Em virtude do clima diversificado, das chuvas regulares, da energia solar abundante e de possuir quase 13% da água doce disponível no planeta, o Brasil vem se estabelecendo com expressão no mundo do agronegócio.

Internamente, esse mercado é responsável por 33% do Produto Interno Bruto (PIB), 42% das exportações totais e 37% dos empregos brasileiros. A modernização da atividade rural também contribuiu para esse lugar de destaque, bem como a adoção de programas de sanidade animal e vegetal, que ilustra a função que o Estado deve exercer para perenizar os benefícios econômicos gerados pelo setor.

Esse aspecto deve ser enfatizado frente aos números que a pecuária, em específico, apresenta. O país é dono do maior rebanho bovino comercial do mundo, tendo mais de 83% das suas 183 milhões de cabeças em áreas livres da febre aftosa. O Brasil também é considerado, pelo Comitê Veterinário da União Européia, como “área de risco desprezível” para o “mal da vaca louca”.

Não menos importantes para a economia, encontram-se os setores avícola e o de suínos, que possuem, respectivamente, a segunda e a terceira maior população comercial do globo, sendo que a maior parte do território brasileiro está livre de doenças como a Newcastle e a peste suína clássica. Além disso, o país não registra qualquer caso de influenza aviária.

Rastreador geográfico de sanidade animal

Para manter tal posição, não só o governo brasileiro tem concentrado esforços para evitar problemas de sanidade animal. A iniciativa privada vem contribuindo com investimentos em tecnologias e novas práticas produtivas, em consonância com os cuidados e influência que o mercado externo exerce, principalmente, sobre o setor pecuário.

Um exemplo disso é o Rastreador Geográfico de Sanidade Animal, uma iniciativa de desenvolvimento técnico-científico que teve origem na parceria entre a Universidade do Vale do Itajaí, através do Laboratório de Computação Aplicada (G10) do Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar, e a SEARA Alimentos S.A., uma das maiores empresas produtoras e exportadoras de aves e suínos do país.

A opção da SEARA por um sistema de informação, ao invés da compra de um pacote fechado, encontra justificativa na ausência de um software com as características desejáveis/necessárias para a empresa, ou no elevado custo das soluções a ela apresentadas, sendo estas, por vezes, com base em tecnologias distantes do estado-da-arte requerido pelo mercado externo.

Essas perspectivas levaram a SEARA a investir em um sistema centrado no monitoramento e controle sanitário das unidades de produção da empresa com suporte geoespacial e acessibilidade via internet.

As preocupações da SEARA podem ser compreendidas diante do risco representado por uma epidemia, pelo volátil e competitivo mercado externo e pela magnitude que as transações comerciais significam.

Além disso, comercialmente, ao possibilitar acesso remoto o sistema torna-se um instrumento fundamental de consulta para compradores e governos de seus países, garantindo transparência aos procedimentos de manutenção da qualidade de saúde das unidades de produção.

Internamente, a sistematização e o compartilhamento de dados entre unidades das empresas, entre empresas do setor e entre estas e o governo contribui para o estabelecimento de uma rede de informações que permitirá o acompanhamento, em tempo quase real e em seu componente geoespacial, do estoque para todo o país, disparando um aviso em caso de contaminação e facilitando a orientação de políticas e programas de sanidade animal.

Tecnologias empregadas

A equipe do G10 possui o domínio das tecnologias de informações e de geoprocessamento, fazendo do uso desse know-how em seus sistemas um diferencial de qualidade na apresentação e pesquisa de informações geoespaciais via internet. Em linhas gerais, os sistemas de informação desenvolvidos encontram-se alicerçados no servidor de mapas MapServer e banco de dados com suporte geoespacial Oracle ou PostGRE/PostGIS.

Características funcionais

Dentre as funcionalidades do sistema, merecem destaque as que o diferenciam de outros sistemas de informação, qualificando-o como um sistema com serviço de mapas via web em estado-da-arte, como a seguir apresentado:

A Figura 1 mostra a interface do sistema, com destaque ao menu de customização da área da tela destinada ao mapa (1). Essa é uma das opções do menu do sistema (2), que é composto ainda pelos mapeamentos temáticos (camadas), cálculo de distâncias, consulta geoespacial em tela e análise de vizinhança (buffer).

A interface foi desenvolvida para aproveitar a tela ao máximo na realização de análises geoespaciais. Assim, tanto o menu quanto o mapa de referência dinâmica (3) são flutuantes e podem ser minimizados. Outra funcionalidade importante consiste no registro de um histórico das ações executadas (4), facilitando o retorno à tela preparada/analisada anteriormente.

