Imagens de satélites na sistematização e interpretação de processos

O conhecimento da distribuição espaço-temporal, em seus aspectos quantitativos e qualitativos, é fundamental para o desenvolvimento econômico, social e ambiental de uma determinada região ou país. Para tanto, é indispensável o monitoramento e a análise de informações de forma sistematizada. Duas das possíveis formas de sistematizar dados são o levantamento por meio de censos nacionais (demográfico ou agropecuário) e o levantamento de dados por meio do uso de sensores remotos (imagens de satélite).

No censo demográfico brasileiro, os registros individuais coletados são agregados em unidades de área conhecidas como setores censitários. De acordo com o IBGE, um setor censitário representa “a menor unidade territorial, formada por área contínua, integralmente contida em área urbana ou rural, com dimensão adequada à operação de pesquisas e cujo conjunto esgota a totalidade do Território Nacional, o que permite assegurar a plena cobertura do País”. Em outras palavras, a delimitação dos setores censitários, por definição, é guiada por critérios operacionais. Em casos como esse, no qual o estabelecimento das unidades de área desconsidera a distribuição espacial da população, os resultados gerados sobre os dados são influenciados pela definição espacial das fronteiras destas unidades.

Em análises temporais, as alterações dos limites dos setores censitários para os resultados das análises são muito sérias, dado que podem ser modificados a cada recenseamento. Estudos sob essas condições – sejam eles baseados em cálculos de índice, taxas, modelos de regressão etc. – tornam-se difíceis pela dificuldade em discriminar as mudanças indicadas pelos resultados que de fato ocorreram ou se são distorções provocadas pelas alterações nas delimitações dos setores censitários. Uma opção existente, para trabalhos que considerem análises temporais, é o agrupamento de setores censitários compatíveis para dois ou mais censos, utilizando o conceito de áreas mínimas comparáveis do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Em geral, esse procedimento implica em uma agregação expressiva das informações associadas aos setores e consequente perda de detalhes fornecidos pelos dados originais. Alguns trabalhos propõem outros procedimentos para a compatibilização da geometria dos setores censitários de datas distintas, bem como dos dados associados. Eles desagregam alguns setores censitários, mas permitem integrar dados populacionais com dados do meio físico. Imagens de satélite são utilizadas na identificação e quantificação do meio físico das áreas de interesse e anos dos levantamentos censitários.

O sensoriamento remoto não é uma tecnologia nova, uma vez que as fotografias aéreas têm sido amplamente utilizadas por mais de um século, sem considerar o início de rigores técnicos para sua aquisição e fins métricos, e imagens de satélite por mais de quarenta anos.

Alguns pesquisadores tentam combinar os dados censitários e imagens de sensoriamento remoto nos processos de interpretação. Esses esforços são vistos com frequência na estimativa populacional, mapeamento do uso e cobertura da terra e em fatores de alteração da paisagem em determinadas regiões. Em muitos casos, dados estatísticos dos censos nacionais são utilizados para validar resultados de produtos gerados por técnicas de Processamento Digital de Imagens (PDI) na fase final. O inverso também ocorre, produtos do PDI são utilizados para validar dados censitários.

Alguns trabalhos com dados estatísticos provenientes de censos e dados de sensores remotos mostram que existe correlação entre o desmatamento em determinadas regiões e indicadores do censo demográfico. Estudos apontam uma correlação estatística significante entre a densidade populacional e o desmatamento monitorado por meio de sensores remotos. Outros trabalhos mostram uma correlação entre o crescimento populacional e o aumento da área construída em alguns municípios, indicando que as áreas que mais sofreram transformações ao longo do tempo eram aquelas provenientes de bairros rurais que, então, se tornaram locais residenciais ou comerciais.

A utilização de dados oriundos de sensoriamento remoto permite a atualização de dados sobre a cobertura e, em algumas vezes, o uso da terra com maior frequência, diferente do que acontece com os dados censitários.

Wilson Anderson Holler

Engenheiro Cartógrafo, Esp. (UFPR), Supervisor de equipe na Embrapa Gestão Territorial
wilson.holler@embrapa.br