One-Call System verde e amarelo

GEOInteligência 2004 dá um passo importante para a construção de Sistemas de Chamadas Únicas no Brasil

Cenas como essa devem sempre ser evitadas. No entanto, no Brasil, problemas de vazamento de água, explosões em tubulações de gás e danos à rede elétrica subterrânea ainda são comuns. O bom gerenciamento da infra-estrutura crítica de serviços públicos deve fazer uso de tecnologias para melhor apoiar o processo e o GIS é fundamental nesse contexto.

Concebido e coordenado pela GITA Brasil, o GEOInteligência 2004, evento que marcou sua estréia na Semana de GeoInformação em maio último, junto com o GEOBrasil, o ExpoGPS e o GEO Óleo e Gás, trouxe a São Paulo importantes personalidades que puderam falar de compartilhamento de infra-estrutura crítica de serviços públicos, interoperabilidade e sistemas de chamadas únicas, os famosos One-Call Systems.

Já tratamos desse assunto na edição 32 (artigo "GeoInteligência e Interoperabilidade"). Naquela oportunidade pudemos detalhar o caso do ROADIC ( Road Administration Information Center), do Japão. Bob Samborski, diretor exe-cutivo da GITA EUA, esteve em São Paulo no GeoInteligência para descrever como foi a Study Mission internacional que analisou o caso.

Durante o evento, outros palestrantes internacionais, vindos dos EUA, também deram seu recado. Peter Gomez, Gerente de Requerimento de Informações da Xcel Energy, falou a respeito do GIS para Proteção de Infra-estrutura Crítica. Essa visão geral foi importante para conceituar a abrangência e o potencial do aspecto geográfico no panorama de gestão dos serviços públicos.

Em seguida, Peter Casals, da IAEM (International Association of Emergency Managers), falou sobre os esforços globais de Resposta a Emergências. A organização, sem fins lucrativos, tem o objetivo de tratar do gerenciamento de emergência em todos os níveis de governo (do local ao federal), focalizando o Homeland Security e o Disaster Management.

O aspecto Interoperabilidade também marcou presença. Mark E. Reichardt, diretor executivo de Outreach and Community Adoption do OGC ( Open GIS Consortium), falou do papel dos padrões abertos na segurança da informação para infra-estrutura crítica. A palestra abordou os esforços globais do OGC no estabelecimento de Web Services para Catálogos de Dados e de Serviços, e também a CIPI ( Critical Infrastruture Protection Initiative), que valida
a aplicação da tecnologia interoperável nos desafios das diversas esferas governamentais e de serviços envolvidas. Os padrões envolvem até a integração de sensores à plataforma Web ( OGC Sensor Web Enablement) para a detecção de problemas e avisos sobre o status da infraestrutura,
em tempo real.

Um dos grandes momentos do evento foi a palestra de J. D. Maniscalco, da OCSI ( One Call Systems International). Ele abordou, de uma maneira bastante prática, diversos aspectos para o estabelecimento de Sistemas de Chamadas Únicas, envolvendo legislação, compatibilização de dados e segurança, entre outros. Além disso, o estudo de caso do Colorado,nos EUA, foi detalhado.

A Missão da OCSI é promover a prevenção de danos e proteção de infra-estrutura através da educação, conscientização e assistência. Isso se dá a partir da disseminação de conhecimento e do desenvolvimento de sistemas em âmbito internacional. A organização também é sem fins lucrativos, governada pelos próprios membros, bastante desenvolvida para os EUA e representada pelas empresas de serviços de infra-estrutura (água e esgoto, eletricidade, gás, comunicação, governo, TV a cabo) e as empresas de escavação.

Um One-Call System, conforme detalhado pela OCSI, funciona da seguinte forma. Quando uma empresa de escavação necessita realizar uma obra, ela entra em contato com um Centro de Comunicação através de call center, fax ou Internet. Esse centro de comunicação recebe a solicitação da empresa, com a localização e descrição da área planejada, em documentação anexa, e determina quais serviços existem no subsolo desse território. Em seguida, o operador do sistema de chamada transmite a informação (mapa ou croqui das redes do subsolo da área, ou simplesmente uma descrição textual) para a empresa solicitante e providencia infra-estrutura de sinalização da área. Esse processo deve ser acompanhado de estatísticas de gestão para que áreas com maior incidência de problemas possam ser investigadas.


