Efeitos Antrópicos Ocorridos na Bacia Hidrográfica de Várzea das Flores (MG)

Por Davi Rosa e Djalma Santos, alunos do curso de Engenharia de Agrimensura da Faculdade de Engenharia de Minas Gerais – FEAMIG.
Orientador: Ailton

Resumo

Este trabalho tem o intuito de mostrar, os efeitos antrópicos ocorridos na Bacia Hidrográfica de Várzea das Flores, localizada nos municípios de Contagem e Betim em Minas Gerais. O local é utilizado pela população como área de lazer para pesca e banho. Pessoas de melhor poder aquisitivo, têm adquirido as áreas no entorno para residências e obras que provocam desmatamento e movimentação de terra. O objetivo principal do presente estudo é analisar as ações antrópicas que contribuíram para a degradação da Bacia Hidrográfica de Várzea das Flores desde o seu surgimento na década de 60, até os dias atuais. A metodologia utilizada foi a de revisão de literatura complementada com um estudo de caso específico.

Palavras-chave: Bacia Hidrográfica; população; desmatamento; movimentação de terra.

Introdução

A Bacia Hidrográfica de Várzea das Flores esta situada entre os Municípios de Contagem e Betim no estado de Minas Gerais, tendo papel importante no abastecimento de água para esses municípios e um pouco a Belo Horizonte.

O local por sua beleza natural é utilizado pela população como área de lazer para pesca e banho. Em contra partida pessoas de melhor poder aquisitivo, têm adquirido áreas no entorno da Bacia para contrução de residências e atividades voltadas ao lazer, provocando parcelamento de áreas e consequentemente execução de obras que ocasionam o desmatamento, a movinentação de terras e a degração desse biosistema de uma forma geral.

Com expansão urbana invadindo os sítios, chácaras e fazendas que vão cedendo espaço para os bairros, cujos loteamentos eram aprovados sem a intervenção de leis que inibissem a ocupação em áreas de nascentes e vertentes íngremes. O aumento do crescimento demográfico, advindo da industrialização, provocou profundas modificações ambientais que comprometem a conservação dos recursos naturais e a qualidade de vida da população local.

Este trabalho procura identificar as principais ações feitas pelo homem que de forma acelerada vem degradando ambientes e ecossistemas que são de fundamental importância para a boa qualidade de vida da população que vive no entorno da Bacia Hidrográfica de Várzea das Flores.

O objetivo principal do presente estudo é analisar as ações antrópicas que contribuíram para a degradação da Bacia Hidrográfica de Várzea das Flores desde o seu surgimento na década de 60, até os dias atuais.

A estratégia aqui utilizada foi a da pesquisa qualitativa no qual buscou-se fazer uma análise das informações coletadas através da literatura existente sobre o tema e de um estudo de caso específico. Conforme Gil (1999), a pesquisa qualitativa assume diferentes significados no campo das ciências sociais. Compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados. Tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social. Daí a necessidade dos estudos serem realizados a partir da elaboração de amostras vindas de livros e artigos de conceituados autores e de pesquisa de campo.

Materiais e Métodos

O método científico pode ser traduzido como um caminho a ser percorrido desde a identificação do objeto de estudo até o término da investigação científica, quando se chega aos objetivos propostos. A escolha da metodologia deve ser criteriosa, levando em consideração as hipóteses levantadas que serão tratadas na pesquisa e os recursos disponíveis, de modo que as etapas da investigação científica se tornem claras e objetivas. O método por si só não garante o sucesso da investigação científica. Os conhecimentos teóricos e filosóficos são a base para a observação, avaliação e discussão dos resultados. Por isso, deve ser feita uma revisão do que já foi feito e da evolução científica na área do conhecimento que está inserido o tema proposto na pesquisa científica.

Os procedimentos para a elaboração da presente pesquisa foram baseados na metodologia utilizada por Conti e Furlan (2003). Tal metodologia visa determinar alterações ocorridas na bacia hidrográfica através de observações e levantamentos do meio físico, do uso e ocupação da terra, entre outros.

