Nesta edição gostaria de tratar de um procedimento que pode parecer irrelevante, mas sua inobservância pode comprometer de forma significativa as informações produzidas em trabalhos de agrimensura, principalmente aqueles de apoio básico e imediato. De fato tenho observado sua ocorrência mais vezes do que deveria.

Você verifica sistematicamente os níveis de cantoneira e prumos óticos antes e durante os seus levantamentos?
Um dos primeiros conceitos aprendidos em operações de topografia e geodésia é que o eixo principal, ou vertical, dos instrumentos deve estar ajustado à vertical que passa pelo ponto sobre o qual eles estarão estacionados. Esta condição básica é geralmente obtida através de níveis de bolha ou outras tecnologias mais recentes, modernos substitutos do prumo de cordão.

Estes dispositivos são largamente empregados nos equipamentos e requerem constante atenção, pois não se mantêm ajustados devido a vários fatores, tais como a contínua variação de temperatura e choques.

Conseqüentemente, a falta de verificação periódica de níveis de alidades, níveis esféricos e prumos de bases nivelantes, além de níveis de cantoneira do instrumental auxiliar, introduzem erros nas observações, os quais podem passar despercebidos. Com maior freqüência se observa a ocorrência de desajustes nos níveis de bastões, que podem introduzir erros nas poligonais e nos pontos irradiados.

A boa técnica e as normas NBR recomendam a verificação constante, para que as medidas não sofram com seus efeitos. Observo que, por vezes, os profissionais se preocupam com os erros mais complexos dos equipamentos, tal como a calibração de distanciômetros eletrônicos, do que com os de origem mais simples. A NBR 13 133/94 recomenda, em seu item 4.2, instrumental auxiliar: “deve sofrer revisões constantes, principalmente após os serviços de longa duração”.

Recentemente realizei um trabalho para o qual foi locado um instrumental auxiliar. Os bastões transportados até o local apresentavam desvios da ordem de um centímetro quando estendidos na altura de dois metros. Supondo que estes bastões pudessem ainda atingir três metros e meio teríamos um erro maior, de 1,75 cm.

Estes valores são suficientes para provocar erros significantes, pois se um bastão nestas condições for usado para determinação de um ponto de azimute, digamos, a 200 metros de distância de uma estação de apoio, poderia ser introduzido um erro em orientação da ordem de dez e dezessete segundos, para cada altura respectivamente, isto se somente um bastão estiver com erro. Note-se ainda que, se a separação entre estações for menor, o erro em orientação seria maior.

Podemos fazer um exercício simplificado de propagação para se ter melhor noção do impacto de um pequeno erro deste tipo. Digamos que o nosso bastão fosse empregado para estacionar a antena de um receptor GPS geodésico sobre um marco, a ser usado como ponto azimutal e distante 200 metros do ponto base. Nestas condições teríamos um erro azimutal de 17 segundos estando o bastão, com prumo não retificado, na altura de três metros.

Esta base seria empregada para orientar uma poligonal tipo 1 (NBR 13 133), a ser desenvolvida no georreferenciamento de um hipotético imóvel de forma quadrada, com lados de um quilômetro (área de 100 ha). A julgar somente o erro do nível do bastão usado no posicionamento para determinação do azimute por GPS, teríamos então uma contribuição para o erro em posição do lado mais afastado (~ 1,4 km) do ponto inicial da ordem de 0,11 m, conforme figura 1.

Simulação de deslocamentos
->Figura 1: Simulação de deslocamentos em posição (vermelho) devidos ao erro no bastão (medidas lineares em metros)

Um procedimento bem simples para verificação da verticalidade em bastões com nível esférico, largamente usados tanto para prismas de estação total como para GPS, requer o uso de um simples prumo com cordão, um local adequado, pinos e alguns minutos de operação.

Para a realização, primeiro deve-se escolher um local apropriado, onde não ocorram ventos. O melhor é fazê-lo em local fechado e bem iluminado. Este local deve, também, possuir um piso onde seja possível fixar um parafuso philips ou allen, preferencialmente abaixo da superfície. O piso deve proporcionar estabilidade para o tripé ou bipé do bastão; prefira sempre os tripés. Outra condição é que se possa fixar um pequeno gancho no teto ou numa viga sobre o ponto a ser definido pelo parafuso. Prefira os ganchos que formem um vértice ao invés dos circulares.

Siga os seguintes passos:

– Instale o gancho na viga de forma que o cordão do prumo possa ser fixado nele sem causar desvio. Baixe o prumo junto ao chão e faça uma marca sob seu ponteiro, no piso, após o prumo se manter suficientemente estável. Faça um orifício onde ficou a marca de forma a poder fixar o parafuso em posição suficientemente precisa. Verifique que o ponto definido pelo parafuso esteja de acordo com a linha vertical materializada pelo fio de prumo preso no gancho;

– De forma alternativa, pode-se fazer apenas um pequeno furo no chão para que a ponteira do bastão não escape no momento do ajuste, tal como o seria se encaixada na cruzeta do parafuso philips;

– Em pisos muito duros e lisos pode haver dificuldade em se manter estável o tripé, neste caso instale parafusos também nos pontos onde ficarão os ponteiros do tripé, assim ele se manterá mais estável durante os ajustes. Quanto mais estável for o conjunto tripé e bastão, mais preciso, rápido e fácil será o ajuste;

– Instale o bastão no ponto demarcado pelo parafuso, aprumado de acordo com o nível esférico; estenda-o na altura de dois ou mais metros de acordo com o seu comprimento máximo;

– Baixe o prumo de forma que este se aproxime da rosca universal no topo do bastão onde deve haver uma marca no centro. Verifique o quanto o bastão está fora de prumo, comparado à distância entre a marca no topo da rosca e o ponteiro estabilizado do prumo de cordão;

– Se a distância for excessiva, ajuste o bastão de forma que a marca coincida com a do ponteiro do prumo. Ajuste os parafusos do nível esférico de forma que a bolha fique centralizada no círculo. O ajuste dos três parafusos se faz à semelhança dos calantes durante o estacionamento de uma base nivelante, com a diferença de que, para que um suba, dois devem descer;

– Ajustado o nível esférico, gire o bastão 180º, de forma que o nível passe para o lado oposto e verifique se a bolha permanece no centro do círculo e a marca no topo da rosca sob o ponteiro do prumo de cordão. Caso isso não ocorra, o bastão poderá estar torto ou alguma peça desalinhada, e deverá sofrer reparos ou ser substituído.

Após preparar um local de forma adequada no seu escritório, e alguma prática, este procedimento se tornará rápido. Verifique periodicamente os seus instrumentos e acessórios, pequenos erros desta natureza podem estar comprometendo a qualidade de seus dados.

Regis Bueno
Engenheiro agrimensor, Msc
Diretor da Geovector Engenharia Geomática
regisbueno@uol.com.br