Gestão georreferenciada de One-Call Systems

As iniciativas da OCSI nos Estados Unidos têm surtido um grande efeito. Um modelo único de documentação para todo o país foi concebido em 2000. Atualmente, praticamente todos os estados americanos têm legislação específica para z, filiação obrigatória das empresas escavadoras ao sistema de chamada única, cláusula de emergência e mecanismos de penalização. A participação dos palestrantes internacionais foi fundamental para dar o tom e mostrar a estrutura organizacional e o comprometimento que devem ser estabelecidos para a evolução da gestão integrada de serviços públicos no Brasil. Da simplificação de processos ao uso
de padrões abertos para intercâmbio de dados, as grandes cidades brasileiras vivem estágios de amadurecimento muito diferentes (entre si e intra-município, em cada concessionária de serviços).

Sob a coordenação da GITA Brasil, o GEOInteligência teve seu fechamento através de um acalorado debate entre os representantes da cidade de São Paulo envolvidos no assunto. Estavam presentes João José dos Santos Oliveira, da AES Eletropaulo (energia elétrica), Carla de Chiara, da SABESP (água e esgoto), Adilson Casarini, da Comgás (gás natural), e, pela Prefeitura de São Paulo, Shinji Yoshino, da CONVIAS e Marcos Romano, da CEC (Comissão de Entendimentos com as Concessionárias).

Muitos aspectos foram debatidos. Um consenso do grupo foi a necessidade do estabelecimento de um órgão que coordene a disponibilização de informações de autorização entre as concessionárias o governo – o embrião de um Sistema de Chamadas Únicas. Discutiu-se, inclusive, se esse órgão deveria ser vinculado à prefeitura ou mantido em regime compartilhado, pelas próprias concessionárias. A necessidade de mudanças na legislação também foi sentida. Essa transformação deve se dar a nível estadual ou federal, uma vez que o âmbito local dificulta a ação das empresas de serviços públicos, sendo que a maioria delas tem concessão que se estende à grande São Paulo, abrangendo muitos municípios.

De maneira geral, o debate surtiu efeitos. A GITA Brasil foi convidada a participar da Plenária da CEC e do II Encontro Técnico de Redes Subterrâneas de Distribuição de Energia Elétrica, promovido pela AES Eletropaulo, para disseminar os conhecimentos adquiridos durante o GEOInteligência para toda a comunidade interessada. Principalmente, muitos dos esforços concomitantes deram origem ao convênio entre a Prefeitura de São Paulo e a empresa de consultoria norte-americana USTDA, para a contratação de estudo de viabilidade da implantação de Sistema de Chamada Única em CONVIAS. A experiência da OCSI e da GITA nesse processo deve ajudar bastante.


Mark Reichardt (OPEN GIS), J. D. Maniscalco (OCSI) durante o GEOinteligência 2004.

São Paulo desempenha papel importante para a disseminação dessa cultura em território nacional. Os aprendizados tirados dessa implantação na maior cidade do Brasil servirão de exemplo para outras metrópoles e grandes cidades. A CONVIAS foi criada por um motivo semelhante ao que deu origem ao ROADIC japonês: um vazamento seguido de explosão na rede de gás. A evolução e a capacidade de mobilização conjunta dos japoneses foram diferenciais para que eles pudessem estabelecer de fato um sistema integrado de autorização de obras e cadastro do subsolo. Quem sabe agora, com o acordo recém-firmado com a empresa de consultoria americana, São Paulo e o Brasil possam trilhar esse caminho e evoluir ainda mais.

Um adendo providencial: a colaboração da Martha Gorman, coordenadora da GITA Internacional, e do Marcos Romano, coordenador da CEC, foram fundamentais para a boa organização do GEOInteligência em São Paulo. E que venha o GEOInteligência 2005!!!

Eduardo de Rezende Francisco
Bacharel em Ciência da Computação pelo IME-USP e Mestrando em Administração (Métodos Quantitativos) pela EAESP-FGV
Atua em GIS, Business Intelligence e Estratégias de Marketing na AES Eletropaulo
Consultor em integração Geomarketing & Data Mining e sóciofundador da GITA Brasil.

eduardo.francisco@aes.com
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