A indústria fomentando e facilitando o aparecimento das esperadas aplicações baseadas em localização

No artigo anterior (LBS Killer Application …e a busca da "Pedra Filosofal") abordamos a questão das aplicações/serviços motivadores dos investimentos necessários para se implantar uma plataforma de Localização Automática de Alta Precisão. Neste artigo veremos como o avanço tecnológico dos últimos anos finalmente criou o conjunto de funcionalidades e padrões suficientes para a formação de um poderoso e fértil ambiente de desenvolvimento para as tão desejadas aplicações de LBS.

Nos últimos anos, a indústria da telefonia móvel passou por três fases bem definidas, que eu arrisco batizar de: "Fase da digitalização", onde rede e terminais analógicos (AMPS) migraram para tecnologias digitais (TDMA, GSM e CDMA); "Fase da miniaturização", onde os terminais tiveram seu peso e dimensões reduzidos ao extremo permitido pela tecnologia, e "Fase da diversificação funcional", onde finalmente a indústria identificou que, além dos serviços de voz, outros serviços poderiam gerar boas receitas e diferenciação para as operadoras.

Foi justamente nesta terceira fase, a da "diversificação funcional", que surgiram as primeiras aplicações explorando o entretenimento (com tímidos joguinhos no handset) bem como fenômeno das mensagens de texto (SMS – short message services) que hoje se encontram integradas à cultura do usuário popular e representa parte considerável da receita de todas as operadoras de telefonia móvel.

A incrível aceitação do SMS e o correspondente aumento na diversificação de serviços baseados naquela tecnologia, evidenciam claramente a miríade de oportunidades geradas pelas novas funcionalidades tais como o SMS, MMS, video streaming e outras, bem como a importância da padronização que permite a interconexão dos serviços (roaming) e a aceleração das etapas e tempos do desenvolvimento das aplicações.

De olho nas oportunidades de negócios potencialmente geradas pelas novas funcionalidades das redes e handsets (terminais) das gerações 2.5G e 3G, a indústria recebeu duas importantes "lições de casa":

 Criar ambientes de desenvolvimento para aplicações que rodem nos terminais, que poupem os desenvolvedores da pesada e demorada tarefa de estudar e dominar os diferentes ambientes de programação para cada marca e tipo de terminal (handsets Nokia, Siemens, LG, Motorola, Ericsson, etc). Caso os desenvolvedores de aplicações tivessem de criar aplicações separadas para cada marca de terminal, isto certamente inviabilizaria o processo de geração de aplicações em escala comercial, quer seja pela multiplicação do trabalho de desenvolvimento e testes, quer seja pelo custo de tal abordagem.

 Padronizar tais ambientes de desenvolvimento, de maneira que em qualquer parte do planeta possam ser gerados e testados uma única vez seus aplicativos, para depois oferecê-los a toda indústria de telefonia móvel tirando proveito do ganho de escala e reaproveitamento de rotinas, bibliotecas e funcionalidades anteriormente desenvolvidas.

Como resultado deste dever de casa, o BREW (Binary Runtime Environment for Wireless) e o J2ME (Java 2 Platform, Micro Edition) surgiram como duas importantes vertentes que hoje disputam as bênçãos de desenvolvedores, fabricantes e operadoras.

O BREW, um produto da Qualcomm (CDMA), é uma poderosa plataforma de desenvolvimento de aplicações wireless que contempla kit de desenvolvimento e plataforma de porta-bilidade para os vários fabricantes de terminais. Uma das vantagens do BREW é que os desenvolvedores podem utilizar seus sólidos conhecimentos em C/C++, aproveitando todo o conhecimento e "skill" de programação já existentes.

O J2ME, de forma semelhante ao BREW, também permite que os desenvolvedores aproveitem a experiência em desenvolvimento de aplicações, mas com a diferença que no J2ME o "JAVA" é usado no lugar de C/C++.

Deixando de lado as comparações e brigas para ver qual dos dois é melhor, o importante de se notar neste momento é que finalmente os desenvolvedores dispõem de toda uma infra-estrutura de apoio técnico e comercial para mergulharem fundo na geração e dis-ponibilização das tão sonhadas e esperadas "Killer Applications" em LBS, queimando as onerosas e enfadonhas etapas de aculturamento em diferentes plataformas proprietárias de terminais, e partindo para um desenvolvimento bem mais simples e universal graças à camada, BREW ou J2ME, que fará a mediação entre linguagens conhecidas da indústria de desenvolvimento e ambientes de hardware/firmware dos terminais dos diversos fabricantes.

Posto isso, agora é mãos à obra e que se abram as cortinas para que o espetáculo possa começar…

Romualdo Henrique Monteiro de Barros é especialista em Serviços para Telefonia Móvel e sistemas de localização. E-mail: rbarros@atribuna.com.br