Embora o GPS tenha sido desenvolvido para ir ao encontro das necessidades militares, logo foram desenvolvidas técnicas capazes de torná-lo útil para a comunidade civil.

Hoje, qualquer pessoa que queira saber sua posição, conhecer a velocidade e direção de seu deslocamento, encontrar seu caminho para determinado local ou o caminho de volta ao ponto de partida pode se beneficiar com o sistema.

Com a popularização do GPS, uma nova abordagem no cultivo surgiu: a Agricultura de Precisão (AP).

GPS e Agricultura de Precisão

O conceito utilizado em Agricultura de Precisão é conhecido desde 1929, mas apenas recentemente tecnologias apropriadas tornaram-se disponíveis para realizá-lo em campo. Trata-se do processo da busca do crescimento em eficiência através do gerenciamento localizado da agricultura. Envolve a aplicação de novas tecnologias que modificam técnicas existentes, utilizando-as para medir rendimento, determinar as condições do solo e da cultura e realizar o mapeamento da propriedade.

Sendo composta por diversos componentes, a AP pode ser pensada como um sistema de grupos de atividades (Figura 1). Nestes grupos são incluídas atividades como colheita, amostragem de solos ou distribuição de fertilizantes, que se pressupõe sejam feitas usando critérios de qualidade e eficiência independentes do sistema AP. Os componentes têm um elo comum, que é o georreferenciamento de todas as atividades através do GPS.

Fluxograma do sistema de AP
->Figura 1 – Fluxograma do sistema de AP

O monitoramento da lavoura pode incluir contagens de insetos, número de plantas ou folhas afetadas, graus de severidade de doenças e de acamamento, número e vigor de plantas espontâneas, e qualquer outro parâmetro quantitativo ou qualitativo relativo à saúde da planta, sua distribuição (stand) e seu desenvolvimento.

As técnicas para este monitoramento são as mesmas utilizadas na agricultura tradicional, com a diferença que os pontos de amostragem são georreferenciados, o que permite a sua espacialização em mapas e o eventual retorno aos mesmos pontos, para acompanhamento da evolução de uma doença no tempo, por exemplo. O monitoramento de solos envolve a coleta de amostras em pontos também georreferenciados.

Alternativamente, a produtividade relativa pode ser mapeada por sensoriamento remoto, através de imagens de satélite ou de vôos de baixa altitude. O monitoramento da produtividade requer sensores nas colheitadeiras, que são específicos para grãos, plumas ou volume/massa (no caso de cana, frutos, tubérculos, etc.).

Os dados levantados pelos componentes de monitoramento são carregados no componente de análise dos dados georreferenciados, através de um Sistema de Informações Geográficas (GIS). Este componente realiza o armazenamento e manipulação das informações em bancos de dados, e também a análise destes, com o objetivo de gerar ações diferenciadas no espaço, ou seja, ações que levam em conta a variabilidade espacial da lavoura.

Diferencial

Esta é a questão que essencialmente diferencia a agricultura tradicional, na qual as taxas de fertilizantes, corretivos, agroquímicos e sementes são fixas para toda uma gleba da AP, e na qual as taxas são variáveis de acordo com a variabilidade dos atributos monitorados.

Ou seja, as grandes diferenças entre o sistema AP e a agricultura tradicional são o georreferenciamento pelo GPS dos atributos e operações relacionados à produção, e a manipulação desta informação em um GIS.

A partir dos mapas de aplicação gerados pelo componente de análise, com o uso de equipamentos especializados ou não, é realizada a aplicação em taxa variável. Isto permite à AP tratar as diferentes manchas, que comumente ocorrem na lavoura, como realmente devem ser tratadas, sem excessos ou déficits, ao mesmo tempo em que preserva os “tiros longos” das operações mecanizadas.

Tudo isto maximiza a eficiência dos fatores de produção aplicados em taxa variável, enquanto mantêm as manobras das máquinas em um mínimo, o que aumenta a lucratividade.

Acrescentando um exemplo ao tema GPS e AP, podemos supor que uma máquina agrícola dotada de receptor GPS pode armazenar dados relativos à produtividade em um cartão magnético que, tratados por programa específico, produz um mapa de produtividade da lavoura.

As informações, resultantes de uma análise por parte do engenheiro agrônomo, permitem aperfeiçoar a aplicação de corretivos e fertilizantes. Lavouras americanas e européias já utilizam o processo, que tem enorme potencial em nosso país.

O tema AP atualmente está sendo muito discutido, e um dos conceitos fundamentais é o correto entendimento dos sistemas de posicionamento globais para integração de dados georreferenciados a um GIS, visto que a principal diferença entre a agricultura tradicional e a agricultura de precisão é a informação georreferenciada, isto é, atributos associados a coordenadas geográficas.

Neste texto foi abordado, de maneira extremamente sucinta, o assunto agricultura de precisão, sem esgotar as discussões sobre a integração GPS e AP.

Mais exemplos de aplicações

– Delimitação de parcelas agrícolas
– Levantamentos de canais de irrigação
– Localização de poços ou furos de água
– Delimitação de culturas danificadas

Wilson A. Holler
Engenheiro cartógrafo
Quatro Folhas Engenharia e
Consultoria Florestal e Agrícola
holler@quatrofolhas.com.br