Por Kátia Góes

O turismo desenvolvido em áreas rurais ou em áreas naturais, enquanto promotor de atividades de lazer para veranistas citadinos sempre existiu. O turismo de outrora, ganhou uma nova “roupagem”, segmentando-se e dando origem a uma pluralidade de tipologias de turismo que hoje podem ser vistos despontando no panorama das listas de opções de programas turísticos disponíveis nas agencias de turismo.

As mudanças não foram unilaterais. De fato, tanto o turismo como o turista se modificaram  no decorrer dos tempos. Aliás, o turismo segmentou-se justamente porque o turista passou a exigir novas opções de lazer, procurando pacotes turísticos mais diversificados, mais sofisticados e até mais exóticos, sem desagregar as opções de lazer e conforto que o turismo tradicional já oferecia anteriormente.

Essas transformações vêm ocorrendo ao longo dos anos e se modificando com uma velocidade surpreendente, demonstrando que o turismo e suas diversas modalidades não se estagnaram, mas, ao contrário, vem se reinventado e se adequando a um novo contexto político-econômico mundial. Hoje a refuncionalização do turismo rural é visto como alternativa viável para pequenos e médios produtores rurais, e pode ser considerada uma atividade econômica que pode ser facilmente incorporada a pequenos e médios municípios rurais.

Todas essas mudanças fazem parte de um contexto maior, estruturado sobre o paradigma de  desenvolvimento sustentável. Este conceito que propõe uma inovação no modelo de desenvolvimento e, conseqüentemente, modificação nas relações sociedade-natureza, apesar de polêmico, paradoxal e divisor de opiniões dentro da comunidade científica, vem penetrando cada vez mais nas esferas ambiental, social e econômica do mundo. É neste âmbito que surge o conceito de turismo sustentável, ou seja, o turismo praticado de forma a promover uma relação harmoniosa entre o homem e a natureza, visando o menor impacto ambiental possível  de forma que as gerações futuras possam também usufruir o patrimônio natural.

A área de estudo para aplicar a metodologia foi o Município de Duas Barras, uma vez que este possui  áreas contínuas de cobertura vegetal, afloramentos rochosos, potencial hídrico com presença de rios, nascentes e cachoeiras; além de belos casarões, em boas condições de conservação, remanescentes arquitetônico do ciclo econômico do café no século XIX. Existem ainda a presença de manifestações culturais populares como Reisado e a Folia de Reis, que tornam Duas Barras uma potência patrimonial tanto natural quanto cultural, importantes para o desenvolvimento do turismo rural.

Neste contexto, o principal objetivo deste estudo foi utilizar ferramentas de geoprocessamento para desenvolver uma metodologia de avaliação de vocação turística em áreas rurais como forma de subsidiar o planejamento do turismo rural cada vez mais forte no estado Rio de Janeiro.

Como objetivos específicos podem ser destacados:
a)Desenvolver indicadores sócio-ambientais e geográficos;
b)Construir mapas temáticos, espacializando as informações alcançadas na construção dos indicadores;
c)Desenvolver análise da vocação turística dos setores censitários rurais com base nos indicadores;
d)Contribuir, sugerindo atividades turísticas que podem ser desenvolvidas em cada setor censitário de acordo com a tipologia de turismo.

Os mapas, indicadores e metodologia gerada neste projeto poderão posteriormente ser aplicado a qualquer outro município e poderão ainda ser utilizado como ferramenta para gestão pública, na Secretaria de Turismo e Cultura, auxiliando no planejamento e tomada de decisão.

Desenvolvimento

O conceito de desenvolvimento sustentável se consolidou por volta dos anos 80, durante a conferência da ONU, em 1987, que deu origem ao Relatório Nosso Futuro Comum1. Entretanto as preocupações com o meio ambiente vinham sendo discutidas desde os anos 70, com o Clube de Roma2 e o Relatório os limites do crescimento, cuja preocupação era identificar os maiores problemas perante o globo. Este grupo desenvolveu um conceito chamado World Problematique (FIESP, 2007).

