Prevenção à entrada de pragas quarentenárias no Brasil

No início dos anos 90, uma praga desconhecida deixou um rastro de devastação nas lavouras de cacau cultivadas na Bahia. A praga, que posteriormente foi batizada de vassoura de bruxa, causou perdas imensas aos produtores do estado. Como resultado, a produção cacaueira do Brasil, que respondia por cerca de 15% da mundial, foi reduzida a apenas 4%. Em 1989, a produção de cacau foi de 390 mil toneladas, sendo que no ano 2000 não passou de 123 mil toneladas. Pragas como essa rondam as lavouras brasileiras, vindas de diversas partes do mundo. Como exemplo mais recente há a Helicoverpa armigera, para a qual sequer foi possível determinar com exatidão a forma de entrada em nosso país.

Uma das formas de caracterização das pragas é a sua qualificação como quarentenária. As pragas quarentenárias são exóticas para um país ou região e podem se movimentar de um local para outro, auxiliadas pelo homem e seus meios de transporte, pelo trânsito de plantas, animais ou frutos e sementes infestadas.

O aumento do trânsito de pessoas entre países nos últimos anos tem ajudado a disseminar as pragas pelo mundo. Entre 1901 e 2014 mais de 68 espécies de pragas exóticas foram detectadas no Brasil, sendo que mais de 20 delas ocorreram nos últimos dez anos.

Ter conhecimento de quais pragas quarentenárias estão por vir, onde podem se instalar e como se dispersam é fundamental, pois nossas fronteiras apresentam uma grande diversidade de condições e situações.

Prevê-se que mais de uma dezena de pragas exóticas poderão entrar no país nos próximos anos, com consequências desastrosas para o agronegócio, que representa 23% do PIB nacional. Entre outros fatores a entrada de pragas quarentenárias pode resultar na diminuição da produção, na contaminação e também na perda de mercado externo.

Consequentemente o país como um todo pode ser impactado negativamente na medida em que podem ser aumentadas as barreiras comerciais dos produtos agrícolas nacionais devido às novas pragas. Sendo assim, é necessário estabelecer com exatidão os possíveis pontos de entrada das pragas no Brasil, visando auxiliar no planejamento e prevenção da entrada de pragas quarentenárias.

Para estabelecer a relação entre prováveis vias de dispersão das pragas e potenciais pontos de acesso pela fronteira terrestre do Brasil, é necessário ter um retrato das condições existentes nos limites territoriais brasileiros com outros países. É esse trabalho que vem sendo realizado pela Embrapa Gestão Territorial.

Um dos projetos compreende a identificação de locais que oferecem maior facilidade a entrada de pragas quarentenárias, na fronteira com os países vizinhos, discriminando: Fronteira terrestre seca; Fronteira terrestre úmida; Presença de floresta; Acesso terrestre (rodovias); Portos nas fronteiras; e Aeródromos. Além de dados cartográficos oficiais (IBGE, DNIT, ANTAQ e ANAC), os dados abertos, como do OpenStreetMap, ampliaram a capacidade de identificar os segmentos e pontos que devem receber mais atenção para o problema. O resultado do trabalho são os segmentos, ou pontos discriminados, como na figura, e disponibilizados para utilização em estudos sobre a entrada de pragas exóticas, por meio de nossas fronteiras com os 10 países vizinhos, e dessa forma ampliar nossa capacidade de monitorar ameaças à produção agropecuária e florestal nacional.

A partir dos dados obtidos é possível realizar estudos que indiquem quais são os segmentos que merecem mais atenção de acordo com as pragas existentes em cada país fronteiriço. Dessa forma poderão ser estabelecidas regiões prioritárias para ações públicas e/ou privadas (empresas, associações ou cooperativas) de prevenção da entrada de pragas considerando a relevância de um segmento em particular e o contexto regional envolvido.

Em breve os dados obtidos no trabalho estarão disponíveis em www.sgte.embrapa.br, no formato de arquivo vetorial shapefile e com uma proposta de representação das feições cartográficas nos formatos *.lyr, *.sld e *.qml.

Wilson Anderson Holler
Engenheiro Cartógrafo, Esp. (UFPR), Supervisor de equipe na Embrapa Gestão Territorial wilson.holler@embrapa.br