O papel das GEOTECNOLOGIAS no desenvolvimento da agricultura

Conheça um pouco do que as Geotecnologias podem fazer pela agricultura através dos exemplos e avaliações do colunista Régis Bueno

Durante os anos noventa vimos um crescente aumento do emprego da terminologia "precise farming" ou, pela sua tradução, agricultura de precisão, ou ainda os diversos outros termos que procuram sintetizar o emprego de um conjunto de geotecnologias, dispositivos eletrônicos e conhecimentos para viabilizar a otimização dos processos de produção agrícola, através do melhor conhecimento e controle dos fatores que influenciam esta atividade.

Dentre o conjunto das geotecnologias que são utilizadas destacam-se principalmente o GPS e o GIS. O GPS, como elemento que fornece a posição geodésica das feições ou das informações. É através dele que torna-se economicamente viável saber o local onde encontra-se um determinado dado, medir áreas, avaliar distâncias ou onde intervir precisamente, objetivando maximizar resultados.

O GIS é o meio para onde convergirão as informações geradas com o GPS, o sensoriamento remoto, sensores instalados em máquinas, dentre outras fontes de informação. Com ele serão feitas análises, serão gerados mapas e outras informações que subsidiarão mais estudos e ações.

Para elucidarmos com um exemplo, pensemos na necessidade que um agricultor teria de realizar a fertilização de uma área de cultivo. Normalmente, o procedimento consiste em tomar amostras do solo, em uma determinada sistemática, enviando-as para análise. Com a análise realizada, a próxima etapa consistiria em saber qual a composição e a quantidade de adubo que se deve aplicar, partindo-se do pressuposto que todo o solo a ser fertilizado contém as mesmas características do conjunto de amostras.

A fertilização é, portanto, realizada a partir de uma generalização das características do solo. Sabe-se que este apresenta variações na sua composição, além das influências da topografia, profundidade, etc., dando a este procedimento um certo grau de deficiência. O objetivo da agricultura de precisão seria adequar a aplicação de adubo em função de diferentes variações localizadas nas características do solo, tornando a fertilização da área a mais uniforme possível.

Empregando-se o DGPS, por exemplo, pode-se obter um mapa da área de cultivo, com um custo relativamente menor, comparado à tecnologia convencional de levantamentos topográficos. Elaborada a planta pode-se projetar uma grade dividindo a superfície do terreno em unidades de área, formando células de tamanho adequado à melhor amostragem das características do solo. Posteriormente, com o uso do DGPS em tempo real, levanta-se a coleta de cada conjunto de amostras destas células enviando o material para análise.

Os dados obtidos do levantamento e da análise de solo são adicionados ao GIS, gerando-se um novo mapa que permite identificar as diferentes necessidades de insumos, para cada local dentro do perímetro da área de cultivo. Em seguida, considerando-se as necessidades de cada local seria realizada a fertilização no interior da área de cultivo.

Para tanto emprega-se um trator equipado com DGPS em tempo real, um computador de bordo com as informações obtidas do "mapa de adubação", mais os dispositivos adequados para obter-se uma dosagem variável dos componentes do fertilizante. Desta forma, as porções de solo com diferentes características seriam preparadas de forma que poderiam contribuir para o aumento da produção.

Coleta de amostras para mapeamento da fertilidade do solo com a utilização de GPS.

Outra aplicação bastante interessante na agricultura é o que vem ocorrendo com a aviação agrícola. Atualmente os aviões agrícolas contam com sistemas DGPS que, semelhante ao que ocorre na aerofotogrametria, podem seguir um planejamento de vôo, composto por linhas projetadas que recobrem a área a ser pulverizada. A aeronave pode ser mantida segundo estas linhas, acionando automaticamente o sistema de pulverização ao cruzar o limite da área e encerrando ao sair.

Eliminou-se a necessidade de pessoas sinalizando as linhas, que corriam sérios riscos nesta tarefa. O sistema possui a capacidade de monitorar a quantidade aplicada, informando com mapas e relatórios o que foi realizado, permitindo avaliações e decisões mais eficientes por parte do piloto e do contratante. Ao mesmo tempo possibilita maior controle reduzindo o desperdício e a probabilidade de acidentes ambientais.

Esta expansão de capacidades requer maior quantidade de informações do que aquelas que normalmente nos preocupamos em obter. Por exemplo, pode ser necessário saber quais áreas dentro de uma plantação estariam sendo afetadas por uma praga ou por outra; pode ainda requerer o conhecimento da posição de uma linha de alta tensão. São as informações espaciais que o sistema pode aproveitar para aumentar sua eficiência operacional.

Como poderiam ser realizados estes estudos com o custo das operações topográficas clássicas?

A tecnologia GPS, que proporciona precisão e custo operacional adequados, facilita o mapeamento para gerar a base para o projeto, a localização dos pontos de coleta de amostra e a correção do solo de forma adequada e no local correto. O GIS permitiu a redução de tempo e custos no cruzamento das informações e geração de respostas, ou até mesmo novas perguntas.

Estes exemplos, embora colocados de forma superficial, podem indicar ao leitor o quanto seria possível obter melhores resultados combinando-se os potenciais de informação proporcionados pelas geotecnologias. O seu uso não aplica-se só na produção. Elas são aplicáveis desde a pesquisa até a distribuição dos produtos. Os empregos são bastante diversificados e as ferramentas tecnológicas disponíveis também.

Contudo, sempre é conveniente lembrarmos que a ferramenta não opera por si, é necessário a outra parte integrante do sistema, o conhecimento humano. Pouco resultado se obtém do acesso a estas tecnologias sem o pleno conhecimento dos seus conceitos e a correta fixação dos objetivos. A diversificação das geotecnologias exige um adequado conhecimento do que proporciona cada uma e de como empregá-las da forma que se obtenha melhor custo benefício para cada problema.

Semelhante ao que ocorre em outras áreas, na agricultura de precisão, haverá maior necessidade de informação, conseqüentemente maior demanda para a coleta, o tratamento, a disponibilização e a gestão de informações espaciais. Estes dados, para serem usados de forma à proporcionar bons resultados necessitam ter a confiabilidade adequada e ser obtidos com baixo custo. Portanto, deve-se desenvolver métodos e processos compatíveis com cada necessidade. O correto uso destas tecnologias, neste campo do conhecimento, abriu novas fronteiras e demanda profissionais qualificados, preparados para atender os requisitos básicos e com ampla visão e domínio das ferramentas ao seu dispor.

Assistimos continuadamente ao aumento de exigências por parte dos países do primeiro mundo em relação aos produtos agrícolas exportados pelo nosso País. Em mercados onde é exigida maior qualidade nos produtos, as geotecnologias têm a contribuir com a sua conquista. Elas podem ser empregadas para a redução de custos e para obter controle ambiental na agricultura, ajudando a derrubar barreiras.

Régis Bueno é engenheiro agrimensor pela Escola de Engenharia de Agrimensura de Pirassununga, mestre em engenharia e doutorando pela Escola Politécnica da USP e professor da EPUSP, UNIP e UNISANTOS. Integra a Comissão de Normas para Serviços Topográficos da ABNT e trabalha como consultor. E-mail: rfbueno@ibm.net