Por Mathias Lemmens, editor chefe da Revista GIM International. Publicado originalmente na edição 12, volume 21 (dezembro de 2007) www.gim-international.com

Posicionamento e navegação por satélites têm se tornado parte da vida cotidiana para muitos cidadãos de todo o globo, e uma variedade de serviços (comerciais) baseiam-se no funcionamento contínuo e correto desses sistemas. Várias outras aplicações promissoras estão no ar e vão delinear o cenário futuro.

Para assegurar serviços confiáveis, o trabalho entre provedores de serviços deveria ser coordenado e no sentido de colaborar, ao invés de ignorar a existência entre eles. Seis nações e federações estão atualmente envolvidas na provisão operacional e no desenvolvimento de serviços globais em navegação por satélites.

Em um encontro em outubro, o desenvolvimento do sistema chinês de navegação por satélites Compass/Beidou (CNSS, na sigla em inglês) foi discutido. Os Estados Unidos já possuem seu Sistema de Posicionamento Global (GPS) e Sistema de Aumentação de Grande Alcance (WAAS), e a Federação Russa possui o Sistema Global de Navegação Satelital (Glonass) e o Sistema de Grande Alcance para Correções Diferenciais e Monitoramento (SDCM, na sigla em inglês). A União Européia (UE) está trabalhando com afinco para colocar os satélites do Galileo em órbita, e já tem um Serviço Complementar Geoestacionário de Navegação Europeu (EGNOS) desenvolvido. Índia e Japão estão trabalhando para colocar satélites de navegação em órbita e estabelecer serviços de aumentação GNSS. O sistema indiano vai ser formado por sete satélites operando regionalmente, a mais de 2 mil quilômetros além de suas fronteiras, provendo precisão melhor do que 20 metros e um sistema de aumentação GNSS. O Japão está trabalhando no Sistema de Satélite Quase-Zenital (QZSS, na sigla em inglês), que também opera regionalmente e será formado por três satélites. Já que a precisão do sistema isolado é limitada, na verdade isso é considerado como um sistema de aumentação para outros sistemas GNSS.a

Todas essas iniciativas facilitam a criação de aplicações promissoras em mapeamento, gestão territorial, desenvolvimento sustentável e muitas outras. Alguns concordam que os benefícios seriam maiores se eles funcionassem de maneira coordenada e cooperativa. Coordenação e colaboração foram recentemente colocados em evidência com a formação do Comitê Internacional de Sistemas Globais de Navegação por Satélites (ICG, na sigla em inglês).

O ICG é uma organização informal de base voluntária que encoraja o acesso universal a sistemas globais e regionais de navegação por satélites, e a integração desses serviços em infraestruturas nacionais, particularmente em países em desenvolvimento. O ICG também trabalha para aumentar a compatibilidade e a interoperabilidade entre os sistemas GNSS correntes e futuros.

Fórum de Provedores

Para alcançar os objetivos propostos pela primeiro encontro do ICG, realizado em novembro de 2006 na cidade de Viena, foi criado um Fórum de Provedores. Este teve seu primeiro encontro em 4 de setembro de 2007 em Bangalore, onde delegados dos EUA, Rússia, China, UE, Índia e Japão concordaram que o fórum não deveria ser uma instituição para criar políticas, mas sim para prover um meio para a discussão de assuntos técnicos e operacionais dos fornecedores de sistemas. Estes assuntos incluem compatibilidade e interoperabilidade, proteção do espectro do GNSS e eliminação de conflitos entre órbitas. O fórum revelou o compromisso de todos os fornecedores dos sistemas correntes e futuros aos seus planos de modernização e desenvolvimento. Todos os sistemas vão transmitir freqüências de rádio alocadas internacionalmente para serviços de radio-navegação por satélites (RNSS, na sigla em inglês) nas bandas L (960-1.300MHz e 1.559-1.610MHz). Dois sistemas vão transmitir também na banda S (2.491,005 ± 8,25MHz), enquanto a banda entre 5.000-5.030MHz deve ser usada no futuro por um ou mais sistemas. A proteção do espectro RNSS é vital para os serviços GNSS, e isso deveria ser assegurado através de regulamentação local e internacional. A transmissão de serviços abertos será feita sem custos, enquanto alguns sistemas também vão transmitir serviços para suprir as necessidades de usuários autorizados e apoiar funções governamentais.

O fórum também concordou sobre a necessidade de transparência no fornecimento de serviços abertos, e que a competição comercial livre nos mercados de receptores e aplicações requer cooperação na infraestrutura do GNSS, formada pelos segmentos espacial, de controle e de monitoramento em solo. Possibilitar aos fabricantes o projeto e desenvolvimento de receptores GNSS em bases não discriminatórias de publicação e disseminação de sinais e características dos sistemas é essencial para os fornecedores dos sistemas. Os provedores deveriam também se empenhar nas características de performance, como precisão na medida do tempo, disponibilidade de posicionamento e serviços.

Ponto focal

Passos deveriam ser dados para detectar e diminuir interferências entre sistemas GNSS em todo o mundo, ao mesmo tempo em que a separação física das constelações de satélites operacionais e a disposição das órbitas deveriam ser examinadas. O escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Exterior, em sua função de secretário do ICG, vai continuar a agir como um ponto focal para a preparação de encontros do Fórum de Provedores. A presidência do Fórum será assumida rotativamente entre os membros em períodos anuais.