Apesar dos benefícios, o acesso irrestrito à informação gera dúvidas sobre qual o melhor caminho para encontrar dados totalmente confiáveis

Uma das faces interessantes da evolução tecnológica por que passamos é a disponibilidade de dados a que se tem acesso através dos meios de comunicação e, principalmente, pela internet.

Uma década atrás, para se obter a monografia de um marco geodésico era necessário se comunicar com o IBGE por telefone ou correio e aguardar vários dias até o recebimento dos documentos. Hoje, temos as monografias à disposição no momento que necessitamos via banco de dados, com interface gráfica, disponível no site www.ibge.gov.br .

A maior facilidade de acesso a dados é uma característica de nossa época. O governo brasileiro tem se empenhado nisso, através de políticas de livre acesso a informações em vários órgãos das três esferas de governo, com tendências a expansão.

Acesso à informação e conhecimento são propulsores para o desenvolvimento. Toda vez que a humanidade gerou tecnologias que permitiram disseminar o conhecimento, ocorreram mudanças nas sociedades que delas puderam partilhar.

Temos hoje em nosso país melhor acesso às leis e projetos (por exemplo em www.presidenciadarepublica.gov.br ), permitindo acompanhar aprovações pela internet, sem sair de casa. Podemos entrar em contato com parlamentares e fazer com que conheçam nossas opiniões.

Neste aspecto, quanto mais se exerce esse direito a nós disposto, melhor. Infelizmente nem todos têm acesso, mas até mesmo isto pode estar sendo alterado com os equipamentos de menor custo e dedicados à inclusão digital, bem como o acesso em escolas.

Fato é que o Brasil é reconhecido como umas das nações que mais têm feito uso da rede. Navegamos bastante, vamos ao banco, nos comunicamos no trabalho, com os amigos e adquirimos produtos e informações.

Dados geográficos

Em matéria de acesso a dados para exercer nossas profissões de engenheiros agrimensores e cartógrafos, temos várias possibilidades à disposição.

Não somente contamos com acesso às monografias de pontos geodésicos brasileiros, passivos ou ativos (RBMC, RIBAC), mas contamos também com alguns itens de cartografia sistemática, tal como alguns mapeamentos disponibilizados pelo próprio IBGE.

Evidentemente é necessário haver mais dados disponíveis, mas observa-se que há tendência de crescimento. Somente para citarmos um exemplo, encontra-se em expansão a rede ativa GPS. Novas estações estão sendo implantadas em conjunto com o INCRA.

Em São Paulo, teremos para breve a estação da USP. No INPE/CPTEC pode-se obter informações sobre as previsões das condições climáticas, na região em que se desenvolve um trabalho de campo. Podemos também ter acesso a imagens de satélites para aplicação em nossos serviços de campo e gabinete.

“Campo e gabinete”: esta é uma expressão comum em nossas profissões, antiga até, mas para aqueles que trabalham com informações espaciais é um binômio; praticamente sempre temos essas fases em nos so trabalho. Somente em empresas de certo porte, onde há uma divisão do trabalho, é que podemos ter profissionais somente de campo e profissionais somente de serviços de gabinete.

Entretanto, mesmo para um ou para outro é imprescindível conhecer os dois lados da mesma moeda para o bom desempenho da sua função.

Imagens orbitais

Voltando à questão da disponibilidade de dados, temos hoje acesso a imagens de satélites para várias finalidades, sendo algumas sem custo.

As imagens orbitais de que se dispõe atualmente podem ser fonte de informação em diversos projetos de engenharia, em perícias judiciais e em levantamentos cadastrais para fins rurais. Levantamentos estes voltados à administração da propriedade agro-pastoril.

Torna-se conveniente observar aqui que não se está propondo o uso das atuais imagens no georreferenciamento de divisas de imóveis rurais, onde se deve colocar marcos, conforme dita a norma do INCRA, fazendo-se necessário levantamentos mais precisos em termos posicionais e periciais.

Entretanto poder-se-ia, sim, por exemplo, aplicá-las naqueles casos em que um curso d’água, devido à suas características, assim o justificassem por seu comportamento ou suas dimensões, após análise in loco.

E, nesses casos, caberiam usos de imagens de alta resolução ou mesmo fotografias aéreas métricas digitais ou analógicas convertidas para imagens digitais por scanner, sempre respeitando a relação resolução espacial versus precisão posicional das informações.

Imagens Landsat 7 podem ser aplicadas em levantamentos cadastrais de grandes propriedades, ajustando-as ao levantamento georreferenciado pré-existente, e com elas criando uma imagem de fundo, retificada, para gerar uma planta cadastral.

Para pequenas propriedades seria mais adequado o uso de imagens com maior resolução espacial, mais dispendiosas evidentemente, mas que para um profissional liberal que atua numa região pode se transformar em uma série de produtos interessantes a serem comercializados entre a sua carteira de clientes, diluindo o custo da imagem.

Existem também alternativas de se adquirir imagens sem custo. Pode-se baixar imagens do ano de 2000 da NASA, conforme mostra a figura 1.


Figura 1: Página da NASA onde é possível descarregar dados e imagens

No momento, o INPE disponibiliza imagens do CBERS 2, que tem uma câmara CCD com resolução espacial de 20 m (http://www.cbers.inpe.br/pt/index_pt.htm), e também imagens Landsat 1 e 3.

Segundo o diretor Gilberto Câmara, a instituição tem programação de lançar em 2007 um satélite com sensor pancromático com resolução espacial de 2,5 m e tornará seus dados também livres.


Primeiras imagens do Brasil coletadas pela câmera CCD do satélite CBERS-2: região noroeste do estado de São Paulo

No âmbito da administração municipal, a carência de informações atualizadas é de tal ordem que mesmo imagens com resolução espacial da ordem de 20 m podem ser empregadas para gerar produtos cartográficos úteis.

Pode-se produzir mapas na escala de 1:50.000 ou maiores dependendo do sensor, dispondo-se estradas, escolas rurais e outras entidades espaciais de interesse, suprindo parte das necessidades em termos de informações espaciais.

É claro que ainda não é possível suplantar o nível de informação proporcionado pelas fotografias aéreas métricas.

Softwares

Existem no mercado diversos programas que podem ser adquiridos para o desenvolvimento de serviços com imagens. Esses programas possuem funções tais como as de correção geométrica e classificação que proporcionam o adequado processamento dos dados.

O INPE produz e disponibiliza gratuitamente, por exemplo, o Spring (www.dpi.inpe.br/spring), que pode ser baixado pela internet ou solicitado em CD, via correio, ao custo da mídia. Além do programa, a instituição promove cursos de processamento digital de imagens.

Outras instituições também promovem cursos de curta duração acessíveis a profissionais de vários estados.

No nível que se encontra a tecnologia atualmente, ela se traduz em uma importante fonte de dados – que pode tanto ser empregada para planejamento e gerenciamento de projetos próprios dos profissionais de agrimensura e cartografia, como ser incorporada ao rol de produtos ofertados a clientes através de seus escritórios ou empresas.

A tendência é que, com o aumento das resoluções dos projetos futuros, aumente a amplitude das aplicações e o campo de trabalho.

Régis Bueno
Engenheiro agrimensor, Msc, diretor da Geovector Engenharia Geomática
regisbueno@uol.com.br