Neste contexto mundial de preocupações com o futuro planeta, surgiram as conferências de Estocolmo (1972), Vancouver (1976) e Rio-92, no qual um dos objetivos era repensar uma forma de continuar se desenvolvendo economicamente e tecnologicamente, respeitando a resiliência do meio ambiente. Na prática, isso somente seria possível fazendo o uso do recurso natural de forma sustentável, tentando criar assim uma relação harmoniosa entre homem e a natureza, conciliando desenvolvimento econômico, conservação do meio ambiente e bem estar social. Surge assim a definição de desenvolvimento sustentável.

Segundo a CMMAD (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento), “Desenvolvimento Sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de que as gerações futuras satisfaçam as suas próprias necessidades”. A idéia deriva do conceito de ecodesenvolvimento proposto por Maurice Strong e Ignacy, durante a primeira conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Estocolmo, 1972). Em 1987, considerado um dos momentos mais importantes para este novo modelo de desenvolvimento, a Primeira-Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, presidente da Comissão, adotou o conceito de Desenvolvimento Sustentável em seu relatório Our Common Future (Nosso futuro comum), também conhecido como Relatório Brundtland. Em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Cúpula da Terra de 1992 – Eco-92, no Rio de Janeiro, o conceito foi definitivamente incorporado como um princípio. O Desenvolvimento Sustentável busca o equilíbrio entre proteção ambiental e desenvolvimento econômico e serviu como base para a formulação da Agenda 213, com a qual mais de 170 países se comprometeram, por ocasião da Conferência. Trata-se de um abrangente conjunto de metas para a criação de um mundo, enfim, equilibrado.

Assim, esse paradigma reconhece a complexidade e o interrelacionamento de questões críticas como pobreza, desperdício, degradação ambiental, decadência urbana, crescimento populacional, igualdade de gêneros, saúde, conflito e violência aos direitos humanos. Entretanto, mesmo após mais de 20 anos de existência, este tema ainda é muito polêmico e controverso. O paradoxo reside na dificuldade de conceber desenvolvimento e sustentabilidade em um mesmo conceito, quando o referencial de desenvolvimento está ainda muito arraigado a crescimento econômico e este, por sua vez, referenciado aos padrões adotados pela liderança econômica mundial (Oliveira, op.cit). 

Pode ser que Desenvolvimento Sustentável seja uma medida geopolítica de controle e domínio das lideranças econômicas sobre o desenvolvimento dos países emergentes. Entretanto, as mudanças climáticas, a poluição do ar e das águas é bastante real e sinalizam que é necessário frear e reavaliar o referencial de crescimento econômico e conseqüentemente as formas de utilização dos recursos naturais.

Deste modo, cabe refletir o que é se desenvolver de forma sustentável e absorver como práticas os pontos positivos desse paradigma, buscando sempre  um desenvolvimento consciente. Assim, as gerações futuras poderão usufruir de um mundo melhor e mais equilibrado, onde o homem, enquanto ser vivo,  passe a entender-se como parte da natureza e que como tal precisa proteger-se para continuar existindo.

O conceito de Turismo Sustentável surge no contexto do Desenvolvimento Sustentável como alternativa para promover o crescimento econômico através de práticas turísticas que são desenvolvidas sobre as bases da sustentabilidade. Segundo Oliveira (2000) Turismo Sustentável, é o “turismo praticado de forma que promova a qualidade de vida das populações residentes na localidade de destino, respeite a sociodiversidade da comunidade receptora, por meio da conservação da herança cultural das populações e conserve os recursos naturais e paisagísticos deste local”.

