Como mapear o Brasil é uma questão muito ampla e complexa. Historicamente, não possuímos uma cultura de mapeamento do país de forma organizada e articulada. Nosso exemplo mais presente é o mapeamento sistemático do IBGE, realizado na década de 70, e que num esforço hercúleo, algumas áreas vêm sendo atualizadas.

O mapeamento do Brasil nunca se consolidou como uma política pública. Pelo contrário, em alguns governos essa demanda foi negligenciada, com pouca importância à discussão e definição de diretrizes voltadas ao desenvolvimento de programas para tal.

Desta forma, todas as ações implementadas no país foram realizadas de forma desarticulada, com cada órgão público buscando atender aos seus próprios interesses, com recursos e tempo muitas vezes investidos para mapear a mesma área. Além disso, não se pode imaginar que mapeamentos disponibilizados na internet, sem a confiabilidade técnica devida, possam substituir um mapeamento especializado.

Concomitantemente a esse movimento, a iniciativa privada investiu num conjunto de técnicas e tecnologias de última geração, conseguindo acompanhar os avanços verificados na produção de cartografia dos países desenvolvidos. Aliando esses dois fatores, o atendimento a algumas demandas se concretizou como as principais ações de mapeamento no Brasil, nos últimos 15 anos, o que se pode considerar muito pouco.

Ao levarmos em conta as dimensões do nosso território, é razoável imaginar que mapear o Brasil é um projeto de grandes proporções, dificuldades e peculiaridades. Apesar de termos inúmeros exemplos de mapeamento de grandes áreas, de forma articulada e sistemática – como por exemplo, nos Estados Unidos e na Europa – em função de nossas características, não podemos imaginar que idéias importadas sejam o melhor caminho. E não basta apenas uma preocupação com o mapeamento. Deve-se dar a devida importância também à manutenção e atualização do mapeamento realizado.

Diante da existência no Brasil de um corpo técnico qualificado, entidades de ensino e pesquisa reconhecidas e um parque tecnológico privado avançado e experiente, o desafio de mapear o Brasil passa por uma articulação entre esses atores e o poder público, de maneira a planejarem ações efetivas nesta direção e estabelecendo o processo como uma política pública de estado.

De certa forma, tais ações vêm acontecendo de forma incipiente e com poucos resultados apresentados à comunidade cartográfica, mas não se pode descartar tal esforço. Uma forma de viabilizar o mapeamento do Brasil seria a regionalização das demandas cartográficas, a partir de alguns critérios como ocupação urbana (considerando a malha municipal e demografia), ocupação econômica predominante (como agricultura, exploração de recursos naturais, indústria, comércio e turismo), além dos eixos de desenvolvimento logístico (como rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, dutos), ambiental (áreas de preservação, parques entre outros) e fronteiriços.

Consolidando essas informações em áreas homogêneas, pode-se então estabelecer escalas apropriadas, produtos adequados às demandas das áreas homogêneas, bem como períodos de atualização, de acordo com vetores de crescimento urbano e econômico das mesmas. Além disso, seria possível realizar o mapeamento por etapas, priorizando áreas homogêneas de maior importância para o desenvolvimento das regiões e do país.

Como forma de viabilizar este processo, as mais inovadoras tecnologias para mapeamento já estão disponíveis no Brasil, como o laser aerotransportado, que permite a captação de dados para o mapeamento do relevo de forma rápida e com uma riqueza de detalhes significativamente maior que os processos tradicionais, com inúmeras vantagens, por exemplo, na região amazônica.

Com a chegada das câmaras aéreas digitais, inúmeras vantagens se apresentam, entre as quais um menor tempo de captação e processamento de dados para uma área maior de mapeamento, diminuição de levantamentos geodésicos para aerotriangulação, além da possibilidade de produtos distintos através do tratamento dos dados das bandas captadas.

Nos Estados Unidos, o programa National Agriculture Imagery Program (NAIP) está usando câmaras digitais para mapeamento de todo o país com tamanho de pixel de 1m.

Podemos concluir que com a presença de recursos humanos e tecnológicos avançados à disposição, o que falta é dar o devido valor ao conhecimento de nossa realidade espacial, a partir de um mapeamento multifuncional, transformando-o num importante instrumento de tomada de decisão e planejamento para o desenvolvimento do país.

Márcio Miguel Tavares
Engenheiro e coordenador de serviços da Esteio
marciotavares@esteio.com.br  

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