Utilities aumentam a ênfase na integração do ERP com o GIS/AM/FM
Por J. D. Wilson

Alimentadas pela desregulamentação, pela consolidação e pela competição global, as Utilities (empresas distribuidoras de serviços como água, esgoto, energia elétrica e telefonia) estão reciclando agressivamente suas tecnologias de informação para conduzir melhor suas operações, manter sua tradicional base de consumidores e atingir novos mercados.

Elas reconheceram uma crescente necessidade de implantar processos empresariais de nível mundial assim como de sistemas de informação, se quiserem ter sucesso no mercado globalizado que surge. Para atender essas necessidades, as Utilities estão aderindo aos Sistemas de Planejamento de Recursos de Empresas (ERP – Enterprise Resource Planning) para recapacitar seus envelhecidos sistemas de administração. Basicamente, ERP é um tipo de sistema que tenta centralizar e coordenar operações de vários sistemas, aumentando a eficiência e a produtividade.

Mas a parte administrativa – sistemas de finanças, recursos humanos, registro de clientes e outros – é apenas metade da questão. As Utilities têm uma infinidade de sistemas operacionais, como GIS/AM/FM, gerenciamento de trabalho, SCADA e gerenciamento de saída. Esses sistemas estão usualmente separados dos sistemas mais tradicionais de administração e têm de ser integrados ao esquema geral de tecnologias de informação para fornecer uma funcionalidade total aos empreendimentos.

Esta dualidade de tecnologias de informação – que não existe na maioria das outras empresas que aderiram ao ERP- apresenta desafios únicos e complexos para as empresas que procuram integrar a informação a nível dos empreendimentos.

"A integração do GIS/AM/FM em um ambiente que englobe toda a empresa tornou-se uma questão primordial para nossa equipe", disse Robert Samborski, diretor executivo da Associação de Informação e Tecnologia Geo-espacial (GITA). "Na medida em que se amplia o uso e o conhecimento que possuem dos princípios básicos geo-espaciais, elas começam a buscar maneiras de aumentar o valor de seus investimentos em GIS através da extensão de sua operacionalidade a toda a empresa."

Essa também é a principal questão para quem desenvolve GIS e também pra quem fornece os serviços. "Os vendedores de GIS/AM/FM estão trabalhando agressivamente para tornar suas tecnologias acessíveis à empresa," explicou David Sonnen, analista de sistemas espaciais na IDC. "O problema é que os sistemas AM/FM estão intensamente organizados visando a solução de problemas e questões espaciais. O resto dos empreendimentos possui outras perspectivas. O casamento entre os dois foi sempre um desafio. A integração envolve um enfoque fundamentalmente diferenciado das duas áreas".

"Estamos vendo uma movimentação contínua de vendedores de GIS e ERP em direção a essas interfaces," concorda Rick Nicholson, vice-presidente de utilities do Grupo META. Todos os principais vendedores de GIS/AM/FM têm agora interfaces seguras com plataformas ERP, incluindo as oferecidas pela Peoplesoft, BAAN, J.D. Edwards, SAP AG e Oracle Corporation. Essas interfaces permitiram que o GIS, como tecnologia, crescesse lado a lado com o ERP entre os clientes ligados a Utilities. Nicholson explicou que a maioria das Utilities está implementando módulos de ERP por várias razões, incluindo as seguintes:

1. Resolver problemas com o Bug. O Bug do Milênio pode ter sido o maior motivador para a maioria dos grandes investimentos em sistemas de empreendimento nos últimos cinco anos. "O problema do Bug certamente faz parte de suas motivações, mas não é tudo," explicou Nicholson.

2. Melhorar os processos de negócios. "Há uma percepção de que ao implantar um pacote de ERP, elas estão essencialmente implantando sistemas altamente produtivos importados de outros setores" disse Nicholson. "Na verdade, algumas Utilities perceberam que precisavam mudar seus processos de negócios, e então implantaram o ERP como um agente de mudança.

3. Reduzir os custos de Teconologias de Informação. Com sistemas envelhecidos, muitas Utilities estão percebendo que os custos de manutenção e atualização serão maiores do que os de implantação de um novo sistema. "Eles estão vendo sistemas cheios de heranças antigas que são caros de manter e atualizar", ele afirmou.