No Brasil, este tipo de turismo vem ocorrendo principalmente com os municípios de pequeno e médio porte que foram atingidos pela crise rural nos anos 80 e 90. Os primeiros empreendimentos deste setor originaram-se na Região Sul do país, no estado de Santa Catarina (Rodrigues, 2000). Atualmente, encontram-se concentrado nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Como exemplos podem ser citados: a rota colonial nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (Região Sul), o turismo rural nas fazendas de café do Vale do Paraíba – Sul Fluminense (Região Sudeste) e o ecoturismo nas fazendas do município de Bonito no Mato Grosso do Sul (Região Centro-Oeste).

Neste sentido, o turismo sustentável, destaca-se como atividade de grande potencial onde pode ser aplicado um modelo promovendo crescimento, uma sociedade mais justa e a preservação ambiental; além da valorização da herança cultural de cada sociedade.

Caracterização da área de estudo

O município de Duas Barras situa-se na coordenada 22 graus e 51’ minutos (S) e 42 graus e 52`minutos (Oeste); localiza-se na Região Serrana e na Mesorregião Centro Fluminense (figura 3.1). Possui uma população de 10.334 habitantes, distribuída em uma área de 343,5 km2 e distante da capital cerca de 120 Km. Duas Barras possui um distrito: Monnerat (TurisRio, 2006). 

As altitudes variam entre 550 a 1000m e a sede municipal fica instalada a 530 m de altitude. Sobre a formação geológica, pode-se dizer que as rochas de Duas Barras são compostas por granito pós-tectônico, em geral cinza claro, de gnaisses bandeados dominantemente tonalíticos e gnaisses granitóides de granítica e tonalítica. Quanto a cobertura vegetal, grande parte de Pastagens e vegetação secundária, tendo também presença de floresta montana.

Base cartográfica

A construção da base cartográfica é uma das principais etapas deste trabalho, pois sem estas informações seria impossível calcular os indicadores geográficos e sócio-ambientais e criar mapas temáticos dos resultados.

A base cartográfica do município de Duas Barras divide-se em 3 categorias:Carta Base, em escala de 1:50:000, cuja fonte é o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística);Mapas temáticos, em escala de 1:100.000, cuja fonte é a Fundação CIDE(Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro – Fundação CIDE) e Levantamento de pontos com GPS, dentro do município de Duas Barras, que representam pontos relevantes de comércio, indústria, serviços e  turísticos.

Carta Base – Escala de 1:50.000  – IBGE

As cartas do IBGE foram adquiridas através do site do IBGE, onde se encontra devidamente georreferenciada, em coordenadas UTM e Datum SAD-69, disponíveis me formato digital. Para construir a carta que cobre todo o município da área de estudo, foi necessário unir a carta de Duas Barras mais outras 3 cartas dos municípios do entorno: Cantagalo, Cordeiro e Além Paraíba. As cartas do IBGE possuem os seguintes temas: HD (Hidrografia), HP (Hispsometria), LC (Localidades), LM (Limites Municipais); O1, 2 e3 (Obras), ST (Malha Viária), VG (Vegetação) e RD (Gride). Utilizando recursos de geoprocessamento, os arquivos digitais, em formato  DGN – Microstation DGN,  foram convertidos para arquivos DWG – Autodesk e tiveram suas unidades de medidas convertidas de quilômetro (Km) para Metro (M).

Malha de setores censitários rurais

O arquivo digital da malha dos Setores Censitários Rurais do município de Duas Barras, também está disponível site do IBGE, no qual se encontra em formato SHP (ArcView) devidamente georreferenciado, em coordenadas UTM e Datum Sad-69, e tendo seus setores codificados com  identificação padrão do IBGE para Setores Censitários.

Um ponto importante que deve ser esclarecido sobre setores censitários é que o IBGE os classifica como rural e urbano e que apesar desta diferenciação, ambos possuem o mesmo conjunto de tabelas. Entretanto, quando o município possui população superior a 18 mil habitantes, o IBGE estabelece limites geográficos de setores diferenciados para setores urbanos. No caso de Duas Barras, que possui uma população de cerca de 10 mil habitantes, os limites geográficos dos setores urbanos não recebem limites diferenciados.

