Utilities descobrem imagens de alta resolução

Por Kevin Corbley

A disponibilidade de imagens de satélite de um metro de resolução não poderia ter chegado em melhor hora para a indústria de utilities. Tendo que enfrentar a competição pela primeira vez em função do processo de desregulamentação, empresas fornecedoras de serviços como gás e eletricidade estão procurando maneiras inovadoras de impulsionar seus ganhos sem prejudicar seus clientes.

Executivos de utilities e consultores concordam que a desregulamentação está empurrando toda a indústria – esteja ela pronta ou não – para a era da informação, uma época em que empresas de gás e eletricidade vão lucrar através da obtenção do maior número de informação possível sobre consumidores, áreas de serviço e competidores. Muitos dizem que imagens de satélite com alta resolução são uma ferramenta importante que torna possível reunir esta informação de maneira rápida e com baixo custo. As imagens vão ter impacto sobre os ganhos principalmente de duas formas: permitindo que as empresas realizem operações diárias com mais eficiência e capacitando-as a coletar informações sobre seu próprio mercado ou sobre o do concorrente.

Na corrida para conseguir informações sobre o mercado, estão na frente aquelas empresas que já possuem algum tipo de sistema de GIS, segundo Chuck Howard, presidente da Geographic Information Technology Inc. (GeoIT), uma empresa de implementação de GIS especializada em utilities. "O uso das imagens de satélite vai ser determinado pela tecnologia GIS", afirma ele. Howard diz ainda que algumas empresas que não tenham GIS poderão implantar sistemas isolados de processamento de imagens para exploração dos dados fornecidos pelos satélites. Mas quem tiver o GIS vai ser mais beneficiado por poder combinar as imagens com dados sobre demografia, topografia e dados já existentes sobre clientes para gerar informações específicas sobre o mercado em questão e servir de base para melhores serviços aos clientes.

Ganhando "Inteligência de Mercado"
"É fundamental para uma empresa de utilities entender onde estão seus clientes e saber sobre sua real situação demográfica, para que possam ser oferecidos melhores serviços", comenta Pete Gomez, gerente de análise de dados de distribuição e manutenção na Empresa de Serviços Públicos do Colorado, nos Estados Unidos.

Usuário de GIS há muitos anos e um dos membros do Conselho de Diretores 2000 da GITA (Associação de Tecnologia e Informação Geoespacial) em Denver, Gomez está nesse momento examinando os possíveis usos das imagens do satélite Ikonos, da Space Imaging, como uma complementação para o GIS que já existe na Serviços Públicos. Ele aponta a identificação dos padrões e tendências de crescimento como peças chave de "inteligência de mercado" em que as imagens podem ajudar. "As empresas de utilities precisam saber para onde as pessoas estão indo e como o GIS que já existe na Serviços Públicos. Ele aponta a identificação dos padrões e tendências de crescimento como peças chave de "inteligência de mercado" em que as imagens podem ajudar. "As empresas de utilities precisam saber para onde as pessoas estão indo e como o crescimento está acontecendo, para que elas possam redefinir sua infra-estrutura e aumentar sua presença nesses novos mercados", diz Gomez. "Imagens de satélites oferecem o panorama necessário para identificar tendências de crescimento".

Mais importante, imagens de um metro de resolução podem dizer às empresas algumas coisas sobre os clientes que estão provocando esse crescimento. Por exemplo: eles estão construindo fazendas, casas ou indústrias? Ou: eles estão morando em montanhas ou no campo? Estas são considerações primordiais para que sejam equipados novos escritórios de atendimento, para que sejam designados funcionários e veículos para a região e para que sejam antecipadas futuras necessidades da população local.