4. Compartilhar informações. Utilities tem se interessado em compartilhar dados sem que haja nenhum tipo de barreira, não importando o sistema utilizado como suporte para a informação. "Infelizmente, o nível de integração ainda não é bom o suficiente e eles nunca permitiram uma integração a nível empresarial", disse Nicholson. Foi essa capacidade de colocar a informação à disposição da empresa que forçou com que o ERP fosse mais bem aceito em muitos setores, e não só no de utilities. No caso de utilities, essa possibilidade inclui ainda compartilhar dados geo-espaciais.

"GIS é antes de mais nada um sistema que ajuda a gerenciar bens e não faz sentido ter sistemas separados, sem conexão", explicou Nicholson. "O ERP atua a partir de uma perspectiva financeira; o GIS, a partir de uma perspectiva operacional. Para aproveitar o máximo seus potenciais, estas perspectivas precisam ser unidas. "

O novo papel do GIS
Este enfoque que integra ERP e GIS criou novos desafios para os desenvolvedores de GIS. Na verdade, ele muda a própria essência do papel do GIS. "O GIS fornece representação geográfica de dados armazenados em outros lugares," explicou Noel Couturiaux, engenheiro senior da GPU, uma empresa que usa ERP e GIS integrados. "Não é responsabilidade do GIS armazenar os dados."

Desta forma, o GIS não funciona mais como um sistema isolado. Agora ele é um conjunto especializado de aplicativos dentro do empreendimento. Suas potencialidades de visualização gráfica e de análise espacial continuam sendo primordiais, mas os usuários se preocupam menos com sua capacidade de armazenar, gerenciar e pesquisar dados. Não é uma questão de onde os dados estão, mas sim de qual o grau de facilidade que os usuários têm para acessá-los e de como estão usando estas informações. "No passado, AM/FM/GIS sempre foram implementados como um grande projeto em si", complementou Sonnen. "Agora, pelo contrário, estão sendo tratados como partes de um projeto maior".

Respondendo a esta tendência, fabricantes de GIS estão redesenhando seus produtos dentro de novos moldes. "Nós estamos observando grandes fabricantes se posicionando como mini-sistemas ERP", disse Sonnen. "Eles estão tentando com todas as suas forças fazer sua tecnologia ser mais acessível para a empresa".
Na maior parte dos casos, vendedores de GIS aprenderam as novas regras do jogo e estão adaptando seus produtos e serviços de maneira eficiente. Todo fabricante hoje oferece interface de seu GIS para sistemas de ERP. "Integração entre ERP e GIS já é um fato." declarou Nicholson. "Não veremos mais ninguém implantando sistemas isolados".

Mais fácil falar do que fazer
Mas a integração tem um preço. Os desafios para se implementar um ambiente ERP/GIS podem ser muito grandes. "Apesar de todas as histórias de sucesso, não é um mar de rosas como alguns dizem", avisa Nicholson. "Há muitos casos de implantação que ultrapassaram limites de prazo e de gastos."

"Parece realmente maravilhoso saber que tudo vai estar integrado, mas você precisa primeiro integrar tudo para que isso aconteça" diz Schlagel, da GPU. Depois de décadas em que os dados ficaram armazenados isoladamente, pode não ser fácil colocá-los juntos. "Alguns de nossos sistemas existem há 25 anos, cheios de dados que não foram checados por outros sistemas. Eles têm sistemas de numeração completamente diferentes", completou Schlagel. "A parte nova é fácil, mas você tem que reestruturar os dados antigos e precisa entender o que contém cada banco de dados, como eles se relacionam e como eles precisam combinar".

Os técnicos da GPU, que tiveram sucesso em sua operação, têm conselhos para quem quer fazer o mesmo. "É fácil colocar o software para rodar, mas não subestime os esforços necessários para validar os dados e unificá-los", diz Schlagel. "Você tem que conhecer seus dados existentes, ter pessoas que entendam seu GIS e seus bancos de dados externos para fazer a integração funcionar – e você precisa entender como você quer que os processos funcionem", ele continua. "Você precisa montar sua equipe com pessoas que entendam destas diferentes áreas. É disso que estamos falando quando falamos em sistemas ERP – unir todas as peças".

J. D. Wilson faz parte da diretoria da GITA.
A Geospatial Information & Technology Association (GITA) é a maior associação de usuários de geoinformação do mundo. Site: www.gita.org