Cartas de 1:100.000  – Fundação CIDE

As cartas do uso do solo, faixas de altitude, limites dos municípios e limites do estado do Rio de Janeiro, foram adquiridos no LabGeo que representa o núcleo de geoprocessamento da Fundação CIDE. Neste núcleo fica organizada a grande parte dos produtos cartográficos da Fundação CIDE em escalas de levantamento diferenciadas. Os mapas utilizados para este trabalho têm sua fonte no projeto GEROE (Gerência Executiva de Recuperação e Obras de Emergência), estão em escala de 1:100.000, georreferenciados em coordenadas UTM e Datum SAD-69, e foram produzidas no ano de 1994.

As cartas cobrem todo o estado do Rio de Janeiro, assim utilizaram-se recursos de geoprocessamento para recortar os temas nos limites da área de estudo, ou seja, no município de Duas Barras.

Levantamento de pontos – GPS

Os pontos e fotografias sobre comércio, indústria, serviços e turismo, utilizados neste trabalho, foram adquiridos em levantamento com GPS realizado  pela autora  em 2004, em projeto denominado SIG Duas Barras, onde o objetivo principal era disponibilizar os pontos levantados, as fotografias e outros dados, em um programa de visualização ou SIGWEB. O levantamento foi realizado utilizando GPS do tipo Garmin, acoplado a um computador portátil do tipo LAPTOP, no qual foi utilizado um programa denominado Navegador GPS que gerencia a navegação e a marcação dos pontos, permitindo durante o levantamento inserir informações textuais e fotografias sobre os pontos levantados.  O programa navegador foi desenvolvido pelo Núcleo de Computação Gráfica da Puc-Rio (TECGRAF PUC-Rio) e gentilmente cedido para efetivar este trabalho de 2004.

Dados Alfanuméricos

São considerados dados alfanuméricos, os dados do IBGE sobre o censo demográfico para o ano 2000. Para este trabalho foram utilizados dados sobre abastecimento de água, destinação do lixo, esgotamento sanitário, população, escolaridade e renda. Os dados alfanuméricos mantêm uma relação espacial com a malha dos setores censitários rurais, uma vez que entre eles existe um geocódigo, que tem correspondência com os registros das tabelas de dados do censo demográfico, através de coluna denominada como código do setor. Esta relação espacial possibilitou, através de utilização de recursos de geoprocessamento, gerar mapas temáticos sobre os indicadores sócio-ambientais e geográficos.

Dados do Censo 2000

Entende-se por Setor Censitário como “a menor unidade territorial, com limites físicos identificáveis em campo, com dimensão adequada à operação de pesquisas e cujo conjunto esgota a totalidade do Território Nacional, o que permite assegurar a plena cobertura do País” (IBGE, 2000).

O IBGE disponibiliza, através dos dados agregados, um total de 6 tabelas, que contêm uma série de campos que armazenam informações sobre os setores censitários:
Domicílios – características dos domicílios;
Moradores – moradores por sexo, idade e características do domicílio;
Responsáveis – responsáveis por domicílios particulares permanentes classificados por sexo, idade, alfabetização, anos de estudo e rendimentos;
Pessoa – população residente por sexo, idade e relação com o responsável pelo domicílio;
Instrução – alfabetização da população por sexo, idade, relação com o responsável e instrução do responsável e do seu cônjuge;
Básico – fornece os códigos e os nomes das subdivisões geográficas e a informação básica do cadastro de áreas (totais, médias e variâncias).

Conforme o IBGE (2000), o código do setor censitário é formado por uma combinação de números de 15 dígitos divididos da seguinte forma: UFMMMMMDDSDSSSS, onde:
 UF – Unidade da Federação
 MMMMM – Município
 DD – Distrito
 SD – Subdistrito
 SSSS – Setor

No município de Duas Barras existem 16 setores rurais, onde 10 setores pertencem a Duas Barras e 6 setores pertencem ao distrito de Monnerat. Deste modo, os setores de Duas Barras iniciam com o setor Duas_Barras1-4 e concluí com o setor Duas Barras_10; enquanto os setores de Monnerat iniciam com o setor Monnerat 1-2 e conclui com o setor Monnerat-6. Essa nomenclatura adotada será utilizada ao longo do desenvolvimento deste trabalho.

