O endereço de correspondência é a forma de referência espacial mais encontrada em sistemas de informação, mesmo nos não automatizados. É também a forma de localização espacial mais usada pela população. Muitas pessoas não sabem de cabeça o número de sua carteira de identidade ou CPF, mas certamente todo mundo conhece seu endereço, e com bastante precisão. Isto faz do endereço a chave de acesso mais adequada para armazenar e recuperar informações espaciais em um sistema de informação urbano. O GIS que usar esta chave será muito mais amigável e seu acesso será mais fácil.

Cadastros de atividades, registros de propriedades, dados sobre ocorrências no ambiente urbano geralmente têm o endereço como referência principal. Portanto, a criação de uma base de endereços é passo fundamental para o sucesso da implementação de um GIS urbano. Especificamente, trata-se de estabelecer formas de transformação de endereços (da forma como são informados pela população, ou da forma como são armazenados nos sistemas de informação disponíveis) em coordenadas geográficas, e vice-versa.

Sendo uma informação de uso popular, o endereço pode assumir diversas formas. Como conseqüência, existe também grande variação nas formas de codificação de endereços em sistemas de informação convencionais. O endereço postal usual, por exemplo, permite a localização de qualquer residência ou empresa por parte dos Correios, e portanto tem formato conhecido quase universalmente. Embora sua composição varie de cidade para cidade, o mais comum no Brasil é algo como:
Rua Doutor Mariano de Abreu, 576 – Apto. 102 – Bairro Jardim América – Belo Horizonte – MG – 31230-120.

Como estas informações são geralmente usadas – pelos sistemas de informação convencionais – apenas para impressão em correspondências, é comum o armazenamento em tabelas alfanuméricas, sem maiores cuidados, da seguinte forma:

Nesta representação, o campo Endereço inclui todos os detalhes que compõem o endereço postal, até mesmo o bairro. Tudo que o sistema precisa fazer é imprimir a informação como foi armazenada. Este campo será decomposto em maior detalhe a seguir; os outros serão desconsiderados por enquanto.

Conforme o nível de detalhe exigido por cada sistema, a informação Endereço será melhor detalhada, através da sua divisão em campos. Percebemos esta preocupação por parte do projetista do sistema quando preenchemos algum formulário de cadastramento.

Do menor para o maior grau de detalhe, as seguintes formas são encontradas:

A identificação do logradouro passa, na segunda forma, a ser caracterizada por dois campos. O primeiro identifica o tipo de logradouro: rua, praça, avenida, etc. Os tipos válidos podem ser previamente listados e cadastrados em tabela separada, servindo para verificação de dados de entrada. Em geral, adota-se uma simplificação ou abreviação do tipo de logradouro usando apenas 2 ou 3 caracteres.

A divisão acima é mais rara, mas é adotada por empresas que dependem fundamentalmente de interpretação alfanumérica precisa dos endereços. A diferença para a forma anterior é que se extrai do nome do logradouro uma parcela correspondente a um título profissional ou patente, quando existe, que precede o nome propriamente dito.


A quarta forma é denominada forma normalizada, com representação do logradouro por meio de código, que se encontra em uma tabela de apoio (4b), onde poderá ser traduzido nos diversos atributos que identificam o logradouro. Esta estrutura permite que se tenha, na tabela 4b, não apenas os nomes oficiais dos logradouros, mas também nomes anteriores e apelidos populares. Para isso, basta criar uma nova coluna em 4b, inserindo um identificador para distinguir entre nomes oficiais e extra-oficiais, e também uma coluna que permitisse identificar univocamente cada variação do nome de um logradouro. Uma alternativa a esta estratégia seria criar, em separado, uma tabela semelhante à 4b, mas contendo apenas nomes alternativos, deixando os nomes oficiais apenas em 4b.

Observe-se que o número do imóvel também foi padronizado, de modo a conter exatamente cinco caracteres. Isso é dispensável se o número do imóvel for armazenado em um campo numérico. O mesmo vale para o código do logradouro, se for adotado um sistema de codificação baseado em números inteiros.


Também o bairro poderia ser normalizado, substituindo o campo textual Bairro na tabela 5b por um código e criando adicionalmente uma tabela de apoio com os códigos e nomes de bairros.

A forma normalizada pode ser ainda simplificada com a dispensa do complemento. Considera-se o complemento desnecessário, nesse caso, para caracterização da localização espacial do endereço, uma vez que apenas distinguirá entre unidades de um mesmo imóvel.

Na transposição da estrutura acima para um GIS alguns problemas adicionais precisam ser tratados. Em primeiro lugar, é necessário associar a cada endereço uma localização geográfica. Para isso, o ideal é representar os endereços no banco de dados geográfico como elementos do tipo ponto, ou símbolo.

Seria também interessante complementar a base de endereços com elementos geográficos que representem, no mapa, o logradouro. Isso é usualmente feito por meio de centerlines (linhas de eixo) segmentadas em cada cruzamento. Forma-se, assim, uma rede, em que segmentos de logradouro se conectam uns aos outros por meio de nós, colocados nos cruzamentos. Com esta rede, pode-se estimar distâncias para percurso a pé, usando recursos básicos de roteamento encontrados na maioria dos GIS. Pode-se também simular a existência de obstáculos físicos comuns no meio urbano. Por exemplo, dois endereços podem ser bastante próximos se calculada a distância euclidiana entre eles, mas para sair de um e chegar ao outro é necessário usar uma ponte mais distante – e portanto a distância real será maior.

Outro elemento que pode ser caracterizado no GIS é o bairro. É comum encontrar, nos GIS urbanos brasileiros, uma divisão de bairros que serve, entre outras coisas, para produzir mapas temáticos. Naturalmente, o bairro será representado por um elemento de área, formando um conjunto de polígonos adjacentes que, tipicamente, cobre todo o território do município.


Figura 1 – Esquema para sistema de endereçamento.

O resultado desta análise está apresentado na Figura 1, sob a forma de um esquema Geo-OMT (segundo a metodologia apresentada nas duas últimas edições de InfoGEO). No esquema, os identificadores de cada entidade estão em negrito e itálico. Observe-se que foi criado um relacionamento entre os endereços e CEPs especiais, que são atribuídos a endereços que usualmente recebem grande volume de correspondência. O CEP especial, sozinho, constitui um endereço válido, perfeitamente localizável pelos Correios e que, portanto, precisa ser destacado no esquema proposto.

É necessário compreender que, pelo menos do ponto de vista das aplicações geográficas, o endereço é uma entidade independente, e não um atributo de outras entidades. Mais ainda, o endereço é uma entidade eminentemente espacial.

Em sistemas convencionais quase sempre o endereço é caracterizado como atributo de alguma outra entidade (imóvel, cliente ou fornecedor), mas isto não é conveniente nem suficiente em um GIS. Considerando o endereço um atributo, torna-se possível sistemas da mesma organização armazenarem de forma redundante ou, pior, conflitante. A despadronização resultante dificulta um tratamento mais sistemático dos endereços, desperdiçando recursos e potencial de aproveitamento dos endereços em aplicações geográficas.

Já quando se caracteriza o endereço como entidade, os diversos sistemas poderão utilizar-se apenas de relacionamentos para representar endereços de outras entidades. Nesta filosofia, quando se georreferenciam os endereços, construindo uma base geográfica de endereços, todas as entidades que se relacionam à entidade endereço passam a ser georreferenciáveis também.

Clodoveu Davis é engenheiro civil, analista de sistemas, mestre em Ciência da Computação e Assessor de Desenvolvimento e Estudos da Prodabel – Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte. email: cdavis@uol.com.br