O Futuro do GIS: Menor Custo de Implantação

Após uma década de início efetivo da difusão da tecnologia de geoprocessamento no Brasil, é salutar fazer um balanço dos resultados obtidos e do que podemos esperar dos avanços desta tecnologia.

O processo típico de implantação do geoprocessamento em nossas instituições pode ser assim resumido:
Contratar consultoria para realizar um Plano Diretor de Geoprocessamento
Realizar licitação para a compra de hardware e software.
? Treinar equipe, atividade longa em função da com-plexidade dos sistemas licitados
? Realizar projeto-piloto para demonstrar à gerência o potencial do geoprocessamento
? Contratar levantamento de dados básicos e despen-der enorme esforço para a conversão de dados pro-duzidos em sistemas CAD
? Após todos estes passos, iniciar para valer o uso do geoprocessamento na empresa ou instituição. É provável que no meio deste longo processo, que leva de 3 a 5 anos, haja mudança gerencial (eleições, privatização ou reengenharia) que interrompa ou cancele tudo. Este cenário está na raiz de muitas experiências negativas de implantação da tecnologia de geoprocessamento.Para ajudar a suplantar estes problemas, tendências relevantes são o uso de sistemas de desktop mapping e o estabelecimento de padrões de intercâmbio e acesso à informação geográfica.

Os fabricantes de GIS para ambiente PC, envolvidos em feroz competição, estão a produzir sistemas cada vez mais amigáveis e poderosos, a preços decrescentes. Isto permite à empresa:
w Ser capaz de iniciar rapidamente a implanta-ção de um projeto-piloto, com investimento reduzido e treinamento mais simplificado
w Poder exigir que os fornece-dores de dados atendam a formatos compatíveis com os ambientes GIS (com topologia e atributos associados às localizações geográficas).

Este foi o caminho seguido por muitas instituições que optaram pela filosofia small is beautiful, em muitos casos usando software brasileiro, e que conseguiram sucesso.

Numa perspectiva de médio prazo, a outra tendência que poderá modificar o cenário atual são os padrões de acesso a repositórios de informação geográfica, como propostos pelo Consórcio Open GIS.
Em vez de requerer do usuário significativo esforço de conversão e montagem de seus próprios acervos, o consórcio Open GIS está especificando mecanismos padronizados para acesso a diferentes tipos de dados espaciais (incluindo mapas, imagens e meta-dados). Fazendo uma analogia simplista com a Internet: as webpages no mundo inteiro usam tecnologias padrão (incluindo HTML e Java), o que permite a programas como o Netscape navegar pela teia mundial.
Ao aderir ao padrão Open GIS, um provedor de informação permitirá que os futuros softwares GIS, cujas interfaces respeitem este padrão, tenham fácil acesso a seus bancos de dados, libertando-se assim das limitações atuais de formatos incompatíveis. Para o usuário, isto poderá reduzir substancialmente o custo de implantação de geoprocessamento, pois não haverá necessidade de duplicar informação. O trabalho dos desenvolvedores de software, principalmente no caso do desktop, poderá ser voltado para fornecer um ambiente plenamente adaptado ao cliente, não apenas uma interface genérica.
Se o padrão Open GIS vingar e for adotado por fabricantes e usuários, o mundo de geoprocessamento sofrerá profunda alteração. Neste momento, o Open GIS ainda é uma proposta em elaboração, mas já estão chegando ao mercado as primeiras implementações parciais.
Enquanto as mudanças não se consolidam, o usuário de GIS não pode nem deve ficar parado. As lições passadas devem servir para que passemos a adotar uma postura pragmática: começar rápido, usar ferramentas de baixo custo e fácil aprendizado, capacitar a equipe, gerar resultados desde o primeiro dia.
Ao aproveitar os avanços da tecnologia para reduzir os riscos do processo de implantação, finalmente poderemos realizar o potencial do geoprocessamento no Brasil.

Gilberto Câmara trabalha no INPE e foi um dos coordenadores do desenvolvimento dos sistemas SGI e SPRING.
email:
gilberto@dpi.inpe.br