Metodologia

A metodologia de análise da vocação turística foi construída desenvolvendo-se sobre duas vertentes distintas de análise turística. A primeira, quantitativa, inspirado em Veiga & Xavier (2006), baseia-se na construção de  índices utilizando dados sócio-econômicos (dados do IBGE – Censo 2000) e geográficos (dados geomorfológicos, declividade, hidrografia, etc). A segunda, qualitativa, inspirado em Rodrigues (2000), utiliza imagens fotogramétricas para identificar as diferentes unidades de paisagens  e a partir daí sugerir tipologias de turismo próprias para serem desenvolvidos nestes locais.

Com base nestas metodologias, esta fase da pesquisa dividiu-se em 3 etapas  distintas:
1)Construção e tabulação dos indicadores aplicando similarmente a metodologia de Xavier;
2)Detalhamento dos indicadores em fichas metodológicas;
3)Análise dos indicadores, classificando-os, em tabelas, quanto aos aspectos sociais, naturais e artificiais, conforme Rodrigues.

Etapa1: Construção dos indicadores

Indicadores sócio-ambientais: A escolha da expressão sócio-ambiental derivou-se da classificação de indicadores de sustentabilidade do IBGE – IDS, no qual este grupo formado por 4 indicadores, apresenta 1 indicador de dimensão ambiental, na área de saneamento, e 3 indicadores na dimensão social na área de população, trabalho e rendimento e educação.  As tabelas dos dados agregados dos setores censitários do Rio de Janeiro, sobre domicílios, moradores e básicos, foram os principais dados de entrada para o desenvolvimento dos indicadores sócio-ambientais de Duas Barras.

Neste conjunto localizam-se os seguintes indicadores:
a)Infra-estrutura em Saneamento: Indicador do tipo composto (índice), originado da tabela de domicílios, onde foram extraídos dados sobre abastecimento de água, destinação do lixo e esgoto.  Com base nestas informações, calculou-se o percentual das condições de saneamento dos domicílios e em seguida o índice em relação ao município;
b)População: Indicador do tipo simples, cujos dados foram extraídos da tabela moradores. Para este indicador utilizou-se diretamente o campo com a informação sobre o número de moradores. Sobre este, calculou-se diretamente o índice em relação aos municípios.
c)Escolarização: Indicador do tipo simples, cujos dados foram retirados diretamente da tabela básica. Para este indicador utilizou-se o campo, média de anos de estudo e a partir daí calculou o índice em relação ao município.
d) Renda: Indicador do tipo simples, no qual utilizou-se o campo renda média nominal mensal da tabela básica. A partir daí calculou-se o índice em relação ao município. 
Indicadores Geográficos: Segundo Chistofoletti (1999 p.173), nesta temática sobre indicadores de sustentabilidade, praticamente não existem indicadores elaborados sob a perspectiva geográfica ligados aos componentes do geossistemas. O autor utiliza a expressão, indicadores geográficos, e referem-se a estes como os indicadores que possibilitam selecionar quais as características das formas topográficas e dinâmicas dos processos geomorfológicos. O autor salienta ainda que “quando se deseja estabelecer indicadores, geomorfológicos ou geográficos, para analisar a sustentabilidade ambiental é relevante escolher a unidade espacial básica para o referencial analítico, podendo-se neste caso utilizar uma área delimitada por diversos critérios (limites administrativos, quadriculas, etc)”.

