraestruturas e serviços existentes no segmento, com novos atores, especialmente privados.

Já é certo que se trata de um movimento sem volta, vide a quantidade de exemplos bem sucedidos em diversas áreas do setor espacial. Empresas como SpaceX, Blue Origin e Virgin Galactic estão aí para provar que existe um caminho repleto de oportunidades no New Space.

Essa foi a tônica da Live “New Space – Oportunidades para empresas, investidores e startups”, realizada como preparação para o evento SpaceBR Show 2021, que vai acontecer em novembro no formato 100% online. O evento foi moderado pelo CEO da MundoGEO, Emerson Granemann.

Assista à íntegra da Live:

Um dos aspectos mais importantes do New Space é a questão do financiamento. Tradicionalmente, eram os governos que bancavam toda a cadeia industrial do setor espacial, com recursos destinados a programas e projetos específicos. Entretanto, essa lógica não faz mais sentido na atual conjuntura.

As empresas privadas estão cada vez menos dependentes de verba pública, já que novos atores entraram em cena, especialmente de venture capital. “Percebe-se um aumento de funding e um maior aporte de recursos de tomadores de riscos, porque eles veem oportunidades no mercado. Se antes havia grande financiamento governamental ou de dívida corporativa, agora se vê mais empresas sendo financiadas nas operações espaciais”, atesta o diretor de Inteligência Estratégica e Novos Negócios da Agência Espacial Brasileira (AEB), Herbert Kimura.

Os números dizem por si só. Segundo a BryceTech, houve um investimento de US$ 36,7 bilhões em startups espaciais entre 2000 e 2020, sendo que somente no ano passado o montante foi de US$ 7,6 bilhões – desse valor, 64% saíram de venture capital.

Imagem: SpaceX/Unsplash

O New Space no Brasil

Mesmo com vários exemplos de sucesso ao redor do mundo, o Brasil ainda não conseguiu entrar de vez nesse novo mercado. Como afirma o coordenador do Comitê Aeroespacial do Sindicato Nacional das Indústrias de Materiais de Defesa (SIMDE), José Vagner Vital, o mercado espacial brasileiro ainda consome muito Old Space. No entanto, ele acredita que startups e pequenas empresas têm um grande mercado para explorar. “Existe muita oportunidade no Brasil, mas ainda estamos atrasados”, lamenta.

Essa é a mesma opinião do coronel da reserva e consultor na BTI Tecnologia & Inteligência, Ivan Oliveira. Para ele, o Brasil está com um pé no Old Space e outro no New Space. “Nós temos capacidade científica e tecnológica. Com pesquisa e inovação, é possível que possamos fazer com que o governo abra os olhos para investimento no setor espacial e que investidores privados invistam no setor espacial nacional”, analisa.

Estar atrás do restante do mundo não significa que o Brasil deva fazer tudo o que é feito lá fora. Seria praticamente impossível. Mesmo assim, o diretor de vendas da Maxar Technologies para a América Latina, Tata Lacale Canal, acredita que o governo precisa fazer parte dessa discussão.

“O New Space está acontecendo. Ou de forma programática ou de forma de investimento, tem que haver uma convergência de ideias e ações para que o Brasil avance. E isso tem que vir, do meu ponto de vista, do governo”, defende.

O fundador e CEO da AMS Kepler, Antonio Machado, lembra que os recursos públicos são cada vez mais escassos e caíram ainda mais devido à pandemia da Covid-19. Por isso, a dependência de dinheiro público por parte da indústria espacial brasileira precisa ser reduzida.

“O Brasil tem capacidade, mas não está sabendo jogar o jogo. Não adianta só reclamar da falta de verba do governo. O governo precisa, sim, direcionar verba e ter um programa espacial mais forte, mas tem capital privado que temos que buscar também. E estamos muito atrasados”, reforça.

Essa redução da dependência governamental, segundo Kimura, da AEB, deve também partir dos próprios empreendedores. Para ele, é necessária uma mudança de estrutura dentro das empresas e das startups, com uma visão mais comercial e de negócios.

“Para aproveitar as oportunidades que existem no New Space não basta só técnica. É importante saber gerenciar, definir metas claras e inteligíveis para os investidores”, diz. “O ponto principal é o perfil do empreendedor. Se quiser novas tecnologias e o espaço, precisa ter um perfil agressivo, como vemos em startups internacionais. E o brasileiro tem esse perfil, visto os vários unicórnios que já temos, principalmente na área financeira”, completa.

Lives sobre o setor espacial brasileiro

O New Space é um tema que vem tomando corpo nos últimos anos e será crucial para o futuro do setor espacial. Como reforça o CEO da MundoGEO, Emerson Granemann, a transição do Old Space para o New Space não tem volta.

“No Brasil, os principais atores civis e militares precisam seguir se aproximando e organizando de forma mais coordenada para se alinharem a este novo momento do setor espacial. O setor privado continua contando com o investimento governamental, mas já está entendendo que precisa ser criativo e ousado para atrair investidores de risco, como as empresas internacionais vêm fazendo”, diz.

Ele finalizou a Live “New Space – Oportunidades para empresas, investidores e startups” lembrando que mais eventos ao vivo ocorrerão como prévia do SpaceBR Show, organizado pela MundoGEO, com apoio da AEB, que vai acontecer entre 8 e 12 de novembro no formato 100% online. Para conhecer a programação e fazer a inscrição gratuita, basta acessar o site do SpaceBR Show.

Imagem de capa: SpaceX/Unsplash