Localização geográfica da área aqui pesquisada

A represa de Várzea das Flores está situada nas coordenadas geográficas 19° 55′ 15” S e 44° 10′ 23″ W. O perímetro da represa é de 54 km, numa área inundada de 5,5 km², com volume de água na cota 838,78 m de 44×10 000 000m³, profundidade máxima de 21m e comprimento do braço principal de 7,5 km. A área de domínio da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) é definido pelo espelho d’água até a cota 842. Acima desta cota, os terrenos são de propriedade particular.

Figura 1: Imagem aérea do local. Fonte: Prefeitura Municipal de Betim (2010).

A partir da década de 1970, a região passou a ser marcada definitivamente por esse empreendimento: por um lado, o lago era visto pelos moradores das imediações como uma opção de lazer, por outro, toda a área de drenagem da bacia ficava comprometida com a fonte de abastecimento de água.

Estabeleceram-se conflitos de uso: da água – abastecimento, para consumo humano versus balneário, lazer, esporte náutico, e do solo, preservação das condições de permeabilidade, da vegetação, das nascentes versus uso rural, parcelamento do solo, uso urbano.

Figura 2: Imagem de satélite do local. Fonte: Google Maps (2010).

A represa Várzea das Flores, além de ser um importante reservatório de abastecimento de água para os municípios de Betim, Contagem e Belo Horizonte, é um contribuinte para a sub-bacia do Paraopeba que, por sua vez pertence à Bacia Federal do Rio São Francisco. O local, pela sua beleza natural, é utilizado pela população do entorno de baixo poder aquisitivo, como área de lazer para pesca e banhos. Ao mesmo tempo, pessoas de melhor poder aquisitivo, têm adquirido as áreas no entorno para residências e atividades voltadas ao lazer, provocando o parcelamento de áreas, antigamente constituídas por grandes fazendas e conseqüentemente execução de obras que provocam desmatamento e movimento de terra.

Alguns parcelamentos voltados para a atividade agrícola são utilizados de forma inadequada, explorando suas terras sem orientação de órgãos de apoio ao produtor rural e sem um planejamento da aplicação de técnicas ambientais corretas, preocupadas com a legislação vigente e com o desenvolvimento sustentável dos recursos naturais. O resultado disso é a degradação dos recursos hídricos e dos ecossistemas da região.

Análises

A área em estudo é resultado de longo processo de estruturação e o conhecimento da evolução geológica e climática é a base para o entendimento da estruturação das paisagens. De certa forma é a geologia e as condições climáticas que controlam a evolução das formas, a pedogênese, a distribuição da rede de drenagem, os diferentes processos erosivos, a formação dos aqüíferos subterrâneos, a distribuição da vegetação e outros elementos físicos que interferem na organização e ocupação das paisagens.

Para caracterizar a paisagem devem ser considerados todos os seus componentes que, através de uma interação, vão determinar a síntese da estruturação paisagística. A estruturação geológica, os processos geomorfológicos que vão determinar a evolução das formas de relevo, o regime hidrológico e a ação antrópica são os principais agentes formadores das paisagens.

As composições vegetais encontradas na bacia hidrográfica de Várzea das Flores  foram quase totalmente destruídas. Por isso são raros os lugares onde a fisionomia original das formações vegetais ainda não foi alterada. No que ainda sobrou da vegetação natural são encontradas manchas de matas.

A cobertura vegetal predominante na bacia hidrográfica de Várzea das Flores é originária da ação antrópica. Na área dissecada predominam as áreas de habitação. Nas superfícies tabulares ocorrem os reflorestamentos de pinus e eucalipto, as culturas anuais, e as pastagens plantadas.
Na área pode ser identificados um arranjo paisagístico, que foram definidos com base na compartimentação topográfica, na composição e uso da estrutura superficial da paisagem e na sua dinâmica. Em tal bacia hidrográfica existem áreas com campos hidromórficos, ou seja, localizam-se preferencialmente nas áreas mais elevadas e nas baixas vertentes circundando os cursos d’água. São caracterizadas por extensos “brejos” que aparecem em áreas depressionais de topo, próximo às cabeceiras de drenagem, nas vertentes e fundos de vale, sempre relacionadas à intensa umidade. Estas áreas possuem feições diferenciadas. Vão desde lagoas temporárias e campos de murundus até campos higrófilos e campos de várzea.