Juntar informação sobre uma área de atuação de um concorrente é igualmente fácil. Bill Folchi, vice-presidente da GeoIT vê as imagens e dados de demografia como fatores que podem auxiliar uma empresa desse setor a avaliar uma outra empresa para possível aquisição ou para estar mais preparada para a competição. "No setor de gás, as imagens oferecem um quadro bastante claro do mercado potencial de uma área, mostrando o grau de urbanização e fazendo a comparação com a existência de empresas no local", afirma Folchi. "Empresas de gás comparam seus clientes com comunidades residenciais existentes para determinar quem não é cliente mas é adequado para o provimento de serviço de gás". Como a competição é uma novidade nesta área, dizer quanto essas informações vão ser valiosas é virtualmente impossível. Porém, experts nesse setor concordam que o impacto das imagens será considerável.

Usando as imagens nas operações diárias
Executivos de empresas de utilities não precisam ser convencidos dos benefícios que o sensoriamento remoto pode trazer para a diminuição de tempo e de custos nas operações do dia-a-dia. Durante muitos anos a fotografia aérea foi integrada em muitas aplicações de GIS e o seu uso para mapear objetos menores do que um metro vai obviamente continuar a existir, em função das limitações dos satélites.

Contudo, quando um metro de resolução é suficiente, as imagens de satélites vão ser usadas praticamente da mesma maneira que fotos aéreas ortorretificadas são usadas hoje: como mapas que servem como camadas fundamentais que ficam embaixo de outras informações de um GIS e que dão uma perspectiva semelhante à da vida real do terreno e de seus arredores de uma maneira que mapas vetorizados não conseguem fazer. Durante um blecaute ou em uma noite de tempestade, por exemplo, esta informação pode levar os técnicos encarregados do reparo diretamente a um transformador escondido no meio de arbustos. Um mapa vetorizado mostraria a localização do equipamento mas provavelmente não informaria sobre os arbustos. Sem essa informação, o técnico perde tempo valioso procurando pelo transformador.

Chris Testa, líder do projeto de conversão de dados para o programa ATLAS da Companhia de Gás e Eletricidade de Baltimore, em Mariland, nos Estados Unidos, diz que o exemplo citado acima, relativo ao potencial de uso das imagens como parte do mapeamento, será sentido também nas atividades cotidianas da empresa. "Conhecendo as características da paisagem de antemão, antes de viajar para o local onde o serviço será feito, as equipes poderão saber quais equipamentos serão necessários para a ocasião", ele diz. "Saber se o serviço será em uma grande rodovia ou em uma área com vegetação vai determinar o tipo de pessoal e de materiais que deverão ser empregados".

A Orbital Imaging Corporation (ORBIMAGE), de Dulles, Vancouver, que irá lançar um satélite de imagens com 1 metro de resolução este ano, estudou as necessidades das utilities em relação a imagens e concluiu que as aplicações como camadas fundamentais de bases cartográficas estão entre as mais valiosas para aumentar a eficiência das equipes de serviço. A ORBIMAGE prevê que a tecnologia GIS irá trazer as imagens diretamente para o setor de despachos das empresas concessionárias de serviços públicos.

As empresas de utilities estão cada vez mais implementando sistemas de localização automática de veículos (AVL – Automatic Vehicle Location), que permitem aos responsáveis pelo dispacho visualizar em um mapa, em tempo real, a localização dos veículos de serviço e os pontos de problemas detectados. Quase todos esses sistemas de AVL para utilities atualmente usam mapas digitais, mas isso logo irá mudar de acordo com a ORBIMAGE. "Nós acreditamos que imagens são uma base ideal para AVL", disse Mark Pastrone, vice-presidente de vendas e marketing da ORBIMAGE. "O responsável pelos despachos pode ver se o local do problema é em uma área residencial ou ao lado de uma montanha e saber qual equipe está melhor equipada para chegar lá e lidar com a situação".

Graças à interoperabilidade da maioria dos softwares de GIS atuais, integrar o AVL diretamente num GIS existente, de modo que ambos os sistemas acessem e mostrem a mesma imagem de satélite como base, é relativamente simples. Isso também garante que todos os usuários estejam olhando para a mesma informação. Da mesma forma, a imagem pode instantaneamente ser conectada com outras aplicações automatizadas, como o sistema de atendimento ao cliente da empresa. Estima-se que 15% de todas as visitas a propriedades poderiam ser eliminadas se um técnico atendendo por telefone pudesse ver a propriedade na tela enquanto conversa com o dono.

