O avanço da tecnologia na área de mensuração do relevo e representação de áreas torna necessário o balizamento de aplicações práticas com segurança, de tal maneira a se evitar usos indevidos de equipamentos e procedimentos.

Sabe-se que levantamentos planialtimétricos, topográficos ou geodésicos, são fundamentais, tendo em vista que todos os projetos que envolvam a espacialização de feições necessitam de plantas topográficas.

As coordenadas, fornecidas pelos receptores, são utilizadas para georreferenciar e controlar levantamentos topográficos ou fotogramétricos. Para tanto, é fundamental que os receptores possuam uma precisão compatível com a escala à qual o levantamento esteja sendo realizado, geralmente algo em torno de 20cm para escalas 1:1.000.

Os custos para chegar a uma representação confiável, em relação à escala, dependem da mão de obra empregada, dos programas, das técnicas e equipamentos utilizados. Os preços de receptores GNSS variam muito, sendo os mais acessíveis em torno de 600 reais e os mais robustos em torno de 150 mil reais. Essa variação no preço é basicamente devida à tecnologia utilizada no receptor. Há modelos que são adequados para navegação e outros que são utilizados para levantamentos topográficos, que chegam a ter precisão de 2 a 50 cm, como os receptores geodésicos.

Considerando somente a precisão planimétrica e um erro aceitável para a acuidade visual de 0,2mm, podem-se chegar às seguintes escalas:

1:75.000 com um receptor de navegação e precisão de 15m;

1:250 com um receptor de dupla freqüência e precisão de 5cm.

Para o georreferenciamento de imóveis rurais (Lei 10.267/01), sabe-se que não é admitida a utilização de GPS de navegação, pois não registra as observáveis (pseudodistância e fase da portadora L1), o que inviabiliza o pós-processamento e ajustamento dos dados. Esses receptores somente estimam e armazenam posições. Podem-se citar outros fatores que limitam o uso de receptores de navegação:

Os dados de receptores de navegação geralmente apresentam muitos ruídos;

Não se tem definidos os centros de fase e geométrico da antena;

Não há disponibilidade de filtros de qualidade para os dados registrados, como DOP, máscara de elevação, número mínimo de satélites, intensidade do sinal, etc..

Os itens apontados fazem com que existam poucos critérios para restringir resultados indesejados. No entanto, encontram-se disponíveis na internet programas (Gringo, ASYNC e GAR2RNX) que registram, através dos dados brutos recebidos pelos receptores de navegação, a portadora L1 e o código C/A, o que possibilita o pós-processamento com precisões compatíveis aos levantamentos cadastrais. Esses programas tornam os usuários de receptores GPS de navegação capazes de realizar uma variedade de atividades e aplicações, em função do resultado pretendido, principalmente utilizando o posicionamento relativo. Dentre as atividades, podem estar a agricultura de precisão, levantamentos cadastrais, apoio de campo para correção geométrica de imagens de satélite e, com um programa apropriado, a coleta de atributos para SIG. Mesmo com a utilização desses programas, não se devem executar levantamentos com esses receptores visando atender a Lei 10.267/01.

A precisão posicional planimétrica só é alcançada com o uso da técnica correta de processamento, sendo desaconselhado o uso de receptores de navegação, que não permitem correções diferenciais, em trabalhos que exijam escalas iguais ou maiores que 1:75.000 ou em levantamentos para determinação altimétrica, devido ao erro ser da ordem de 2,5 vezes o erro planimétrico. Para um erro planimétrico de 15m, teríamos em torno de 35m de erro para a altimetria.

A figura mostra uma relação resumida dos receptores, métodos de posicionamento, precisão alcançada (planimetria), escala obtida e custo.

Relação de receptores

Muitos “profissionais” defendem o uso dos receptores de navegação em aplicações cartográficas em função do fator de escala dos produtos. Por exemplo, em uma carta na escala 1:100.000, onde 1mm plotado no papel corresponde a 100m no terreno, o erro posicional torna-se insignificante. Mesmo que o erro fosse de 70m, corresponderia a uma fração do milímetro na carta. Mas quem pensa assim, hoje, se esquece de que a cartografia digital é uma realidade, e devemos primar por resultados mais precisos para beneficiar projetos futuros, que com certeza serão gratos à nossa preocupação no presente.

Wilson Holler
Engenheiro cartógrafo da Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos (Cobrape)
Consultor em geotecnologias
geoquality@gmail.com