Interface do Sistema Rastreador Geográfico, com destaque ao menu de configuração da área da tela para o mapa
-> Figura 1 – Interface do Sistema Rastreador Geográfico, com destaque ao menu de configuração da área da tela para o mapa

A figura 2 mostra o menu de mapas ou camadas (5) com a seleção de unidades de produção de frango acionado. Esse menu permite que diferentes temas sejam “ligados” para visualização e consulta. As instalações de produção de frango (6) encontram-se devidamente georreferenciadas, atividade desenvolvida pela equipe de entregas da empresa.

Interface do Sistema Rastreador Geográfico, com destaque ao menu de mapas temáticos (camadas)
-> Figura 2 – Interface do Sistema Rastreador Geográfico, com destaque ao menu de mapas temáticos (camadas)

A análise de vizinhança (figura 3) mostra a funcionalidade primordial do sistema. Através dela, o usuário identifica uma unidade de produção com problemas de sanidade animal e determina uma área circunvizinha (7) segundo um raio de segurança conhecido (buffer). Assim, toda unidade de produção que estiver nessa área será automaticamente selecionada e listada em um relatório em formato HTML ou PDF (8), como unidades de quarentena ou exclusão.

Interface do Sistema Rastreador Geográfico, com destaque ao menu de análise de vizinhança, principal elemento do sistema
-> Figura 3 – Interface do Sistema Rastreador Geográfico, com destaque ao menu de análise de vizinhança, principal elemento do sistema

Essa informação pode ser complementarmente analisada frente a outros dados geoespaciais (figura 4), como estados, municípios, rodovias ou mesmo unidades de produção de outras empresas. A consulta é realizada selecionando-se a área desejada, o que retorna uma lista de informações agrupadas conforme suas categorias (9). Na figura, os temas “estados”, “municípios” e “rodovias” foram consultados.

Interface do Sistema Rastreador Geográfico, com destaque à consulta espacial para unidade de produção
-> Figura 4 – Interface do Sistema Rastreador Geográfico, com destaque ao menu de análise espacial

Os detalhes de um item podem ser observados através da seleção deste. Esse procedimento também pode ser conferido na Figura 5, mas se referindo a dados associados às unidades de produção (10).

Interface do Sistema Rastreador Geográfico, com destaque à consulta espacial para unidade de produção
-> Figura 5 – Interface do Sistema Rastreador Geográfico, com destaque à consulta espacial para unidade de produção

Também é essencial, para efeitos de análise, a possibilidade de cálculo de distâncias, como apresentado na Figura 6. Isso permite a determinação da distância entre dois ou mais pontos (11), com a opção de escolha da unidade de referência (milhas, quilômetros, pés ou metros).

Interface do Sistema Rastreador Geográfico, com destaque ao menu de cálculo de distância
-> Figura 6 – Interface do Sistema Rastreador Geográfico, com destaque ao menu de cálculo de distância

Impactos esperados

As tendências do mercado indicam que informação e conhecimento constituem o maior capital de qualquer empresa. As perguntas sobre o que fazer, como fazer, em quais condições e por quê, tornam a gestão da informação uma necessidade constante. Sistemas de informação são capazes de responder a tais perguntas com rapidez e eficiência, compartilhando dados e coordenando ações entre diversos departamentos.

Um exemplo desse potencial é a geração automática de relatórios e cartas temáticas a partir de dados do sistema. O Rastreador Geográfico de Sanidade Animal também traz à cena o potencial oferecido pelas análises geoespaciais em situações de emergência, como a definição de rotas de transporte para que sejam evitadas as áreas de quarentena e/ou exclusão. Ou seja, a integração com a logística da empresa permite o rastreamento de veículos que eventualmente deverão ter suas rotas de transporte alteradas.

Outra possibilidade é a apreciação das bacias hidrográficas e topografia na delimitação das áreas de quarentena e exclusão. Finalmente, o estabelecimento do sistema traz consigo um importante horizonte em se tratando de certificação de produtos, item indispensável no mercado mundial.

O sistema confirmou-se eficaz durante a crise de febre aftosa no Brasil, ocorrida em 2006. Graças ao Rastreador Geográfico de Sanidade Animal, a SEARA Alimentos S.A. obteve a rápida liberação de suas cargas, ao provar que os animais não vinham de áreas interditadas, e que a rota de transporte evitava-as. A redução dos prejuízos dessa situação já justifica o investimento feito no sistema.

Universidade do Vale do Itajaí – Univali

Rafael Medeiros Sperb
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