Evitando problemas antecipadamente
Enquanto as aplicações anteriores estão focadas em apoiar o gerenciamento de falhas na transmissão de energia, outras irão atacar a prevenção destas falhas. Manter a vegetação sob controle é uma preocupação importantíssima entre as empresas de utilities. Por exemplo, uma empresa da área na Califórnia estimou que 85% de suas falhas elétricas poderiam ser culpa da queda de árvores sobre as linhas de energia, um fenômeno que poderia ser reduzido com um programa de monitoramento envolvendo imagens de satélite.
"Em uma base de dados vetorial comum, você não pode ver árvores", disse Bill Meehan, vice-presidente de negócios para a área de serviços da NStar, holding de quatro empresas de utilities de Massachussetts. "Você pode sobrepor um nova imagem de satélite à base de dados e identificar árvores que sejam uma ameaça às linhas de energia". Meehan acrescentou que o custo de imagens de satélite em aplicações de controle de vegetação serão considerados menores comparados aos danos causados na reputação da empresa de utilities e no histórico do serviço ao cliente quando uma falha ocorre.

Um consultor de indústrias conheceu uma utilitie que sozinha gastou US$ 4 milhões por ano podando cegamente todas as árvores nos seus corredores de transmissão de energia. Ele estimou que o gasto poderia ter sido reduzido significativamente se imagens tivessem sido usadas para concentrar as equipes de poda apenas onde elas fossem necessárias no momento necessário. Aplicações similares podem ser feitas para manter o caminho limpo de invasões feitas por cidadãos. Uma situação comumente encontrada por técnicos em emergências é ter que chegar a um transformador que está bloqueado por algum rancho construído no quintal, bem no meio do caminho.

Howard, da GeoITs, sugere que as empresas de utilities podem periodicamente adquirir imagens e processar rotinas automáticas de detecção de mudanças com um GIS para achar invasões no corredor de passagem das linhas, quer sejam elas naturais ou feitas pelo homem. O que quer que esteja invadindo pode ser removido antes que comece a se tornar um risco para as equipes de emergência. Howard também gostaria de ver as utilities aproveitando as capacidades multispectrais das imagens de satélite para identificar pequenos problemas que podem não ser instantaneamente percebidos pelas equipes de campo, até se tornarem grandes problemas, como um buraco num gasoduto. "Até mesmo vazamentos naturais de gás tendem a causar danos à vegetação próxima à tubulação", disse Howard. "Imagens de satélite multispectrais poderiam detectar o problema antes que ele fosse visível a olho nu".

Justificando a mudança
Muitas das potenciais aplicações de imagens de satélite citadas aqui pelos especialistas são intercambiáveis com aplicações de fotos aéreas. A questão enfrentada tanto por vendedores de imagens de satélite como por clientes é por que uma utilitie deveria mudar para o uso de imagens de satélites se a fotografia aérea com um metro de resolução é suficiente. Surpreendentemente, o custo não será necessariamente o fator decisivo da mudança, de acordo com experientes usuários de imagens de satélites. Eles citam melhor consistência, maior área de cobertura, maior periodicidade na entrega do produto, e acurácia superior como as vantagens que pesam em favor do satélite.

Junto com isso, a velocidade de entrega é a razão mais freqüentemente mencionada pela qual os técnicos de GIS das utilities prefeririam dados de satélite. Eles acreditam que a manutenção da periodicidade será crucial nas aplicações onde os dados de sensoriamento remoto serão usados para atualizar as informações base existentes ou detectar mudanças na área coberta pelo serviço. "Estes fatores tenderiam a indicar que as imagens de satélite não têm que competir em custo e provavelmente poderiam ser vendidas como um produto premium", disse Folchi, da GeoIT.

Kevin Corbley é jornalista e trabalha como freelance para a GITA. Site da GITA: www.gita.org. Esta matéria foi anteriormente publicada na revista americana Imaging Notes.