Critérios para Escolha de um GIS

Tanto o mercado mundial quanto o brasileiro de GIS dispõem hoje de grande variedade de produtos. De modo geral, cada um deles foi originalmente desenvolvido tendo como alvo conjunto específico de problemas de geoprocessamento: gerenciamento de redes de energia e telecomunicações, produção de mapas temáticos, mapeamento ambiental, saneamento básico ou roteamento. Por viabilidade econômica, todos acabaram por evoluir para conseguir novos mercados, em áreas não incluídas nas primeiras oportunidades de aplicação. O resultado é que todos os GIS têm hoje conjunto semelhante de funções. Pela estrutura interna, por sua vez fruto do processo evolutivo, apresentam graus variáveis de eficiência na execução de cada função. Existem softwares ótimos, por exemplo, em processamento de polígonos (união, interseção), mas sofríveis no traçado de rotas ótimas. Ou excelentes na análise de redes, mas com escassos recursos para produção de mapas temáticos. A conclusão deve ser lembrada por todos os que estão à procura de um GIS: nenhum é melhor que os outros em tudo. Sendo assim, que critérios poderiam ser usados para escolher um software GIS?
Em primeiro lugar, é preciso focalizar esforços na identificação de necessidades específicas da aplicação pretendida, graduando sua importância relativa. Assim, será possível analisar objetivamente os produtos, pontuando aptidões de acordo com a escala de prioridades da aplicação, previamente composta. Não se deve esperar encontrar um software que preencha todas as necessidades do projeto, provavelmente não existe. Tal compreensão deve levar a uma maior flexibilidade na elaboração das especificações para aquisição do software.
Além de observar necessidades de aplicação, a escolha precisa considerar características de cada produto que o distingue dos demais. Para compreender melhor como as características contribuem para a qualidade e eficiência do produto, é preciso desenvolver uma visão de sua estrutura interna, identificando componentes principais e como interagem. Componentes como o sistema de gerenciamento de bancos de dados (gráficos e alfanuméricos), recursos para customização e desenvolvimento de aplicativos e mecanismos de comunicação com outros sistemas, além de fatores como preços e disponibilidade de suporte técnico. Especificamente com relação ao banco de dados, é importante verificar a forma segundo a qual as informações gráficas e alfanuméricas são armazenadas. O usual nos sistemas de concepção mais antiga é armazenar dados gráficos e dados alfanuméricos separadamente. O ideal é contar com o armazenamento integrado, em que seja dadas todas as garantias de impossibilidade de violação da integridade da correspondência gráfico-alfa. Quanto aos recursos de customização e desenvolvimento de aplicativos, é importante notar que diversas aplicações buscam exatamente o contrário: um sistema que já venha pronto para operar, bastando um rápido treinamento de usuários. Na maioria das aplicações, existem oportunidades importantes de automatização de tarefas pela customização do sistema e sua interface com o usuário, e também pelo desenvolvimento de programas especificamente concebidos para aumentar a produtividade dos operadores. Fazer isso em um GIS exige que ele disponha de uma boa linguagem de programação e bons recursos de customização da interface com o usuário. Estão na ordem do dia ferramentas de desenvolvimento rápido de aplicações e protótipos, as RAD (Rapid Application Development).
Por fim, recurso indispensável nos softwares GIS de hoje é a capacidade de interligação com sistemas existentes, incluindo outros GIS. Como dificilmente o GIS é o único sistema de informação da organização, quase sempre os projetos incluirão alguma necessidade de integração entre o GIS e bancos de dados convencionais, externos. Além disso, freqüentemente é preciso trocar dados geográficos com outros usuários de GIS e, por isso, a flexibilidade e a confiabilidade dos recursos de intercâmbio de dados geográficos deve ser observada com cuidado.
Não podem ser deixados de lado dois aspectos fundamentais, embora não técnicos, para a escolha do software geográfico. Em primeiro lugar, a qualidade e confiabilidade da equipe técnica do distribuidor brasileiro, e sondar sua disposição em cooperar para o sucesso do projeto. Além disso, convém conferir a base instalada, e verificar a existência ou não de projetos semelhantes ao seu que utilizam o mesmo software.
Importante é observar que a escolha de um GIS para atender necessidades de um projeto ou aplicação não pode ser feita com base apenas num exame superficial das características do software, nem pode ser uma compra por impulso ou influência de outro usuário. Análise das necessidades do projeto e da organização, acompanhada da avaliação criteriosa das características de cada software indicarão trilha mais segura para o uso adequado da tecnologia.

Clodoveu Davis – é engenheiro civil, analista de sistemas, mestre em Ciência da Computação e Assessor de Desenvolvimento e Estudos da Prodabel – Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte. email: cdavis@uol.com.br