Mapas apresentados na China e na Itália questionam importantes fatos históricos e geográficos

A cartografia é um dos alicerces mais sólidos que historiadores usam como respaldo para escrever a história da humanidade. Duas descobertas recentes, entretanto, podem causar mudanças importantes tanto na história da ciência de fazer mapas, quanto na evolução da geografia universal.

Mapa di Soleto

A primeira, ou melhor, o primeiro, chama-se Mapa di Soleto. Trata-se do mapa mais antigo de uma área do mundo ocidental, feito em aproximadamente 500 a. C., que foi encontrado por arqueólogos no sul da Itália.

O registro mostra a região hoje conhecida como Puglia – o salto da “bota” da Itália. O desenho foi esculpido num fragmento de vaso de terracota do tamanho de um selo de cartas.


O Mapa di Soleto

O mapa foi encontrado há dois anos durante uma escavação dirigida pelo arqueólogo belga Thierry van Compernolle, da Universidade de Montpellier, mas a sua existência foi mantida em segredo até que mais pesquisas acerca de sua origem e data fossem realizadas. Os nomes gravados são indicados por pontos – como nos mapas atuais – e estão escritos em grego antigo. O mar do lado ocidental, Taras (Taranto), atualmente o Golfo de Taranto, está escrito em grego. O resto do mapa está em mesápico, um antigo idioma das tribos locais, mas as letras usadas são gregas. Os mares do outro lado da península, o Jônico e o Adriático, estão representados por traços paralelos em zig-zag. Várias das 13 cidades assinaladas, como Otranto, Soleto, Ugento e Leuca (agora Santa Maria de Leuca) ainda existem.

Além de ser o mapa geográfico mais antigo já encontrado, é a primeira prova material de que os antigos gregos desenhavam mapas antes que os romanos. A literatura antiga grega conta que seu povo tinha um conceito próprio de mapa e que alguns já tinham sido desenhados, embora nenhum tivesse sido achado. Os antigos chineses tinham um sistema bem definido do mapeamento, mas a moderna Cartografia vem das técnicas estabelecidas pelos gregos. Muitos mapas clássicos existentes são romanos e datam do período posterior à era cristã. O Mapa de Soleto é contemporâneo ao matemático grego Pitágoras, que estabeleceu uma escola filosófica em Crotona (hoje Calábria), do outro lado do Golfo de Taranto. Sua hipótese de que a Terra era redonda, desenvolvida a partir da observação de que a altura das estrelas era diferente quando vista de diferentes pontos, formaram a base da Cartografia moderna.

Especialistas sugerem que esta descoberta não apenas exige reconsiderar os primórdios da Cartografia antiga, mas também os da história daquela região. A mais polêmica das descobertas, no entanto, questiona uma “verdade” com a qual já estávamos acostumados a acreditar.

Zheng He ou Colombo?

A mais polêmica das descobertas, no entanto, questiona uma “verdade” com a qual já estávamos acostumados a acreditar. Um mapa do início do século XV, que parece reforçar uma velha teoria segundo a qual um lendário almirante chinês chamado Zheng He se antecipou a Cristóvão Colombo no descobrimento da América, foi apresentado em Pequim em janeiro.

O mapa em questão é uma cópia feita em 1763 do original, que data supostamente de 1418. A peça parece apontar as façanhas do almirante chinês, que cruzou os oceanos entre 1405 e 1418, e que ficaram bem documentadas em um livro publicado na China por volta de 1418 sob o título de “As Maravilhosas Visões da Frota Estelar”.


O mapa de Zheng He

O mapa foi comprado em 2001 por Liu Gang, um dos mais eminentes advogados comerciais da China, admirador e colecionar de mapas e pinturas. Temeroso que se tratasse de uma falsificação, mostrou sua aquisição a cinco colecionadores experientes, que concordaram que as marcas deixadas no papel de bambu e a perda de pigmentação testemunhavam uma antigüidade superior a pelo menos um século.

Liu não tinha certeza do significado daquele mapa e pediu ajuda a vários especialistas em história chinesa antiga, mas não obteve muitos resultados. No final do ano passado, no entanto, leu o livro “1421: O Ano em que a China descobriu a América”, de Gavis Menzies, no qual o autor afirma que os chineses chegaram a América setenta anos antes de Cristóvão Colombo.Após ler esse livro, Liu ficou convencido de que o mapa que tinha chegado a seu poder era uma relíquia das viagens do almirante Zheng He.

O mapa fala sobre os habitantes do litoral ocidental da América: “A pele da raça nesta região é de uma cor vermelho escuro, e usam penas nas cabeças e quadris”, enquanto que sobre os australianos escreve que “a pele de um aborígine é negra. Todos andam nus e carregam artigos de osso à cintura”.

Cinco especialistas em cartografia antiga assinalam, no entanto, que o mapa, que parte da hipótese de que o mundo é redondo, limita-se a reunir informação que estava disponível separadamente em mapas náuticos anteriores. “Acreditamos que é autêntico”, afirmaram.

Com informações da EFE
Imagens: The Economist