Bacia hidrográfica de Várzea das Flores: uma paisagem antropogenizada

No princípio a área era desvalorizada do ponto de vista econômico, com solos ácidos e pobres. As técnicas de manejo nestas áreas se resumiam apenas a queimadas periódicas para a renovação das pastagens naturais. O início da ocupação antrópica das áreas da bacia hidrográfica de Várzea das Flores se deu a partir do momento em que a área foi vista como área de habitação, onde a implantação de loteamentos registrados e autorizados nas décadas de 60 e 70, sem infra-estrutura como água, esgoto e coleta de lixo e, ainda, desconsiderando questões ambientais, como conservação de áreas de preservação permanente, ocupação de vertentes, além dos problemas gerados com moradia, pavimentação, educação, emprego, saúde e transporte, trouxe grandes problemas para o local.

Os reflexos da ação antrópica nas paisagens da bacia hidrográfica de Várzea das Flores

A Bacia hidrográfica de Várzea das Flores é uma área que passou por uma intensa ocupação antrópica nos últimos anos, que levou a criação de novos e complexos ambientes. Objetivando aumentar a produção agrícola (inadequada) houve uma apropriação indiscriminada dos recursos naturais com graves reflexos ambientais, principalmente na drástica redução da biodiversidade, com a extinção da maior parte da flora e da fauna e com a intensa degradação da área.  A ocupação destas áreas desencadeou o processo de descida de materiais superficiais para as depressões úmidas dos topos.

Outro impacto ambiental provocado pela agricultura capitalista (inadequada) está relacionado com o uso de produtos químicos altamente tóxicos, para corrigir os solos e controlar as pragas, objetivando altas produtividades. O uso de fertilizantes e agrotóxicos são utilizados na área em estudo. Diante disso, cresce a preocupação com os recursos hídricos da área. Além do perigo da contaminação eles já se encontram altamente degradados.

Conclusão

Na bacia hidrográfica de Várzea das Flores o uso inadequado dos recursos naturais e a sua degradação podem trazer conseqüências locais e regionais. A área encontra-se em desequilíbrio ambiental com graves reflexos no sistema hídrico.  A bacia hidrográfica de Várzea das Flores deveria passar por um rezoneamento ambiental, onde a agricultura retrocederia para a reconstituição das áreas degradadas, de forma que, mesmo depois de um longo tempo, estas paisagens buscassem novamente o equilíbrio. E também a área habitacional tão requisitada, deveria se conter e encontrar meios onde pudesse existir sem prejudicar a área local, ou seja, viver em comunhão com o meio ambiente e preservá-lo.

A área aqui analisada deveria ser protegida, pois é um dos atrativos da região. Diante disso, entender um pouco mais sobre a fisiologia deste local diante da ocupação antrópica e propor alternativas para um aproveitamento mais racional e sustentável dos recursos naturais levarão a um possível re-estabelecimento do equilíbrio desta paisagem.

Referências

CONTI, J. B.; FURLAN, S. A.. Geoecologia: o clima, os solos e a biota. In: ROSSI, J. L. Geografia do Brasil. Editora da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2003;

GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999;

GOOGLE MAPS. Disponível em: http://maps.google.com.br/. Acesso em: novembro de 2010;

PREFEITURA MUNICIPLA DE BETIM. Histórico da Várzea das Flores. Disponível em: http://www.betim.mg.gov.br/prefeitura_de_betim/secretarias/meio_ambiente/varzea_das_flores/39056%3B42369%3B07243116%3B0%3B0.asp. Acesso em: novembro de 2010.