A máquina alimentada por dinheiro

A Internet é uma excelente infra-estrutura e um grande meio de comunicação. Por isso, pode ser também uma ótima prestadora de serviços. Basta saber usar bem o potencial oferecido. O artigo de Frederico Fonseca explica como o geo pode se beneficiar dos serviços via Web.

Uma vez ouvi em uma palestra sobre o futuro da Internet uma frase muito verdadeira. O palestrante comparou a Internet a uma máquina onde se coloca dinheiro de um lado e saem serviços de outro. Essa é uma imagem muito boa, porque só se pode esperar bons serviços com uma boa infra-estrutura por trás. Infra-estrutura custa dinheiro e isto leva a cobrança de taxas para se obter os serviços. Exceção pode ser feita a agências governamentais que, por força de lei ou por sua própria natureza, devem fornecer informações gratuitamente. Mas mesmo neste casos deve-se esperar uma cobrança relativa ao trabalho de fornecer a informação.

E como a Internet pode ser usada para prestar serviços? Vamos dividir o uso da Internet em passivo e ativo. Na maneira passiva, podemos comparar a Internet a um serviço de correio altamente especializado em meio digital. Os participantes são: de um lado, as entidades que possuem informações geográficas em meio digital, como mapas ou imagens de satélite; e de outro lado, os usuários deste tipo de informação.

Este tipo de serviço não só é mais rápido do que o correio normal, mas também diminui custos de processamento de informação. Toda a informação é extraída e deixada à disposição dos interessados, que podem manipular os índices do material disponível, escolher exatamente o que querem e receber imediatamente.

A segunda maneira, o uso da Internet como um agente prestador de serviços, é mais complexa e implica o uso de banco de dados geográficos com consultas interativas. Estas consultas são feitas usando-se um navegador (como o Netscape Navigator ou Internet Explorer) como interface. Estas interfaces estão ficando cada vez mais elaboradas e geralmente são programadas usando linguagem Java, como já foi explicado nesta coluna (infoGEO nº 6, mar/abr). Esta linguagem permite o desenvolvimento de programas sofisticados podendo executar funções complexas. Tudo isto com uma interface fácil e dinâmica, com janelas muito semelhantes àquelas a que o usuário está acostumado.

Além de poder consultar bases de dados geográficos, o nível tecnológico das ferramentas disponíveis hoje na Internet permite que o usuário interaja com um sistema também para atualizar dados. Ou seja, a Internet aparece como uma ótima infra-estrutura de rede para coletar dados de usuários do sistema espalhados por uma grande área geográfica. Mesmo porque os mecanismos de segurança disponíveis na Internet hoje permitem até a realização de operações bancárias on-line. Do ponto de vista dos sistemas de informação geográficas, vários fabricantes já fornecem as ferramentas necessárias para se conectar o banco de dados geográfico com navegadores na Internet. São pequenos programas que ajudam a disponibilizar os dados pela Internet e receber também informações dos usuários.

Outro uso da Internet para o comércio de informações geográficas é através de novas tecnologias como mapas digitais em visores de cristal líquido instalados em carros. Estes mapas na realidade são computadores com sofisticados programas. Primeiro é necessário receber sinais de satélite através de um aparelho GPS. O GPS recebe sinais de uma rede de satélites em volta da terra e consegue determinar a posição do receptor na superfície da terra. Esta posição pode ser exibida em destaque em um mapa digital na tela do computador do carro.

A melhor maneira deste computador se manter atualizado é buscando mapas atualizados na Internet. Para isto, é necessário uma conexão telefônica ou por rádio que ligue este computador à Web. Uma vez na Internet é só procurar o provedor deste serviço de atualizações de mapas e exibir na tela o mapa atualizado. A estrutura de programas por trás disto é bem semelhante à disponível hoje na Internet. Podem existir serviços que forneçam mapas atualizados, ou ocorrências de acidentes. Engarrafamentos de trânsito e até dicas de hotéis, restaurantes e compras.

A presença da Internet em todas estas opções apresentadas hoje aqui se justifica pela facilidade de acesso à rede que é cada vez maior. Ao mesmo tempo, quanto mais pessoas tem acesso à Internet. Ela é mais procurada para exercer o papel de fornecedora de serviços. O aumento do uso da Internet acaba levando ao aumento do número de ferramentas disponíveis para o desenvolvimento de programas que proporcionem este tipo de serviço. É assim que a Internet deve ser encarada: como uma excelente infra-estrutura de comunicação e prestação de serviços.

Frederico Fonseca é engenheiro mecânico, tecnólogo em Processamento de Dados e mestre em Administração Pública. Participa da equipe de geoprocessamento da Prodabel, responsável pela implantação do GIS da Prefeitura de Belo Horizonte. Atualmente cursa doutorado na Universidade do Maine. Email: fred@spatial.maine.edu