A abertura do Centro de Espacial de Alcântara (CEA), no Maranhão, para a iniciativa privada tem atraído empresas de diversas partes do mundo, que veem nessa estrutura uma oportunidade para realizar lançamentos a partir de uma localização privilegiada, a um custo mais baixo e sem a dificuldade de cronograma encontrada nos espaçoportos mais utilizados.

Por enquanto estão habilitadas para operar no CEA as norte-americanas C6 Launch e Virgin Orbit e a sul-coreana Innospace, esta última já bem próxima de fazer o primeiro lançamento. E essa lista pode crescer nos próximos meses, visto o interesse demonstrado por diversas empresas, como é o caso da Vaya Space.

A companhia americana foi criada em 2017 para fornecer um motor híbrido à Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa dos Estados Unidos (DARPA, na sigla em inglês) a partir de um contrato de encomenda tecnológica. Com o desenvolvimento do motor e mais de 100 queimas em bancadas, a startup desenhou o veículo lançador Dauntless.

Trata-se de um foguete de três estágios com 11 motores, sendo seis no primeiro, três no segundo e um no terceiro. Apesar de ser classificado como um pequeno lançador, o Dauntless tem capacidade de carga útil de 1 tonelada para órbita baixa e de 600 kg para órbita sol-síncrona.

O motor foi batizado de STAR-3D, acrônimo para Safe, Throtteable, Affordable e Reliable, que em português quer dizer Seguro, [Potência] Regulável, Acessível e Confiável. De acordo com a empresa, o combustível (ABS) e o oxidante (oxigênio líquido) não são perigosos e são estáveis à temperatura ambiente, reduzindo a possibilidade de detonação do motor.

Além disso, a formulação do grão combustível garante uma queima não explosiva e não tóxica, sem contar que muitas partes do motor são feitas em impressão 3D, o que reduz a complexidade e, consequentemente, os custos.

O Dauntless ainda está em processo de desenvolvimento, mas os primeiros lançamentos podem ocorrer já em 2023. E, se possível, dentro das autorizações para uso, podem ser realizados a partir de Alcântara. Para isso, a Vaya Space já se instalou no Brasil com uma subsidiária com CNPJ e funcionários brasileiros, com capacidade local de construir, integrar e lançar no Brasil.

“A operação em Alcântara é primordial para o modelo de negócios da Vaya Space porque se trata de um modelo de alta frequência, com capacidade de produzir rapidamente os foguetes, em um ciclo inferior a 30 dias entre construção, integração e lançamento. E isso pressupõe a disponibilidade de sites de lançamento.”

Darcton Damião, vice-presidente de Operações para a América Latina da Vaya Space, durante webinar organizado pela MundoGEO.

Assista ao replay do webinar “Início das operações no Centro Espacial de Alcântara”

A sede da Vaya Space nos Estados Unidos fica em Cacau, na Flórida, a poucos quilômetros de Cabo Canaveral. E mesmo estando tão próximo, trata-se de uma base de lançamento com uma demanda muito alta, assim como várias outras no país. Usar uma base não tão disputada, como é o caso de Alcântara, é o caminho encontrado pela empresa.

Claro que a frequência de lançamentos vai depender dos contratos assinados com parceiros. Por isso, a empresa está prospectando clientes que tenham interesse em colocar os seus satélites no Dauntless. Nesse sentido, a Vaya Space já assinou um contrato com a All2Space para o lançamento de sua constelação de satélites.

A empresa sabe, porém, que Alcântara ainda não tem toda a estrutura necessária para garantir uma frequência grande de lançamentos. Mesmo assim, a Vaya Space acredita que com a presença de mais empresas no local, a demanda por produtos e serviços vai aumentar e, consequentemente, haverá fornecedores capazes de dar conta das necessidades das companhias, inclusive em relação a combustíveis.

“A ideia é não perder o trem da história. Já vimos esse filme passando em outras áreas e não podemos perder esse trem. Temos que ter foco, concentrar esforços e recursos de maneira geral, financeiros, humanos, materiais, informacionais, e então é possível.”

Darcton Damião, vice-presidente de Operações para a América Latina da Vaya Space.

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