O uso de informações geográficas hoje é muito mais do que apenas produzir mapas. Usuários de sistemas de informação geográficos são analistas, planejadores, engenheiros e cidadãos comuns. Com o aumento do uso de GIS, aumentou também a procura por dados geográficos. Estes dados podem se referir a regiões administrativas, cidades ou estados, como podem ser complementares a estes, pertencendo a empresas privadas ou órgãos específicos. A primeira pergunta que nos ocorre é: como procurar estes dados? E a resposta mais rápida: usando a Internet. Cada vez mais organizações participam da rede mundial de computadores – não só institucionalmente, com um site – mas ativamente, vendendo ou fornecendo gratuitamente informações.

Assim, tendo resolvido onde procurar a informação (e considerando que esteja disponível) uma nova pergunta surge: como esta informação estará armazenada? Conversão de arquivos já foi um grande problema dos editores de texto. Hoje o problema ainda existe, mas é pequeno. Pode-se exportar de um editor para outro, gravando em diversos formatos, e importar diretamente formatos gravados em outros programas. É possível também usar o recurso de copiar e colar e ainda o mais ambicioso recurso de objetos embutidos no texto. Ou seja: pode-se ter uma planilha, banco de dados, figura, ou outro objeto inteligente dentro do texto.

Com informações geográficas ainda não é tão simples, mas os objetivos são igualmente ambiciosos. A possibilidade de obter acesso dinamicamente a dados geográficos armazenados em diversas fontes de forma transparente, clara e fácil é o que se chama interoperabilidade em geoprocessamento. Boa parte dos estudos nesta área leva em consideração o uso de uma rede no formato do que é hoje a Internet. Os esforços para exportação e importação passiva de dados estão sendo deixados de lado para dar lugar a integração dinâmica e em rede.

Entre as considerações a ser feitas para que a interoperabilidade na Internet seja possível está a heterogeneidade da rede, onde podem estar conectados um simples PC ou um supercomputador. Deve ser considerada também a capacidade de processamento distribuído que a Internet tem. A linguagem Java tenta tirar proveito disto ao executar instruções de seus programas nos computadores dos usuários e não nos servidores de informação.

Outra importante consideração é sobre que tipo de interface o usuário de dados geográficos deve usar para obter informações e processar seus dados. Ora, a resposta mais óbvia é: a interface que ele usa todos os dias. Uma interface a que esteja acostumado. Os programas de geoprocessamento devem se adaptar para atender aos padrões de interoperabilidade que estão surgindo. Isto pode acontecer porque os fabricantes de softwares sabem do potencial da Internet e estão (na maioria dos casos) definindo novas interfaces para uso de seus programas na rede. Além disto, estes fabricantes sabem que o tipo de dados que trafega na Internet é muito variável e que, portanto, novas interfaces devem se adaptar a isto.

Fabricantes e usuários devem participar de discussões sobre o tipo de interface e de estruturas que devem estar por trás destas interfaces para que a interoperabilidade na Internet possa funcionar. A complicação deve estar escondida do usuário final. Mecanismos deverão ser desenvolvidos para que estes usuários possam procurar na rede, achar os dados e usá-los de maneira simples e adequada.

A principal iniciativa neste sentido é o consórcio OPEN GIS (www.opengis.org). Universidades, fabricantes e entidades governamentais e empresas desenvolvedoras de software GIS (que estariam em melhor posição para verificar a real possibilidade de implementação das propostas) se reuniram com o principal objetivo de propor normas e padrões que possibilitem a interoperabilidade entre GIS. Um dos principais resultados até agora é uma especificação para desenvolvimento de componentes (interfaces, bancos de dados, etc.) interoperáveis. O OGIS (Open Geodata Interoperability Specification), define uma camada de neutralização de diferenças semânticas e conceituais entre diferentes classes de software que lidam com dados geográficos/espaciais.
Assim, o geoprocessamento na Internet será no futuro mais dinâmico e fácil de usar, embora isto vá significar mais trabalho para desenvolvedores de software.

Frederico Fonseca é engenheiro mecânico, tecnólogo em Processamento de Dados e mestre em Administração Pública. Participa da equipe de geoprocessamento da Prodabel, responsável pela implantação do GIS da Prefeitura de Belo Horizonte. Atualmente cursa doutorado na Universidade do Maine. email: fred@spatial.maine.edu