A Comissão Européia (CE) anunciou, em 19 de setembro último, que fará um aporte de recursos públicos da ordem de 2 bilhões de euros no programa Galileo. Este é mais um passo em direção à construção do novo sistema satelital de posicionamento e navegação que integrará o GNSS. Em Bruxelas, a Comunidade Européia declarou que o Galileo é um programa estratégico, vital para a independência da Europa neste setor, e repleto de aplicações promissoras. Juntos, Galileo e Egnos devem ser considerados como um investimento essencial para que a União Européia retenha uma grande parte do mercado de rádio-navegação.

Conforme as avaliações do documento The Galilei Project (2003), o mercado para o sistema GNSS atingirá cerca de 2,5 bilhões de usuários em 2020, considerando-se aplicações integradas GPS+Galileo em conjunto com telefonia móvel. Estima-se que em 2015 o mercado europeu tenha um potencial de 47,3 bilhões de euros em retorno pela integração de sistemas, e 34,3 bilhões em serviços, sendo o primeiro majoritariamente na área de mobilidade pessoal, agrimensura/cartografia e telemática, predominantemente.

Em junho deste ano foi publicado um relatório sobre uma pesquisa, encomendada à Organização Gallup pelo DG Energy and Transport, Directorate R – Resources, Information & Communication, e coordenado pelo Directorate General Communication. Embora não represente, oficialmente, o ponto de vista da Comissão Européia, a pesquisa apresenta pontos interessantes sobre o que pensam do projeto os cidadãos europeus. Observa o estudo que 63% dos europeus desejariam que fundos públicos fossem alocados para suportar o projeto Galileo. Mostra também que 80% concordam que a Comunidade tenha seu próprio sistema de posicionamento. Outra conclusão é de que as pessoas estão bastante interessadas na ajuda que poderia ser proporcionada a outras pessoas com deficiência. Observa-se, ainda, a visão que o público vem formando sobre o assunto e o impacto que esta tecnologia vem alcançando na sociedade daqueles países: 68% dos pesquisados declararam ter familiaridade com o conceito de navegação por satélite. Por outro lado, 79% não estão
usando diretamente ferramentas de navegação por satélite e 60% ainda não ouviram sobre o sistema Galileo.

Vale lembrar que os serviços propostos pelo novo sistema são diferenciados em relação ao que se tem hoje com o GPS. A tabela a seguir nos dá uma informação generalizada do que se pretende desenvolver.

Serviços do Galileo
->Serviços do Galileo


Neste momento, chama-nos a atenção os serviços:

Open Service (OS), que proporcionará serviços de posicionamento, navegação e tempo, sem custo, competindo com o Serviço de Posicionamento Padrão do GPS (SPS) e sua modernização, sendo direcionado para aplicações de mercado de massa;

Commercial Service (CS), para uso profissional, que gerará renda proporcionando valor agregado ao Open Service, com maior performance, mediante pagamento de uma licença de uso com garantia de serviço. Desta forma, o usuário terá acesso a serviços de posicionamento, como correções diferenciais, serviço de tempo preciso e disponibilidade de modelos de atraso ionosférico.

Estas características do CS requerem o conceito de integridade e, para tanto, é necessário que se empreguem técnicas de criptografia. A criptografia já é utlizada no GPS, aplicada no código P, gerando o Y e dificultando a aquisição deste sinal pelos receptores não militares. Tais técnicas podem ser usadas com dois objetivos: o de controlar a aquisição indevida de determinados sinais, por parte de pessoal não autorizado, e o de evitar a corrupção de informações transmitidas pelos sinais. Para tanto, pode-se introduzir a necessidade de autenticação dos sinais por parte do usuário de um determinado serviço (no posicionamento preciso, por exemplo) ou evitar que se cause uma interferência de forma a desviar a trajetória de mísseis guiados pelo sistema de navegação por satélite.

No Galileo pretende-se utilizar um sistema de autenticação para evitar a interferência, proporcionando integridade, e para se obter acesso aos benefícios adicionais proporcionados pelo CS mediante a devida taxa de utilização. Desta forma, o usuário poderia ter, com seu receptor autorizado, a segurança de que aquele sinal é próprio do sistema, e ter o acesso ao serviço com maior poder de informação. A figura a seguir demonstra como poderá operar o sistema. Guenter (2007) examina e discute algumas possibilidades para o Navigation Message Autentication (NMA). Esta técnica compreende a autenticação dos sinais de satélite por meio de assinatura digital do código. Para cada satélite podem ser gerados pares de chaves assinatura/prova. A chave de assinatura seria mantida em segredo, conhecida apenas pelo segmento de controle e pelo satélite em questão. A chave de prova kp terá publicidade através de uma instituição pública ou privada.

Autenticação de mensagem de navegação
->Esquema geral de autenticação de mensagem de navegação

E por falar em interferência, no dia 18 de outubro o presidente dos Estados Unidos aceitou a recomendação do Departamento de Defesa em manter os novos satélites GPS sem a degradação SA (disponibilidade seletiva). Assim, os satélites do bloco III definitivamente não contemplarão esta capacidade de introduzir erros elevados, como ocorria antes de 2001. Em nota oficial, a Casa Branca reafirma também o compromisso em manter a colaboração com o GNSS e continuar trabalhando para construir um suporte internacional para proteção dos sinais contra interferência intencional.

Podemos observar que, apesar dos atrasos e dificuldades do projeto Galileo, parece-nos que no futuro poderemos contar com os seus 30 satélites adicionais ao GPS e Glonass. Conforme se pode depreender, em consulta aos sites oficiais, os sistemas têm caminhado no sentido da integração. Em junho deste ano foi anunciado o acordo entre os Estados Unidos e a União Européia sobre os sinais para uso civil, emitidos tanto pelo GPS quanto Galileo, denominado Multiplex Binary Offset Carrier (MBOC). Os dois provedores enfatizam que, devido ao MBOC, no futuro será permitido obter os sinais das duas constelações, com maior precisão, em ambientes desfavoráveis.

Assim, o GNSS começa a ser denominado um sistema de sistemas, pois temos hoje, minimamente, seis provedores de sistemas componentes, em operação e/ou desenvolvimento, sendo eles: China (Beidou/Compass); Comunidade Européia (Galielo e Egnos), Estados Unidos (GPS e WAAS); Índia (Gagan IRNSS ); Japão (QZSS e MSAS) e Rússia (Glonass e SDCM). Voltaremos a eles nos próximos artigos desta coluna.

Régis Bueno
Engenheiro agrimensor
Msc e diretor da Geovector Engenharia Geomática
regisbueno@uol.com.br