Com base neste conceito, adotou-se a expressão, Indicador Geográfico, para classificar os indicadores com informações sobre o uso do solo, faixas de altitude, acessibilidade e concentração de pontos relevantes sobre indústria, comércio, serviços e turismo, de diferentes fontes, que gerados a partir de análises espaciais do tipo “overlay” (cruzamento e recorte de áreas) efetuados com ferramentas de Sistema de Informação Geográfica (SIG), disponíveis nos programas: Autocad Map 3D – 2008, ArcView 3.2 e Arcgis 9.0.  O esquema abaixo ordena a construção dos indicadores sócio-ambientais e geográficos, demonstrando as respectivas fontes (Figura.1).

Figura 1
Figura 1. Fluxograma da Modelagem dos indicadores  sócio-ambientais e geográficos

Os Indicadores foram totalizados em tabelas contendo percentuais e índices e organizados de forma que as colunas representam setores censitários e as linhas representem os indicadores. Assim, pode-se ter uma visão individualizada, por setor, facilitando a interpretação qualitativa que ocorreria em seguida.

Etapa 2: Fichas Metodológicas

A utilização da ficha metodológica (Kronemberguer, 2005) foi introduzida neste trabalho para facilitar a organização das informações e descrever detalhadamente as etapas de construção dos indicadores. A adoção deste procedimento auxiliará no futuro a utilização desta metodologia por outros pesquisadores que desejam reproduzir estes mesmos passos ou adaptar estes indicadores a outras fontes de dados.

De acordo com a ficha adotada devem ser respondidas para cada indicador as seguintes questões:
a)Nome do Indicador;
b)Breve Descrição do Indicador;
c)Relevância do Indicador para o Desenvolvimento Sustentável;
d)Alcance (o que mede o indicador);
e)Limitações (O que não mede o indicador);
f)Fórmula do Indicador;
g)Definição das variáveis que compõem o indicador;
h)Cobertura ou escala do Indicador;
i)Fonte(s) dos dados;
j)Periodicidade da série histórica disponível;
k)Relevância para a tomada de decisão;
l)Tabelas dos Dados;
m)Gráfico ou outra representação.

Etapa 3: Análise dos aspectos sociais, naturais e artificiais

Conforme citado anteriormente, os indicadores deram as diretrizes para diagnosticar os aspectos sociais, naturais e artificiais de cada setor individualmente. Para avaliar os aspectos sociais, foram analisados os indicadores socioeconômicos desenvolvidos sobre infra-estrutura em saneamento – que informa a situação de abastecimento de água, destinação do lixo e esgotamento sanitário dos domicílios do município; o indicador de população – que quantifica a população de cada setor; o indicador de escolarização – que identifica a média de anos de estudo de cada setor e por ultimo o indicador de renda – que identifica a renda média nominal mensal por setor censitário. 

Já a análise dos aspectos naturais e artificiais foi identificada a partir dos indicadores geográficos, como indicador de uso do solo – classificado como aspecto natural e artificial – que identifica as classes de usos existentes em cada setor censitário, podendo ser classes naturais como florestas e afloramentos rochosos ou classes artificiais, como área urbana ou agrícola; o indicador de faixas de altitude, classificado como aspecto natural – informa a variação de faixas de altitude encontradas dentro dos setor censitários; o indicador de acessibilidade, classificado como aspectos artificiais – identifica faixa de distanciamentos dos setores em relação a malha rodoviária existente no município e por último o indicador de pontos relevantes, também classificados como aspectos artificiais – identifica concentração de pontos  comércio, industria, serviços e turismo de cada setor.

Foram ainda acrescentados à análise como aspectos naturais, informações sobre a hidrografia – onde descreveu-se a densidade hidrográfica de cada setor – citando a existência de rios, ribeirões e córregos mais importantes do município; informações sobre Serras – citando nomes das serras, quando esta se se encontra nos limites do território de algum setor e por último, Vales – que formam interpretados com base no mapa de faixas de altitudes.  O fluxograma demonstra as etapas desta análise  (Figura.2).

