Por Moacir José Sales Medrado

Tem sido crescente a participação da energia de fontes renováveis (EFR) na matriz energética mundial. No Brasil, a energia de biomassa deverá ser uma das principais alternativas de EFR com ênfase para a biomassa florestal destinada ao atendimento de demandas residenciais urbanas e rurais e do setor industrial, em especial a siderurgia.

O Brasil é um dos países que melhor poderá se beneficiar do aproveitamento de madeira para fins energéticos. Suas vantagens são enormes. Possui:

a) cerca de 90 milhões de hectares disponíveis para novas alternativas: etanol; biocombustíveis; e florestas energéticas;
b) clima e solo propícios para o desenvolvimento de espécies florestais de rápido crescimento;
c) silvicultura avançada;
d) milhões de hectares de florestas manejadas com resíduos aproveitáveis para geração de energia;
e) um Serviço Florestal Brasileiro (SFB) recém criado; e
f) um Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal (FNDF) para financiamento do setor florestal.

Portanto, as florestas energéticas serão, certamente, uma ferramenta importantíssima evitando, inclusive, a utilização ilegal de produtos extraídos de florestas naturais (Amazônia e Mata Atlântica), e da caatinga e do cerrado brasileiro.

No Brasil, as plantações florestais comerciais – PFC, concentram-se nas regiões Sudeste e Sul (Tabela 1), destacando-se os estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná; nas outras regiões, são relevantes a Bahia no Nordeste, Mato Grosso do Sul no Centro – Oeste e Amapá no Norte.

Tabela1. Área plantada com pínus e eucaliptos no Brasil, por região, em 2006,
e área plantada no ano de 2005, através de plantio próprio e fomento (1.000 hectares)
Tabela 1
Fonte: Serviço Florestal Brasileiro – SFB; Programa Nacional de Florestas; Sociedade Brasileira de Silvicultura
Tabela montada por Moacir José Sales Medrado, pesquisador Embrapa Florestas

A maioria das PFC, no entanto, é destinada à produção de celulose e chapas de madeira, a exceção do estado de Minas Gerais em função de seu setor siderúrgico. Pior ainda, é que além delas distribuírem-se em poucos estados, localizam-se em poucas áreas dentro desses. A produção de carvão vegetal no Brasil, concentrada nos estados de Minas Gerais (Tabela 2), Mato Grosso do Sul, Maranhão, Bahia e Goiás, tem sido dependente da exploração de florestas naturais, ainda que seja crescente a importância do carvão vegetal oriundo de plantações florestais.

Tabela 2. Evolução da área de florestas plantadas e de florestas naturais,
em mil hectares, manejadas de forma sustentável, no período de 2002 a 2006
Tabela 2
Fontes
1. Adaptada de Palestra proferida pelo Diretor do Serviço Florestal Brasileiro Tasso Resende,
durante reunião do Conselho Assessor da Embrapa Florestas – CAE
2. Extraida de ABRACAVE/AMS

Este quadro evidencia, atualmente, a insuficiência de plantações florestais para a geração da matéria-prima demandada pelo setor energético, para hoje e para o futuro. Portanto, caso não seja feito um planejamento estratégico para instalação de florestas energéticas, com uma visão territorial, as demandas, por energia, da siderurgia no meio-norte e das indústrias de gesso e cal no nordeste brasileiro continuarão a pressionar, respectivamente, as florestas naturais da Amazônia e, também, a vegetação da caatinga degradando essas formações florestais.

No Centro-Oeste seguirá a destruição do cerrado como forma de solucionar a necessidade de madeira para secagem dos grãos produzidos na região e para complementar a demanda por carvão da siderurgia mineira. Espera-se, que no médio e longo prazo, os principais agentes plantadores de florestas no Brasil, apoiados pelo governo (O Serviço Florestal Brasileiro tem como objetivo plantar, anualmente, 1 milhão de hectares a partir de 2011 e estabelecer Distritos Florestais Sustentáveis – DFS em todas as regiões) possam alimentar de forma sustentável a matéria-prima necessária para as diversas atividades demandadoras de madeira, e em especial, para a geração de energia.

Nesse sentido, vale ressaltar a contribuição esperada dos DFS (Figura 1) na produção de madeira para energia: DFS Purus-Madeira, até 9 milhões de m3; DFS Polo Carajás, 17 milhões de m3; DFS BR 163, 17 milhões de m3.

Figura 1
Figura 1. Localização dos Distritos Florestais Sustentáveis
Fonte: Serviço Florestal Brasileiro

É necessário, também, que o governo federal amplie o esforço para suplantar barreiras que desincentivam o investimento do empresariado no estabelecimento de PFC, dentre as quais destacam-se:

a) dificuldade de créditos para instalação de plantações florestais a partir de agências creditícias nas regiões mais interiorizadas;
b) mecanismos regulatórios e restrições legais muito acentuados;
c) deficientes estratégias e políticas públicas de incentivo para geração de energia de biomassa florestal.

Feito isto, pode-se sonhar, novamente, em uma proposta de megareflorestamento, ao estilo FLORAM4, com o objetivo de, conjugando a questão energética com a questão ambiental, absorver o excesso de CO2 da atmosfera. Por fim, será de importância fundamental a ação das empresas da área de geotecnologia.

A integração de geotecnologias (topografia, base cartográfica, sistemas de informações geográficas e sistemas de posicionamento global) será de fundamental importância para o planejamento e gestão nacional do programa de produção de biomassa florestal quanto para o planejamento e gerenciamento das empresas, cooperativas e condomínio florestais distribuídos, estrategicamente, no território nacional.

O uso de sistemas de georefenciamento, em especial, será fundamental para a avaliação do suprimento de biomassa, estimativas dos custos de transporte para plantas existentes e mesmo para localização de plantas novas. Eles têm a importância de adicionar ao processo de planejamento a dimensão espacial podendo serem usados, em primeiro lugar, para a análise da distribuição espacial das florestas energéticas, em segundo para impor restrições espaciais relacionadas ao uso adequado da terra, e em terceiro lugar para calcular a capacidade e o teto de geração de energia baseado nos locais disponíveis.

O uso de SIG como ferramenta para análise temporal e espacial pode, também, provê meios para identificar e quantificar os fatores espaciais e climáticos afetando a disponibilidade de energia de biomassa florestal potencial. As geotecnologias poderão auxiliar ao governo, aos empresários e aos produtores na obtenção de informações necessárias ao desenvolvimento das florestas energéticas, de forma mais rápida, precisa e com menor custo, quando comparadas às geradas pelas técnicas subjetivas tradicionalmente utilizadas.

Moacir José Sales Medrado é engenheiro agrônomo, doutor em agronomia e especialista em planejamento agrícola, manejo de agroecossistemas e agrofloresta; pesquisador e chefe geral da Embrapa Florestas medrado@cnpf.embrapa.br