Figura 2
Figura 2 : Fluxograma do modelo de análise da vocação turística

Avaliação da vocação turística

A qualificação do tipo de turismo consiste em analisar os aspectos sociais, naturais, artificiais, positivos e negativos de um setor e a partir destes parâmetros procura-se identificar uma ou mais vocações turísticas para o setor. A análise ainda contém propostas de atividades, de acordo com a tipologia de turismo, que podem ser desenvolvidos em cada setor. Por exemplo, se determinado setor apresenta um elevado percentual de Floresta Estacional ou Secundária e baixo percentual de pontos relevantes e infra-estrutura de saneamento, significa que este setor tende a ter maior vocação para desenvolver turismo ecológico. Por outro lado, se um outro setor apresenta elevados percentuais de concentração populacional, de pontos relevantes de comércio, serviços e turismo, com grande número de edificações históricas, boa infra-estrutura em saneamento e acessibilidade, significa que este setor tem maior propensão a desenvolver vocação para o turismo histórico-cultural.

Para avaliar a vocação turística dos setores censitários de Duas Barras, foram consideradas as tipologias de turismo rurais, disponíveis no documento: Diretrizes para o Desenvolvimento em Áreas Naturais no Estado do Paraná (SETU, 2000), onde foram consideradas as tipologias de turismo ecológico, turismo rural, turismo de aventura e turismo  histórico-cultural.

Para viabilizar a análise da vocação turística, os dados qualitativos forma tabulados, permitindo uma visão integra, facilitando a identificação da vocação turística para cada setor. A partir dos indicadores sócio-ambientais e geográficos e análise dos aspectos sociais, naturais e artificiais, gerou-se o mapa de vocação turística (Figura 3).

Figura 3
Figura 3: Mapa da vocação turística

Considerações Finais

A pesquisa realizada para Duas Barras, consistiu na aplicação de dois modelos articulados. O primeiro modelo refere-se ao desenvolvimento dos indicadores sócio-ambientais e geográficos, enquanto o segundo propiciou a identificação da vocação turística. Esta prática permitiu fazer um diagnóstico das condições sócio-ambientais e geográficas do município, dentro do contexto proposto pelo trabalho.

Entretanto, para que se caracterize o turismo sustentável é necessário que as ações sejam articuladas com a população local, viabilizando a gestão participativa, onde devem ser estimulados fóruns, reuniões, oficinas de arte e educação ambiental, para população e seus líderes, de forma que estes sejam conscientizados da importância cultural, histórica, ambiental e social da região, fortalecendo desta forma a cidadania, manifestações culturais e as ruralidades dos municípios.

O fato de ter utilizado os setores censitários como unidade  de análise, permitiu fazer a avaliação detalhada dos dados socioeconômicos e ambientais, aproximando e capacitando as análises desenvolvidas para as diretrizes do desenvolvimento sustentável.

Deve-se ainda salientar que o modelo desenvolvido para Duas Barras mostrou-se viável como uma possível ferramenta de identificação de vocação turística e que pode ser utilizado em qualquer outro município.

Este trabalho não encerra aqui, devendo em uma próxima etapa acrescentar o mapeamentos das rotas turísticas existentes na região. Uma outra proposta que já está em desenvolvimento é a disponibilização desta pesquisa em um SIGWEB (SIGTUR-Rural),  facilitando o acesso para turistas que se interessam por Turismo Rural.

Segundo Rushmann (apud Fialho, 2000), “ a atividade rural deve ter como objetivo a sustentabilidade, ou seja, administrar os ambientes, os recursos e as comunidades receptoras, conciliando as necessidades econômicas e sociais preservando a integridade cultural. Deve também proporcionar a distribuição eqüitativa dos benefícios da atividade entre a comunidade e os visitantes, gerando aumento do nível de bem-estar para ambos”.

Kátia Góes
Especialização em Análise Ambiental e Gestão do Território
Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE)
Rio de Janeiro  – RJ – Brazil
katia.goes@katiagoes.com